Nascida e criada em rodas de samba do Rio, a carioquíssima Luciana Carvalho tem a música correndo nas veias desde sempre. E não é para menos. Filha de outra cantora, Vânia Carvalho, o samba surgiu em sua vida como um dom natural, aprimorado pela convivência com sua tia e madrinha, Beth Carvalho, uma das maiores referências femininas no Brasil quando se trata desse estilo musical.
Embora o parentesco com a tia consagrada tenha ajudado a promover sua carreira, a cantora e compositora prefere trilhar seu próprio caminho em busca de um tom mais contemporâneo para seu trabalho – e o resultado disso é o álbum ‘O samba que eu sei’, lançado este ano no Rival e produzido por Misael da Hora, filho do maestro Rildo Hora. A linguagem é bem moderna, mas com raízes na tradição do mais autêntico samba. O novo disco expõe traços da história da artista – frequentadora assídua das rodas e quintais cariocas – com um repertório quase inteiramente inédito, selecionado pela própria cantora, que pôs os pés na estrada como backing vocal da madrinha.
Neste domingo (27), a cantora apresenta o show ‘O samba que eu sei’ durante a Feijoada do Samba Social Club, no Miranda, no Rio, com participação especial da tia Beth Carvalho. Juntas, elas vão cantar standards como ‘Coisinha do pai’ e ‘Vou festejar’ em uma verdadeira roda de samba.
Em um bate papo exclusivo com o nosso site, Lu Carvalho falou sobre o processo de preparo do disco, a infância nas rodas de samba e a nova roupagem que procura buscar para o ritmo mais tradicional do Brasil.
HT: Qual a influência que sua tia, Beth Carvalho, teve no fato de você ter se tornado cantora? Ser sobrinha dela ajudou ou prejudicou? E as comparações? A incomodam?
LC: A influência foi absoluta pelo fato de que, desde que eu era pequena, ela me levava para as rodas de samba, para o Cacique de Ramos. E, quando digo pequena, me refiro bem pequena mesmo, tipo 10 anos de idade. Foi quando conheci Jorge Aragão, Almir Guineto, o grupo Fundo de Quintal, Arlindo Cruz. Enfim, la crème de la créme do samba. Ainda não rolou nenhum tipo de comparação, mas acredito que esse dia chegará. Tenho um jeito parecido com o dela, alguns trejeitos também e isso é muito natural, pois desde criança eu a vejo cantar, sou sua fã Número 1. E, apesar de eu achar que ela é única e que nada nem ninguém pode ser comparado ao que Beth fez pelo samba, estou preparada, sim, para tudo.
HT: Quando criança você costumava frequentar as rodas de samba com sua tia. Como era? Você gostava?
LC: Eu adorava! Sempre amei samba. Claro que, por ser pequena e essas rodas terminarem no dia seguinte, muitas vezes eu acabava dormindo em algumas cadeiras que arrumavam de ‘caminha’ especialmente para mim e não via o sol raiar, rs.
HT: Você é de uma geração de cantores que se intitulam ‘independentes’ por não possuírem ligação com nenhuma gravadora e disponibilizarem seus CDs para download na internet. Como você avalia esta prática?
LC: É claro que gostaria de ter uma gravadora. Acho que elas têm muita força junto aos veículos de comunicação. Isso ajuda demais a divulgação do nosso trabalho. Mas, felizmente, hoje podemos contar com ferramentas preciosas de venda, como a internet e todas as redes sociais disponíveis para expandir nosso trabalho.
HT: Foi muito difícil escolher o repertório de ‘O Samba que eu sei’em meio a conhecimento tão grande de sambas? Como foi esse processo?
LC: Foi lento, criterioso e muito gostoso, mas também muito difícil, porque recebi muita coisa linda dos compositores. Chegou uma hora que eu já tinha umas 30 músicas para incluir e não havia mais espaço. Minha tia também abriu um “baú” – como ela chama um arquivo com quase 5.000 músicas – e me deixou à vontade para pesquisar. Não foi mole!
HT: Você se autodefine como “uma mulher moderna que gosta de samba romântico”. Qual é a chancela que Lu Carvalho quer imprimir?
LC: Eu sou uma sambista que gosta de cantar. O que considero bom. Não existe uma regra… Pode ser romântico, moderno, samba de roda, partido alto, eu gosto de samba!
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