Rodrigo Torrero: cantor fala sobre a dura vida do artista independente com excesso de trabalho e acúmulo de funções


O cantor lançou o clipe de ‘A Banda de um Homem Só’. “A canção surgiu como uma forma de chamar atenção para a realidade do mercado que todo artista independente vivencia. E o clipe traz essa reflexão, brincando com a imagem do “artista empreendedor”, essa nova forma de se fazer música hoje. “É uma crítica e ao mesmo tempo uma contradição, já que, no meu próprio dia a dia, acabo vivendo essas relações num quê de “aceita que dói menos”, pontua

Rodrigo Torrero lança o videoclipe de ‘A Banda de um Homem Só’ sobre a realidade dos artistas independentes

*Por Rafael Moura

O conceito de ‘euquipe’ tem sido uma prática muito comum no cenário atual no Brasil, principalmente em tempos de pandemia e, ainda mais quando se é um profissional independente. Cantar, compor, gravar, produzir, pensar na estratégia das redes sociais, na divulgação, nas fotos, na mixagem, na banda… essa tem sido a rotina de muitos artistas independentes. Quem acredita no mito de que vida de popstar é fácil está muito enganado. Fazendo uma crítica à realidade ‘prática’, o carioca Rodrigo Torrero acaba de lançar o videoclipe da canção ‘A Banda de um Homem Só’.

A inspiração do clipe veio de um outro lado da jornada do músico, que nem sempre é perceptível ao público e que vai muito além da parte artística, de fato: o excesso de trabalho e o acúmulo de funções. “A canção surgiu como uma forma de chamar atenção para essa nova realidade do mercado que todo artista independente vivencia. E o clipe traz essa reflexão, brincando com a imagem do artista empreendedor, essa nova forma de se fazer música hoje. É uma crítica e, ao mesmo tempo, uma contradição, já que, no meu próprio dia a dia acabo vivendo essas relações num quê de ‘aceita que dói menos'”, relata Torrero.

‘A canção vem chamar a atenção para essa realidade do mercado que todo artista independente vivencia’, diz Torrero

Tendo em mente esse olhar empreendedor, Rodrigo registrou todo o processo de produção, criação, estratégia e distribuição da música, que chegou nas plataformas digitais. Das 31 horas de material, produziu, editou e concebeu, ao lado do irmão, Daniel Diaz (criador e curador do Festival Ecrã), um clipe que se apoia na linguagem de animação, com referências visuais de colagem para fazer uma paródia do ‘corre’ que todo artista independente vivencia para dar conta de seus trabalhos.

O humor foi um elemento essencialmente forte nesse filme, que, além das imagens de bastidores, traz referências animadas à produção em massa com engrenagens e esteiras de fábrica, e também imagens do cantor e compositor num cenário circense antigo, que evoca ainda uma ideia de espetáculo, com toda pompa e circunstância. “É o tipo de vídeo que, a cada vez que se assiste, revela novas nuances. Tem essa referência de espetáculo, essa figura do artista, dessa pessoa que está ali “só o bagaço”, mas que traz um sorriso largo no rosto”, analisa Torrero. Entre suas referências musicais estão Luiza Sales, Luiza Brina e Vinícius Castro, além de Chico Buarque e Beatles.

Rodrigo ainda faz uma ‘homenagem’ às plataformas digitais e redes sociais, que são as grandes vitrines dos artistas no mundo atual. “Quis demonstrar a ambiguidade disso tudo. Por um lado, precisamos das redes para mostrar nosso trabalho, ser ouvido, divulgar… É parte do processo. Por outro lado, também há uma certa mendicância nisso tudo. Isso não poderia faltar já que retrata bem o cotidiano do artista independente”, pontua.

Baião Indie

Segundo Torrero, a faixa ‘A Banda de Um Homem Só’ é um ‘baião indie’, que traz um ritmo intenso do começo ao fim, uma energia musical de marcha e de acontecimentos intermitentes, que se interligam com a correria e a ansiedade dos bastidores de um lançamento, por exemplo. A canção surgiu em 2019, quando Rodrigo comprou um pedal de loop para uma apresentação. O acessório possibilita que o artista grave um trecho de algum som ou instrumento e que o coloque em looping depois, trazendo mais ‘camadas’ ao som e reforçando a ideia do artista multidisciplinar.

No lançamento do single, Rodrigo presenteou todos que fizeram o pré-save da faixa com um “diploma de precarização” personalizado. Mais uma brincadeira que acabou fazendo sucesso entre seus seguidores. Apesar da crítica, o artista procura ser otimista quanto ao futuro do setor. “Acredito que, um dia, conseguiremos nos organizar melhor como classe, reivindicar direitos, conhecer opções além do streaming, novas opções de remuneração, mas isso requer movimentos coletivos. Se eu lançar meu disco fora desse ‘formato’ atual, ninguém vai ouvir. Embora eu vá surfando nessa onda, seria melhor se conseguíssemos construir demandas juntos para manter nossa cadeia viva”, enfatiza. Em breve Torrero irá lançar seu primeiro álbum, ‘Erre‘, e nós do site HT iremos contar tudinho.

Imagens dos bastidores do clipe ‘A Banda de Um Homem Só’, de Rodrigo Torrero