Semana de música de câmara chega à Cidade das Artes com direito a concertos e aulas ministradas por artistas internacionais


Simone Leitão, idealizadora do festival, garantiu que os ritmos clássicos têm sido melhor recebidos: “Está ficando mais informal e comunicativa”

As notas de piano são ainda mais doces em suas mãos. Simone Leitão é recitalista, camerista e solista de orquestras e tem uma carreira ativa em vários continentes. A mineira, formada em música pela UniRio, rodou o mundo para aprender ainda mais sobre sua paixão. O resultado? Um mestrado na Noruega, cursos na Suíça, um professor francês na Dinamarca, uma professora russa no Brasil e um doutorado nos Estados Unidos. Além de ser aluna – das boas, também já esteve do outro lado. Deu aulas na China e na Universidade de Miami. Porém, seu coração bate em ritmo mais intenso em festivais.

São dela projetos como “Academia Jovem Concertante”, a “Semana Internacional de Música de Câmara do Rio de Janeiro”, que completa quatro anos em 2015, e a “Semana Internacional de Música de Câmara de Belo Horizonte”, que começou em 2014. “Voltei para o Brasil no final de 2011 e senti que a produção de música de câmara estava diminuindo, tímida, e ela é a base tanto para formação de artistas como do público. Conversei com algumas pessoas e todo mundo achava que um festival fazia falta. Eu sou meio maluca e levei para mim. Foi também uma questão pessoal. Sou do interior de Minas e quando comecei a estudar piano, sentia falta de orquestras e teatro”, contou. A ideia foi tão importante que virou parte do calendário oficial carioca e ganhou nome: “Rio Music Week”.

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Simone é pianista e acredita que a música erudita tem conquistado cada vez mais as pessoas (Foto: Divulgação)

Único festival de sua categoria no Brasil, a semana internacional de música de câmara será entre os dias 8 e 17 de outubro e contará com concertos e atividades de integração como workshops e masterclasses. A ideia é oferecer um espaço de troca entre jovens concertistas e artistas renomados. “Os workshops são para inscritos e selecionados, mas qualquer estudante no nível de performance pode ir às masterclasses”. E já tem aula disputada. Pinchas Zukerman, o israelense considerado maior violinista do mundo, que chega ao Rio de Janeiro para reger a Orquestra, dividirá sua sabedoria com um grupo sortudo. Simone, que está à frente da academia jovem concertante, vai além: “Esse ano resolvi colocar todos juntos em um hotel da Barra, então os mais novos terão essa imersão de ensino. Virão nove artistas da Dinamarca, que são professores lá. Quem sabe naturalmente surjam convites?”, levantou. Entre os iniciantes, um quarteto da Paraíba e um concertista do Maranhão estarão presentes.

Mesmo com tanta gente de fora, o Rio de Janeiro não poderia deixar de ser homenageado quando completa 450 anos. Para isso, cada noite, obras de compositores cariocas ou que tem forte ligação com a cidade marcarão os espetáculos. E o primeiro dia não poderia começar melhor: Villa Lobos. “No final terão obras de Radamés Gnattali, que inscreveu o trio de câmara de chorinho. O choro é a forma artística musical mais carioca que existe e misturá-lo com o clássico é uma homenagem que é a cara do Rio. Vai ser elegante”, disse.

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Simone é a idealizadora da semana de música de câmara do Rio de Janeiro, que já entrou no calendário oficial da cidade (Foto: Divulgação)

A idealizadora do evento acredita que há cada vez mais abertura e espaço para a música erudita no Brasil. “Ainda existe isso de clássico ser elitizado, mas o país tem crescido muito e há projetos de inclusão social através de orquestras. Isso, aliado ao fato de que atualmente é mais fácil chegar a qualquer ambiente, contribui para que a música clássica seja melhor aceita”. Por isso, além da série de exclusivos concertos na Sala de Câmara da Cidade das Artes, que já recebe a “Rio Music Week” há dois anos, haverá uma apresentação especial no Theatro Municipal de Duque de Caxias. “Fizemos uma série em Caxias em 2013 e foi super bem recebido. É uma municipalidade vibrante. O concerto será mais interativo, com pessoas subindo ao palco. A música clássica está cada vez mais informal, comunicativa”.

Ainda assim, Simone reconhece a dificuldade de atingir o público. “Fizeram um estudo que concluiu que menos de 5% dos brasileiros consome música clássica, mas em vez de olhar e lamentar eu penso que tem 95% de mercado para alcançar. A China foi convertida em um trabalho contínuo e, atualmente, tem cerca de 40 milhões de estudantes de piano. A demanda vai sendo criada. Por mais que seja difícil, existem caminhos sendo abertos, tanto de espaço como de público. A ideia é ocupá-los”, afirmou. Para isso, vende ingressos a preços populares. Por R$20 e R$10 é possível assistir ao festival erudito e ajudar em uma boa causa. “A renda é revertida em instrumentos para doação. No ano passado e nesse estamos ajudando a orquesta da Grota de Surucucu, em Niterói. São sempre projetos sérios”, garantiu.

Ela, que nunca pensou em tocar outro instrumento – apesar de já ter estudado vários, contou que ainda fica nervosa antes de subir ao palco. “O bom de tocar o mesmo a vida inteira é que você cresce junto com ele. O piano faz parte de mim, temos intimidade. Adoro aprender, ensaiar. A única parte que eu não gosto é a última meia hora antes de entrar no palco, porque não dá para estudar mais”, brincou ela, que sempre soube que gostaria de se dedicar à produção musical no país.

Enquanto a semana de música de câmara de 2016 não acontece, a pianista tira um tempo para si e já tem um próximo trabalho: “Acabei de fechar, vou gravar um CD solo na Noruega no começo do ano que vem”, contou, em primeira mão. Ainda assim, não para de pensar no evento e já tem propostas para manter o festival até 2018. “O do ano que vem já está formado, com todos os artistas. O de 2017 já estou organizando”. Se os músicos mudam a cada ano, o local, ela garantiu, é um casamento para a vida. “Antes era no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico. Foi ótimo, mas lá não é exatamente espaço de música clássica, então acabamos perdendo um pouco. Por mais que houvesse o desafio de levar para a Barra, a ideia do complexo é essa. A semana de música de câmara virou um festival da Cidade das Artes”, explicou.

Veja abaixo vídeos das edições anteriores:

 

 

SERVIÇO

O QUE: IV Semana Internacional de Música de Câmara do Rio de Janeiro

QUANDO: 08 a 17 de outubro

ONDE: Teatro de Câmara da Cidade das Artes | Av. das Américas, 5300, Barra da Tijuca | Bilheteria: terça a domingo, das 13h às 19h. Em dias de espetáculo de 13h até 30 minutos após o início | Telefone: 3325-0102

Sala Guiomar Novaes – Sala Cecília Meireles | Rua da Lapa, 47 – Lapa, Rio de Janeiro | Bilheteria: segunda a sexta, das 13h às 18h, ou até o início do concerto. Sábado – quando houver concerto, das 13h até o início da apresentação. Domingo e feriado – quando houver concerto desde duas horas antes da apresentação | Telefone: 2332-9223

Teatro Municipal Raul Cortez | Pç. do Pacificador, s/n, Duque de Caxias | Bilheteria: quarta a domingo, das 14h às 19h | Telefone: 2771-3062

QUANTO: R$20 (inteira) | R$10 (meia)