* Por Jeff Lessa
Anitta faz sua estreia no Rock in Rio carioca com entrada triunfal depois de anos sendo esnobada
Cantora se apresentou no Palco Mundo, o mais prestigiado do festival, diante de uma muralha de caixas de som como a da Furacão 2000, berço do funk carioca
Chegou ao fim a imensa expectativa pela estreia de Anitta no Rock in Rio… no Rio (no ano passado, ela se apresentou em Portugal): a cantora fez sua entrada triunfal no Palco Mundo diante de um monumental paredão de caixas de som como a da Furacão 2000, para loucura da galera. Para se ter uma noção da comoção causada pela estrela, sua presença chegou a esvaziar outros espaços do festival, deferência reservada a poucos. A abertura foi por conta do Mc Andinho, que cantou “Eu Só Quero É Ser Feliz” e tocou um medley de funks conhecidos com letras adaptadas para celebrar a funkeira – entre outros, o “Rap da felicidade“, de Cidinho e Doca, convidados do Espaço Favela. Em seguida, entraram as bailarinas. Anitta conseguiu o efeito que queria, fazendo sua entrada apoteótica com “Show das poderosas” em versão mais hard, emendada com “Bang”.
Tanta comoção se deve, também, à tremenda (e desnecessária) esnobada que Anitta levou da organização do RiR em 2017, quando o público praticamente implorou para que ela substituísse Lady Gaga, que havia cancelado sua apresentação, mas foi ignorado juntamente com a “ídola”. Ela agradeceu aos fãs de uma maneira bem peculiar: “Vocês que me colocaram aqui em cima. Se eu fosse contar tudo que passei até chegar aqui, talvez vocês não acreditassem. Por isso, hoje, quero agradecer a mim, porque eu não desisti”, disse. Em sequência, abriu um bailão e aproveitou para divulgar a música que gravou com Will.i.am, do Black Eyed Peas (a banda americana também tocou no sábado e com Anitta!).
Antes de um set romântico, ela trocou de roupa, enquanto frases como “Você precisa de ar” e “Nosso desafio é sobreviver” eram exibidas no telão, em alusão à causa ambiental. Antes de mandar ver em “Movimento da Sanfoninha”, Anitta adaptou seu bordão ao festival: “Vocês pensaram que eu não ia rebolar minha bunda no Rock in Rio?”. De resto, a cantora não se comunicou muito com o público, o que decepcionou alguns fãs e gerou críticas negativas.
A parte mais funk da apresentação ficou para o final, quando cantou “Vai malandra”, “Bola rebola”, “Favela” e “Onda diferente” e dançou na passarela, perto da multidão.
Anitta é presença exigida pelos fãs desde 2015. Há dois anos, quando Lady Gaga cancelou sua apresentação, chegou a rolar uma campanha pela cantora, mas a organização preferiu ignorar os apelos. Naquele mesmo ano, Anitta tentou uma participação no show de Fergie, ex- Black Eyed Peas, mas a ideia naufragou. Os organizadores chegaram a dizer que ela só teria espaço na programação caso houvesse contexto. (Ahn? Como assim “contexto”?)
A questão é que não deu para resistir ao sucesso da moça – incluí-la como atração acabou se tornando obrigação. Melhor: em dois momentos na mesma noite, pois a cantora se apresentou com o Black Eyed Peas, banda com a qual tem parceria em “eXplosion”. Com isso, o funk também entrou no RiR pela porta da frente, no palco mais importante, que abriga as atrações mais conceituadas. Se a espera valeu a pena, o tempo e os fãs dirão.
Pouco conhecida no Brasil, H.E.R. foi a segunda atração do Palco Mundo na sexta noite de RiR e faz apresentação impecável de R&B
Aos 22 anos, a cantora californiana vencedora de dois Grammys em fevereiro, uma das preferidas do ex-presidente americano Barack Obama, encanta a plateia com talento de multi-instrumentista e canções suaves
Não foi exatamente fácil para H.E.R. se apresentar logo depois de Anitta. A primeira atração do Palco Mundo nesta sexta noite de Rock in Rio levantou um público imenso, não apenas por ser uma artista querida como pelo ineditismo de sua presença no festival. H.E.R., que cantou em seguida, encontrou uma plateia esvaziada e bem menos interessada. Obviamente, o fato de ser pouco conhecida no país colaborou para isso. Uma pena, pois a garota, americana da ensolarada Califórnia, fez um show excelente.
Artista de muitos talentos, ela abriu seu show tocando violão, piano e baixo em “Carried Away”. A apresentação intimista (até onde se pode ser intimista num RiR, claro) contou com a participação de coral em “Best Part”, parceria dela com Daniel Caesar, e no cover de “X Factor”, de Lauryn Hill.
Na simpática e quase sempre infalível homenagem ao país-anfitrião, H.E.R. mandou uma mensagem de amor à música brasileira e cantou “Mas que Nada”, de Sergio Mendes, numa versão convincente. “Tenho só 22 anos e a chance de tocar para tanta gente no Brasil. Eu amo as pessoas do país e amo a comida daqui”, disse a cantora e instrumentista, conquistando a plateia com sua simpatia.
Mas não foi apenas a simpatia de Gabrielle Wilson, seu verdadeiro nome, que cativou o público. O talento da banda, as bonitas canções e os vocais de apoio também fizeram parte de uma noite sem defeitos. Para finalizar, a artista tocou guitarra em “Fate” e fez um solo “profissa”, daqueles para ficar na memória.
Com apenas 22 anos, H.E.R. já pode alardear que tem dois Grammys, feito que muita gente boa leva um tempo para igualar. Ela venceu nas categorias de melhor álbum de R&B, com “H.E.R.” e melhor performance por “Best Part” na edição deste ano da premiação, em fevereiro. Mas não é só: a cantora também foi indicada em outras três categorias (álbum, revelação e melhor música de rythm and blues). Ela é uma das cantoras preferidas do ex-presidente Barack Obama, que a incluiu em sua lista de favoritos do ano divulgada em seu Instagram, em 2018.
Sua carreira começou aos 10 anos, quando participou do “Today Show”, programa de entrevistas e entretenimento popularíssimo nos Estados Unidos. A menina encantou a todos com um cover de “No One”, de Alicia Keys. Aos 14, teve seu primeiro contrato assinado ao entrar no reality show “The Next Big Thing”, da Radio Disney. Em 2014, ainda chamada de Gabi Wilson, estreou no mundo da música. Em 2016, adotou a sigla pela qual é conhecida atualmente e que significa “Having Everything Revealed” (algo como “Tendo Tudo Revelado” em uma tradução extremamente literal para o português).
O primeiro EP chamou a atenção de artistas importantes e, em 2017, ela repetiu a dose. Antes disso, H.E.R. já havia feito parceria com Rihanna, uma de suas “madrinhas”: é ela quem canta com a diva em “Consideration”, primeira faixa de “Anti”, lançado pela cantora barbadense em 2016.
Black Eyed Peas faz show em que não faltam sucessos, apresenta sua nova cantora ao público do RiR e toca com Anitta
Will.I.Am, Taboo e Apl.De.Ap dedicaram canção às pessoas afetadas pelas queimadas na Amazônia e falaram de seu amor pelo país e por Jorge Ben Jor
Enquanto alguns artistas reclamaram e pediram a paralisação da tirolesa durante suas apresentações no Rock in Rio, Will.I.Am fez questão de começar o show do Black Eyed Peas usando o brinquedo para aterrissar no palco e cantar “Started”. A banda, que já tocou duas vezes no RiR de Lisboa mas fez sua estreia no festival em terras cariocas, foi a penúltima atração do Palco Mundo no sábado. Em seu primeiro show sem Fergie no país, o BEP contou com o reforço de Jessica Reynoso, finalista do “The Voice” Filipinas. Ela foi convidada a fazer parte do grupo por Apl.De.Ap, que a conheceu quando foi técnico do programa (o músico tem ascendência filipina). A apresentação da cantora ao público do RiR foi durante a música “Just Can’t Get Enough”.
Num momento ligeiramente politizado da noite, o hit “Where Is the Love” foi dedicado às pessoas afetadas pelas queimadas na Amazônia. O BEP também falou de seu amor pelo Brasil e elogiou Jorge Ben Jor. Os músicos já haviam cantado “Mas que Nada”, sucesso estrondoso na voz do brasileiro, que gravou a canção em 1963 e é considerada uma das músicas nacionais mais amadas pelos estrangeiros (antes H.E.R. já havia mostrado sua bela versão do hit).
Em seguida, Anitta, como era esperado, juntou-se à banda para cantar “Don’t Lie”. Em seguida veio “eXplosion”, parceria da cantora com o trio Will.I.Am, Taboo e Apl.De.Ap lançada em 30 de setembro. Os colombianos do Piso 21 participaram do show na execução de “Mami”.
Hits como “Boom Boom” e “Pump It” não podiam faltar e cumpriram a missão de levantar o público. Quem teve um feeling de que tonight ia ser uma good night acertou em cheio.
O Black Eyed Peas surgiu em Los Angeles, Califórnia, em 1992. Em 2009, tornou-se um dos exclusivíssimos 11 artistas a colocar singles simultaneamente em primeiro e segundo lugar na “Billboard Hot 100” (“Boom Boom Pow” e “I Gotta Feeling”). Esta última, aliás, foi o primeiro single a vender mais de um milhão de downloads no Reino Unido e a primeira música a atingir a marca de seis milhões nos Estados Unidos. Desde 2013, o grupo de hip hop, R&B e eletrônica já vendeu mais de 35 milhões de discos e 41 milhões de singles, o que o coloca entre os mais populares de todos os tempos.
Eles já estiveram algumas vezes no Brasil e, na sexta-feira, véspera da apresentação no Palco Mundo, se apresentaram em São Paulo, reunindo pouco menos de cinco mil pessoas no Ginásio Ibirapuera, metade da capacidade do lugar. A banda cantou, pela primeira vez, “eXplosion”, gravada com Anitta, sem a presença da cantora brasileira. A faixa, lançada há cinco dias, já conta com mais de 2,5 milhões de visualizações no YouTube. Os momentos mais empolgantes foram quando o BEP tocou “The Time”, “eXplosion” e “I Gotta Feeling”. O show paulistano começou às 22h e terminou às 23h30.
Pink faz sua estreia no Rock in Rio com show performático e esbanja simpatia na última apresentação da noite pop
Aos 40 anos, a cantora americana emociona o público ao erguer a bandeira do arco-íris LGBTQ e entregar o microfone a rapaz que pediu o namorado em casamento durante a apresentação
Em sua primeira vez no Brasil, a adorável Pink trouxe a arte circense para o palco do Rock in Rio. Ela abriu o show pendurada num lustre e fazendo acrobacias aéreas com tecido ao mesmo tempo em que cantava “Get the Party Started” (“Comece a Festa”, em tradução livre). Aos 40 anos, a cantora americana impressiona ao cantar e “performar” ao mesmo tempo. As eventuais falhas no microfone não importaram muito: o público adorou o ato e cantou junto com entusiasmo, gritando euforicamente.
Adorável em vários sentidos, Pink agradeceu ao convite para participar da festa: “Finalmente! Obrigada por nos trazer aqui. É tão lindo como me disseram que seria”.
Um dos momentos mais impressionantes do show foi quando ela usou um elástico para “voar” sobre o palco com um dos bailarinos, performance sempre presente em suas apresentações. Celebrando a diversidade, empolgou o público ao levantar a bandeira do arco-íris LGBTQ e, em seguida, passar o microfone a um fã que pediu o namorado em casamento. Rico em momentos emocionantes, um pot-pourri de imagens de vídeos mostrou a artista em seus trabalhos sociais: ela foi nomeada embaixadora do Unicef em 2015. Com nítida inspiração feminista, as imagens mostravam, também, outras ativistas mulheres. Aliás, é preciso ressaltar que a banda tem mais instrumentistas do sexo feminino que a maioria das que já se apresentaram até agora na edição 2019 do festival.
Não faltou um cover de “We Are the Champions”, do Queen, banda de maior sucesso da primeira edição do RiR, em 1985. Hits da carreira como “Just Give me a Reason”, “What About Us” e “Try” puseram muitos casais gays para se beijar no gramado e complementaram a apresentação da headliner da noite pop. O show na cidade foi o penúltimo da Beautiful Trauma Tour, antes da despedida em Austin, no estado americano do Texas. A turnê internacional já rendeu alentados US$ 397,3 milhões, uma das dez maiores arrecadações desde que o ranking começou a ser aferido.
Simpaticíssima, Pink fez um vídeo para o público, comemorando sua vinda para o Brasil quando a produção do festival anunciou sua participação. Não foi a única demonstração de carinho da artista por seus fãs. De manhã, no dia de sua apresentação, ela distribuiu pessoalmente camisetas para quem a esperava na porta do hotel. Na sexta-feira (3), conversou e tirou selfies com fãs na porta do hotel onde está hospedada. Mostrando que estrelas não precisam, necessariamente, se encastelar e manter distância dos meros mortais, a cantora também aproveitou para passear e conhecer o Pão de Açúcar, um dos maiores cartões postais do Rio.
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