*Por Brunna Condini
Silvero Pereira é um artista multifacetado e faz chegar sua voz ao público de muitas formas. Se ele emocionou e ensinou como o peão Zaquieu em ‘Pantanal’, agora sobe aos palcos com um tributo a Belchior (1946-2017), artista natural do Ceará como ele. No projeto ‘Silvero interpreta Belchior‘, que estreou em Fortaleza com sucesso de público e, agora, vem ao Rio, o ator e cantor passeia por grandes sucessos do compositor, evocando suas letras potentes e nossa memória afetiva com as canções. “O espetáculo tem dramaturgia. As músicas foram escolhidas em uma ordem de contação de histórias, exaltando o orgulho nordestino. Belchior é atemporal e sua obra precisa ser vista e revisitada por diversas gerações. Ele, ainda hoje, fala de um lugar presente, passado e futuro. Seus versos são como ‘faca e corte’ na alma. Não é sobre ouvir suas músicas, mas sim atentar para suas palavras e se deixar refletir como indivíduo e sociedade”, diz o artista que aprendeu a apreciar a música de Belchior ainda na infância, em casa. Nascido em Mombaça há 40 anos, Silvero, que faz questão de enaltecer suas origens ao longo da carreira, comenta sobre a xenofobia em relação ao povo nordestino que ainda perdura em nossa sociedade, e que tanto Belchior, quanto ele, enfrentaram.
Durante muito tempo sofremos com a xenofobia escancarada e descriminalizada, quase naturalizada. Hoje, os nordestinos estão conseguindo respeito, mas ainda não podemos baixar a guarda. Logo, é preciso falar de orgulho nessa geração para construir esse sentimento ainda mais poderoso e anular a discriminação. A sociedade ainda é preconceituosa em todas as instâncias. Acho que conseguimos amedrontar os preconceituosos a partir das lutas e conquistas na lei, porém eles ainda existem – Silvero Pereira
A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
E pela dor eu descobri o poder da alegria
E a certeza de que tenho coisas novas
Coisas novas pra dizer – Belchior , trecho da música ‘Fotografia 3×4’
Inspirado e inspirando
No programa Altas Horas especial de homenagem à Xuxa Meneghel, que completou 60 anos nesta segunda-feira (27), o ator emocionou a apresentadora e a plateia ao contar que Xuxa se tornou uma de suas primeiras inspirações gays. “Eu não sou da época do RuPaul, então a Xuxa pra mim era o RuPaul. Eu botava a toalha na cabeça, colocava a roupa da minha mãe e dançava as músicas da Xuxa. Um dia uns amigos me viram, porque eu fazia isso escondido, e passaram a me chamar de ‘paquito’. Gritavam no portão de casa. E eu tive muito medo na época”, contou no programa. “Sempre fui uma criança viada, desde pequenininha, e como criança viada do interior do Ceará, a TV era meu lugar por onde via o mundo. Não tinha nada de arte na minha cidade, e eu sempre soube que queria ser artista”, disse Silvero.
Sobre a LGBTfobia que sofreu ainda criança, ele acrescentou ao site: “Vivi uma infância bem marcada pela busca da masculinidade de forma tóxica e isso me trouxe várias inquietudes sobre meu jeito de ser e ser feliz. Hoje, com 41 anos me sinto livre e um porta-voz na tentativa de alertar pais e crianças sobre essas violências e como elas podem atrasar a evolução e felicidade de uma pessoa”.
E celebra o fato da apresentadora vir ocupando nos últimos anos um lugar de potência militante, de causas que estão em evidência na sociedade. “Xuxa é referência de alegria e liberdade. Ela é alguém que sempre trouxe a mágica para as nossas vidas, uma maneira de fugir da realidade violenta. Xu é esperança! Só acredito em artista que se posiciona e critica as desigualdades. Se não faz parte de um questionamento ao sistema, não faz arte, pois não constrói observando ao seu redor”, frisa o artista, que também faz questão de fazer valer sua voz em relação aos temas que acredita serem relevantes e urgentes.
Na ficção e no reality
Silvero revela os sonhos como ator na TV: “Ainda desejo construir personagens fora da minha identidade LGBTQIAPN+. Também quero muito fazer um vilão ou uma comédia das 19h”.
Fã do Big Brother Brasil, ele anda acompanhando na internet a repercussão do que rola na casa, como o episódio de intolerância religiosa com Fred Nicácio, que acabou de voltar para o jogo após a escolha do público na repescagem. “Não tenho acompanhado pela TV por conta dos meus shows e produções que estou gerenciando. Entretanto, impossível não saber o que acontece no BBB se você é uma pessoa minimamente envolvida com redes sociais. Esse caso do racismo e intolerância religiosa é um assunto forte na nossa sociedade é precisa ser pauta constante para tentar alterar e reconstruir pensamentos. Não acho que Fred voltou por conta disso, embora tenha sido marcante. Ele volta por que movimenta o jogo e causa entretenimento”. O ator já admitiu que toparia entrar no reality caso fosse convidado. Esse desejo continua? “Amo o BBB! Confesso que me preocupa como iria me comportar 24 horas em observação, mas acho uma experiência louca e maluquice é um desafio que me instiga”.
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