*Por Elisa Torres
Hildemar Diniz, o Monarco, anda tristonho com o isolamento social. Ele completou 87 anos no último dia 17, mas, por conta da pandemia, a comemoração em sua casa, no bairro do Riachuelo, Zona Norte do Rio, não teve aquele calor digno de uma boa roda de samba, onde costuma se cercar não só da família de músicos que a vida lhe deu (filhos, netos e netas que tocam e cantam), mas também de gente dos quatro cantos da cidade que aparece só para ouvir o autor de “Vai vadiar”, “Coração em desalinho” e “Passado de glória”, entre tantas outras canções antológicas, soltar a voz e entoar sambas que fizeram história. Monarco respeita as recomendações médicas, enquanto torce pela chegada da vacina contra o coronavírus, mas confessa que “ensaia voltinhas” de carro na companhia da mulher, Olinda. “Coisa rápida, para olhar a rua, ver gente, aquecer o coração e aliviar a tristeza”, afirma, acrescentando: “Olinda tem sido excepcional durante a pandemia, faz tudo para mim. Não sei o que seria de mim sem ela e sem a minha família, como um todo, que sempre me dá suporte”, diz o baluarte da Portela, em entrevista exclusiva para o site, onde também fala sobre as dificuldades particulares e sobre como faz para manter a produção criativa após sete décadas dedicadas ao samba.
“Tem um movimento da novas gerações de reconhecimento de experiência dos mais velhos, que eu acho muito bonito de se ver. Músicos maravilhosos, como o Léo Russo, que estão nas produções, me convidam para participar. É uma honra e eu sou só gratidão. Acabo de compor, em parceria com ele, a canção “Cadê você, paixão”, escrita por WhatsApp mesmo. O Leo é realmente muito bom”, revela.
Hoje Monarco compartilha a música nova ao lado de outras relíquias desse repertório com um público muito maior que o das rodas de samba, em sua live de estreia, que começa às 19h, em grande estilo, com participações especiais de Diogo Nogueira e Maria Rita. Toda quantia arrecadada na live será destinada aos músicos da Velha Guarda da Portela.
“Eu estou sentindo muita falta de cantar ao vivo, de estar com as pessoas, e estava muito ansioso com essa transmissão. Mas tive longas conversas com o meu filho (o compositor, arranjador e cavaquinista Mauro Diniz, que assina a direção musical do show e os arranjos das composições). Ele me explicou como tudo funciona, e fiquei mais tranquilo. Vai ter muita gente bacana participando, grandes artistas, que estarão em suas casas para me homenagear e ajudar essa gente tão especial do samba. Vai ser bonito”, diz o portelense, que estará sozinho com Olinda em sua casa, cantando à capela, mas dividirá o momento virtualmente com os filhos, Mauro e Marquinhos, também cantor e compositor de inúmeros sucessos, além de alguns netos, entre eles
Juliana e João Matheus Diniz.
“Eles estarão num estúdio, ou em suas respectivas casas, e eu estarei na minha. E teremos também, junto com eles, os músicos Paulão (violão), Tigrete (sax, flauta, clarinete), Tcha Tcha Tcha (surdo), Leozinho (percussão) e Pedrinho Ferreira (percussão)”, diz Monarco.
O artista apresentará na live sambas de terreiro, “sem agrotóxico”, como define o bamba, referindo-se ao que chama de “samba verdadeiro, purinho”. Na lista de composições, “Lenço”, “Seu Bernardo sapateiro”, “Hora da partida”, “Coração em desalinho” e “Quitandeiro”. O naipe de presenças ilustres da transmissão ao vivo contará com os portelenses Marisa Monte e Paulinho da Viola; além de Criolo, Nelson Sargento, Martinho da Vila, Teresa Cristina, Glória Pires e Orlando Moraes, que já confirmaram a participação por vídeo, cada um da sua casa.
Além da parceria com Leo Russo, Monarco acaba de lançar nas plataformas digitais, pela gravadora Biscoito Fino, o show gravado por ele com a Velha Guarda da Portela na quadra da Escola, em Madureira, em 2015. Apesar da falta de intimidade com a tecnologia das transmissões ao vivo, ele comemora a possibilidade de participar da iniciativa, e enxerga nas lives alternativas para manter a produção artística durante o isolamento social. “Ainda bem que existe essa possibilidade, porque os músicos estão todos parados. Inclusive por isso tivemos essa ideia, para ajudá-los. Esses tempos têm sido muito difíceis”, diz.
A jornalista Mariah Morais, idealizadora do projeto, assina o roteiro e será a apresentadora da live, que será transmitida pelos canais da Portela, da produtora de conteúdo audiovisual Fita Amarela (YouTube.com/Fitamarela) e de Joel Santana, no YouTube.
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