“Deve ser veado porque homem tão perfeito tá faltando no mercado”. Em épocas da patrulha politicamente correta, compor e cantar esse verso é um prato cheio para discussão. Mas Rodrigo Pitta, o autor, não tem medo. Foi recheada dessa e de outras frases polêmicas como “se o diabo veste Prada, ele veste pra dar” que o cantor lançou seu single “Será?!”, uma espécie de continuação da “Cabelereira do Zezé”, marchinha que foi hit do carnaval de 1964 e, desde então, é cantarolada pelos foliões todo ano. A música “Será?!”, que, logo no início, traz Pitta declarando que o objetivo “é abrir as portas dos armários de todo o Brasil”, é uma letra ousada em uma época de patrulha incensada, totalmente diferente de 1964, quando Jorge Goulart cantarolava o “será que ele é bicha?”. “Acho isso o fim da picada. Principalmente porque os únicos a patrulharem até agora foram os gays. É preciso saber sorrir de si mesmo. ‘Fazer samba não é contar piada’, mas samba é ‘também pai do prazer’. É carnaval, é verão, é brincadeira… As pessoas se levam muito a sério, não é para tanto”, defendeu Pitta em entrevista exclusiva ao HT.
O single, primeiro do álbum multimídia “PQP – Porque Pop ou Pátria que o Pariu”, que será lançado em agosto, conta com participações mais do que especiais: Ana Carolina e Elza Soares se renderam aos versos cheios de humor. “Elza Soares está cercada de amigos meus e a tive um encontro incrível com ela quando a entrevistei para a coluna semanal que assino em um jornal. Quando Elza aceitou o convite, pedi a Ana, que é minha amiga há anos, que fizéssemos a gravação na casa dela. Ana acabou caindo no samba e gravando com a gente também. Elza e Ana são amantes de samba. Elza é rainha do samba e da música brasileira”, declarou ele, ressaltando que sua música tem fortes inspirações. “O novo álbum todo abordará as hipocrisias e crises que vivemos. Por falar da carne, ‘Será?!’ nos remete diretamente ao Carnaval e pode ter os mesmos sabores de ‘Cabeleira de Zezé’, mas não só dela: também de ‘Homem com H’, ‘Thelma Eu não sou Gay’ ou até ‘Robocop Gay’, dos Mamonas Assassinas”, contou.
Mas, convenhamos, “Abrir a porta de cada armário do Brasil” é polêmico, não, Rodrigo? “Com certeza. Mas significa ir além de desvendar a sexualidade alheia somente. É desvendar mentiras, segredos desnecessários, falcatruas…. abrir o armário para uma limpeza, para entrar luz na casa, acho que o país está nesse momento de deixar de lado a hipocrisia e ser mais verdadeiro. Abrir a porta do armário é, parafraseando o Cazuza, ‘mostrar a cara’”, destacou ele, que, apesar disso, é tática: a sociedade é sim preconceituosa. “A ideia era dar risada. Essas não são frases que eu criei, mas que representam piadas cotidianas da sociedade brasileira. São trocadilhos populares, criados por essa sociedade que é, sim, preconceituosa e o disco será sobre ela também”, adiantou.
O clipe de “Será?!” tem uma pegada superpop, composto por animações. Será que os fãs podem esperar o mesmo dos próximos? “Meu primeiro álbum teve superproduções de videoclipes. Fechei o Metrô, a Ponte Estaiada, a Augusta. Foi mais pra Hollywood (risos). Este é um disco sobre a crise também, está sendo produzido em meio ao dólar nas alturas, com gente sendo demitida todo dia e orçamento bem baixo. Mas acho que tudo isso estimula a criatividade. Saídas criativas são a matéria-prima para tudo o que envolver esse projeto. O lyric-video não é um videoclipe. É só para acompanhar a letra e, pra quem for músico, aprender as cifras da canção. Foi um jeito de fazer um clipe sem fazer, mas as pessoas estão adorando! Eu me surpreendi!”, contou.
Nós, de HT, que já descobrimos que os próximos singles de Rodrigo Pitta tem títulos como “Pilantra” e “Serviço de Preto”, queremos saber: serão tão polêmicos quanto “Será?!”? “Posso dizer que ‘Pilantra’ é inspirada na Atena, personagem da Giovanna Antonelli na novela escrita pelo meu amigo de longa data, João Emanuel Carneiro. Não é para a personagem em si, mas para o grupo que ela representa, que, pasmem, tem muita representatividade. Quem nunca foi embrulhado por uma 171?”, questionou. O resto de “PQP” ainda é surpresa, mas Pitta contou um pouquinho para nós: “Teremos mais parcerias quentes e vários produtores diferentes! Além de muito mais risada e talvez mais patrulha. Mas, com certeza, é um álbum para fazer dançar e pensar”, garantiu. Não temos dúvidas.
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