Se a intenção do Rock in Rio nesses 30 anos era trazer um ar de nostalgia logo na primeira noite com o Queen de headliner e um show especial em ode à própria história do evento com o suprasumo dos artistas nacionais, conseguiu. Aliás, bem antes do Palco Mundo ser inaugurado. Os caras do Ira! trataram de adiantar o flashback quando entoaram “Envelheço na cidade”, hit, que, na última aparição dos roqueiros no Rock in Rio, fez a Cidade do Rock, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, explodir. E, como a gente já imaginava, conseguiram, nas devidas proporções, repetir o feito. A multidão que já lotava metade da cidade na tarde desta sexta-feira (18), conseguiu entender logo de cara a essência do Palco Sunset, que abre os principais trabalhos do line up: misturar vários ritmos e proporcionar encontros que, a priori, você nunca imaginaria assistir.
Nesse caso, a estranheza até falou mais alto no começo. Quem ouviu as guitarras de Edgard Scandurra entoando o hit “Dias de Luta”, do Ira!, e minutos depois quando viu Rappin Hood fazer companhia ao próprio Edgard e a Nasi, pode não ter entendido a linha tênue dessa mistura do puro rock brasileiro que foi incensado pela indústria fonográfica da década de 80 em diante, com o hip hop e o rap paulistano. Mas quem ajuda a explicar é o próprio Nasi, vocalista, que surgiu nessa tarde quentíssima na urbe-maravilha bem mais magro do que seus fãs da antiga estão acostumados. “Fui muito envolvido no rap. Eu enchia o saco do Ira! ouvindo rap na estrada o tempo inteiro. E gosto muito, principalmente, do brasileiro. O rap foi importante para o sangue novo do rock no mundo inteiro. Você vê, por exemplo, o Red Hot Chili Peppers e o Charlie Brown Jr“, exemplificou.
O Ira!, que nem parece ter se separado em 2007 tamanha era a sintonia, abriu o show com hits como “Eu quero sempre mais” e “Núcleo base” para, aí sim, abrir alas para Rappin Hood. Com um DJ dividindo espaço com a bateria dos roqueiros, o paulistano roubou a cena e foi catolicamente acompanhando em seus refrões pelos colegas de palco e pelas mãos dos presentes no gargarejo, como se estivessem numa batalha de beat box, enquanto cantava “Us guerreiro”. A mistura já estava boa quando, vestindo um sobretudo amarelo e de óculos escuros, surgiu Tony Tornado com seu verso musical que virou bordão: “pode crer, amizade”. Pronto. O rock, que havia se rendido e dado as mãos ao rap, resolveu abraçar o melhor do soul music brazuca.
Depois de “Dia de santo reis” (famosa na voz de Tim Maia) e “Rap do bom”, a soma Ira! + Rappin Hood + Tony Tornado se despediu do Palco Sunset da melhor forma: fazendo jus ao nome com um pôr do sol daqueles, sacramentando a miscelânea musical que Zé Ricardo, o curador do palco, se propôs a fazer ao confiar na proposta do Ira!, e ao som de “BR 3”, o clássico dos clássicos de Tornado. “Eu gostaria de recordar com vocês Maracanãzinho, 1970. Vamos nós!”, convocou, chamando o filho Lincoln Tornado – que estava no palco como back vocal -, para assumir o microfone principal. O herdeiro, aliás, aproveitou o ensejo para pedir igualdade racial e fazer o primeiro chamamento politizado do festival neste ano. O pai, como não poderia ser diferente, fez eco: “Quando duas mãos se juntam a sombra no chão reflete as duas da mesma cor”.
Deu para entender agora porque, antes de subir ao palco, Rappin já havia feito a intimação: “Ira! e Tony já estão convocados para o próximo disco do ‘Sujeito Homem’“. Não é bobo nem nada…
Ainda nesta sexta-feira (18) no Palco Sunset: Lenine + Nação Zumbi + Martin Fondse e Homenagem à Cassia Eller.
Confira abaixo o setlist completo do show Ira + Rappin Hood + Tony Tornado:
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