* Por Jamari França
Será que todo músico de rock é doidão? Um estilo de vida louco, uma profissão desgastante, jogado de um lado para o outro em turnês, muitas cobranças. Pior que é verdade, a maioria deles já foi ou ainda usa, seja por vício ou recreação. Em um livro que acaba de ser lançado no Brasil, Fama e Loucura (Best Seller, 541 páginas) o jornalista americano Neil Strauss apresenta 228 entrevistas reveladoras de cantores, integrantes de bandas, atores e até mafiosos feitas para um monte de revistas e jornais.
Alguns não usam drogas, por coincidência os que fazem uma música de baixos teores. O saxofonista Kenny G é o melhor exemplo. Ele acha que as drogas são um tipo de “iluminação preguiçosa”, ou seja, droga com ele só mesmo a música que toca. Madonna não gosta de usar, porque tem medo de perder o controle. Quando caiu do cavalo há tempos teve que usar morfina e adorou o barato, mas saltou fora porque é viciada em controlar tudo. Lady Gaga conta que era drogada no começo de carreira no Lower East Side nova-iorquino, porque estava em busca de sua jornada artística e queria mesmo era enlouquecer. Conseguiu. Hoje é a mais desvairada do pop americano.
Bonnie Raitt enchia a cara, porque detestava sua voz e achava que o álcool podia apurar seu timbre. O álcool era mais barato do que sessões de fonoaudiologia. O grande Johnny Cash se diz muito religioso, mas confessa que se afastou de Deus quando era drogado. Refeito, voltou ao rebanho do Senhor e saía em turnê com um pastor a tiracolo – ex-drogado como ele. O ator e comediante Chris Rock cresceu na barra pesada de Bed Stuy no Brooklin, New York, diz que nunca usou, mas chegou a vender crack e tem uma teoria: a mulher do gueto passou a ser chamada de cachorra (bitch) porque se viciou em crack e fazia qualquer coisa para comprar as pedras. Aliás, ele acha que o gangsta rap nasceu por causa do crack.
A cantora Pink enche a cara de cerveja Corona, porque acredita que produz muito melhor doidona. Se o que ela canta é o melhor… O vocalista dos Strokes, Julian Casablanca, começou a beber aos 10 anos e chegou ao ponto crítico quando a banda fez sucesso. Ficava 10 dias sem tomar banho e com a mesma roupa. Para entrevistá-lo só com máscara contra gases. E ainda ficava se queixando que todo mundo se afastou dele, incluindo a namorada. Claro, não há amor que resista a tanta inhaca. Mick Fleetwood, do Fleetwood Mac, diz que foi ao fundo do fundo do poço com as drogas, só conseguia tocar doidão e arrisca uma explicação: “O ambiente de turnê é perfeito pra isso. O show causa uma onda muito forte e você já está doidão. Então vai para um bar, depois leva o pessoal para uma festa no quarto e, quando vai ver, amanhece e é hora de ir para o aeroporto para começar tudo de novo.”
Li na biografia de Pete Townshend, líder da banda The Who, que ele se viciou em álcool pelas pressões do estrelato, cobranças eternas, com uso também de cocaína. Na sua autobiografia, que estou relendo, a diva do rock nos anos 60 Marianne Faithful, conta que Mick Jagger, seu namorado por muitos anos, usava drogas, mas nunca se viciou, porque tinha fixação de controlar tudo. Já ela foi fundo nas drogas – heroína, cocaína, pílulas, álcool – virou zumbi e chegou a morar em casas abandonadas.
Keith Richards, dos Stones, usou cocaína e heroína em quantidades que teriam matado pessoas menos fortes que ele. Ozzy Osbourne disse uma vez que seu problema com as drogas é que tinha só uma boca.
Os membros do Motley Crue, todos usuários de drogas, contam que viram Ozzy cheirar formigas e beber xixi. Um dos Motleys, Mick Mars, uma vez quase se afogou na banheira. Achou que estava no meio do oceano e não sabia nadar. As histórias são infinitas. Esse bando de doidos em sua maioria criou uma bela carreira musical. Em alguns momentos as drogas ajudaram, em outras prejudicaram e, os que conseguiram sair do outro lado, hoje querem distância delas. O preço que cobram é muito alto. Rock On!
* Crítico de música especializado em pop rock. Trabalhou no Jornal do Brasil, onde escrevia sobre música e internacional. Foi editor da revista Música & Tecnologia e trabalhou no Globo Online. É ator da biografia dos Paralamas do Sucesso Vamo Batê Lata e tradutor de livros sobre música e política.
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