Indo na contramão do imediatismo da internet, o canal do Youtube Lá Dó Si Lar oferece, a cada vídeo, a confecção de uma música inédita para ser degustada por quem está em casa. O programa é realizado na sala da casa da cantora e pianista, Maira Freitas, que também é a apresentadora do quadro – e DNA poderoso, pois é filha de Martinho da Vila. A segunda temporada começou nesta semana com a participação especial da poeta Letícia Brito. Os próximos convidados serão Alanito Sonhador, Alberto Salgado, Jonas Sá, Josyara, Nilze Carvalho, Simone Mazzer, as pianistas Duo Gisbranco e o Trio Capitú, que é um grupo de sopro que toca flauta, fagote e oboé. Além disso, alguns quadros contam com a presença dos artistas Caio Prado, Marcelo Caldi e Kiko Horta. Cada um trouxe a sua própria sonoridade e estilo musical, o que garante as novidades musicais que vão aparecendo a cada episódio. “Tivemos muitos instrumentos diferentes como flauta e violoncelo nesta temporada. O legal do programa é que não fazemos ensaio, isto faz com que as nossas impressões daquele momento acabam sendo devolvidas para a música, ou seja, sempre tem algo novo. Além disso, os artistas sempre acabam trazendo a sua identidade trazendo a percussão, o chorinho, o blues, samba e outros”, comentou a apresentadora. A série é lançada semanalmente na plataforma digital.
A ideia do programa é ser algo intimista, não é por acaso que as gravações são feitas na casa de Maira Freitas, a anfitriã do Lá Dó Si Lar. Os nove episódios oferecem canções novas e autorais que são o resultado da união daqueles artistas, com direito a arranjos musicais feitos pela própria cantora e pelo Julio Alecrim, produtor musical. “A internet tem muitos vídeos curtos, com informações fragmentadas e pouco aprofundados, nós não queremos isto. A nossa proposta é ser uma degustação de música ao vivo. Queremos que a pessoa se disponha a tirar um pouco do seu tempo para entrar na nossa casa, se sentir confortável e relaxar ouvindo o que estamos criando, não tem o imediatismo das mídias sociais”, avaliou.
Para tornar o projeto ainda mais especial, o programa traz um grande leque de personalidades de diferentes estilos, indo desde o clássico até o alternativo. A curadoria é feita pela própria Maira, que tem o desafio de escolher somente nove pessoas para participar da temporada. “Alguns artistas que aparecem são meus amigos, mas também chamo pessoas que escutei tocando em um bar e desconhecidos. Geralmente, esta galera não se conhece, o que é muito legal. Gosto de trazer gente desconhecida que não possui muitos trabalhos na grande mídia para poder divulgar. Quero trazer alguém do samba, do rock, do pop e que seja negro, branco, gay ou bissexual”, contou. Inicialmente, a ideia era transformar o programa em algo ininterrupto, no entanto por falta de patrocínio acabou não sendo viável, já que é preciso montar uma grande estrutura para fazer o Lá Dó Si Lar.
Todo o projeto foi feito sem qualquer patrocínio, sendo fruto do investimento dos artistas que compõe o quadro fixo do programa. Apesar de todas as dificuldades para viabilizar o programa, a ideia de Maira é conseguir expandir o conteúdo ainda mais, sendo uma fonte de lucro para os convidados também. “Quando um músico aparece na televisão, ele está ali somente pela exposição. A nossa ideia é pagar um cachê a eles, dividindo a grana por igual”, explicou. Além de patrocínio, outra forma de expandir o quadro seria através de uma parceria com alguma emissora para levar o Lá Dó Si Lar para a televisão. Esta hipótese é cogitada pela equipe. “Estamos analisando a possibilidade de fazer parcerias, mas o programa é nosso e não queremos vender para ninguém. Temos um carinho muito grande por ele. No momento, seguimos nas plataformas digitais”, afirmou.
O carinho e cuidado com que o trabalho é feito já estão dando retorno. A prova disso é que o canal aumentou 45% em menos de 24h desde que o vídeo desta semana foi lançado. “Todas as pessoas com quem eu falo curtiram muito o trabalho. Acho que isto acontece exatamente por ser um conteúdo diferente, mais longo e com cara de programa. Além disso, os nossos colegas e pessoas que participaram da primeira etapa acabam compartilhando os vídeos o que tem nos ajudado muito”, comentou. A divulgação continua a todo o vapor, porque enquanto a segunda temporada está começando a ser exibida, a equipe já está confeccionando a terceira e enviando alguns teasers nas redes sociais dos bastidores. “Isto cria uma curiosidade na galera que sempre quer saber como foi a passagem de determinado artista ou quem será o próximo convidado”, confessou.
A internet acaba sendo muito positiva no sentido de que qualquer um pode mostrar o seu trabalho nas mídias, democratizando o conteúdo. Este é um dos maiores objetivos da equipe. “Estamos mostramos artistas que estão produzindo e fazendo sucesso agora, ajudando estas pessoas a ganhar um público ainda maior”, comemorou. Ao mesmo tempo, existem tantas informações bacanas nas redes sociais que acaba sendo fácil se perder e não conseguir assistir tudo. Para combater isto e fidelizar o espectador, a equipe presa pela veracidade. “Tudo isso com a maior verdade possível. Não ensaiamos, não usamos maquiagem. É um projeto humano e acho que as pessoas querem ver a verdade”, sugeriu.
O Lá Dó Si Lar tem o objetivo de oferecer música boa para os espectadores e, por ser um conteúdo diferenciado, acaba tendo um público-alvo mais específico. “Quando fazemos o programa não estamos pensando em atingir um tipo pessoa, na verdade, estamos fazendo para todos. No entanto, acredito que queremos alcançar aquem gosta de descobrir novos estilos, afinal, estamos produzindo músicas inéditas”, comentou. O fato é que a maioria dos adeptos ao canal estão na faixa dos 21 até os 50 anos.
O Lá Dó Si Lar não tem restrição a nada, na verdade é um programa que presa pela diversidade. Sendo assim, Maira pretende chamar músicos de diferentes estilos musicais para tocar no programa, porque o fundamento do quadro é divulgar o trabalho dos artistas, sem julgamentos. “Acho que a música é múltipla, as pessoas tocam e escutam o que querem. Cada estilo tem a sua função e momento, tem espaço para todo mundo. Não podemos ficar comparando os trabalhos”, afirmou. Ao mesmo tempo, a apresentadora acha importante poder falar sobre estilos diferentes do funk e o sertanejo universitário, onipresentes hoje em dia. “A grande questão é a mídia, que acaba sendo muito monopolizada. Isto faz com que o produto final que chega para as pessoas seja muito massificado e industrializado. Sendo assim, muita gente que está produzindo um conteúdo diferente acaba não aparecendo. É uma mentira dizer que a MPB não é a mesma de antes”, criticou.
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