Quando se pensa em rock no Brasil… Brasília vem logo à mente. A capital federal do rock é berço de bandas essenciais como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, entre tantas outras. A emblemática década de 1980 é o momento em que o ritmo estoura em um país que já ensaiava seus primeiros passos rumo à redemocratização e experimentava uma liberdade inédita nos costumes – era possível fazer canções contestatória com o teor de “Que país é este?” entre pilotis das quadras residenciais abertas à circulação de todos. Para comemorar quatro décadas de B-Rock, o CCBB promove o festival Rock Brasil 40 anos, que passou por Rio, São Paulo e BH antes de chegar a Brasília. No fim de semana passado, no qual se registrou a marca histórica de dia mais frio na capital desde 1975, o rock e seus amantes fizeram a temperatura subir, e muito, quando curtiram as apresentações das bandas Plebe Rude e Biquíni Cavadão (no sábado) e Arnaldo Antunes e Paralamas do Sucesso (domingo). A Plebe, que já havia tocado na abertura do festival, no sábado anterior (14), foi convocada para voltar ao palco substituindo Paulinho Moska, que se recuperava da Covid.
Durante o show dos Paralamas, Herbert Vianna passou mal e precisou se afastar do palco por alguns minutos. No entanto, depois de explicar que sua vista estava “escurecendo muito” e que tinha medo de “emborcar para trás”, o roqueiro voltou, para a alegria de uma plateia ávida por revisitar sucessos como “Alagados”, “Óculos”, “Meu Erro”, “Vital e Sua Moto” e “Ela Disse Adeus”, entre outros: “Um milhão de perdões a cada um de vocês, estava vendo a hora de apagar e sair de maca daqui. Vocês fazem tudo valer tanto a pena, muito obrigado, Brasília. E a todos os amigos que eram meus colegas de escola, de quadra, de transporte. Enfim, vamos em frente, rapaziada, vamos até o sol se pôr”, disse, emocionado, o vocalista, guitarrista e compositor, que completou 61 anos no começo de maio.
No sábado, Bruno Gouveia, vocalista da banda Biquíni Cavadão, já tinha recebido também toda a solidariedade e boas energias do público que o viu no palco com um tampão em um dos olhos. Três dias antes, ele foi submetido a uma cirurgia para a retirada de um tumor na altura da pálpebra. Mas, a emoção foi tão grande depois de uma apresentação em alta potência, que Bruno tirou os óculos para ver a multidão que o aplaudia.
O nome Biquíni Cavadão foi inspirado por uma frase dita ao acaso por Herbert Vianna, vocalista dos Paralamas, aos amigos Bruno Gouveia, Álvaro Birita, Miguel Flores e André Sheik: “Se eu tivesse essa idade, só pensaria em mulher, carros e biquíni cavadão”. Estava de acordo com o zeitgeist e deu certíssimo. Hoje, a banda criada na segunda metade dos anos 80, ostenta títulos considerados clássicos como “Tédio”, “Zé Ninguém” e “Timidez”, entre outros darlings que os fãs não se cansam de ouvir e cantar. Foi por esses fãs tão fiéis que Bruno estava no palco. “Eu já havia falado em um story a respeito disso e recebi muita energia positiva de vocês. Obrigado. Volto aos palcos de tapa-olho e um pouco mais contido (…). Deixo a dica: quanto antes a gente descobre o problema, maiores nossas chances de sairmos bem desta”, escreveu o músico no Instagram oficial da banda.
Um momento particularmente emocionante das apresentações aconteceu quando Philippe Seabra, da Plebe Rude, pediu que o poder público fomentasse shows com artistas locais nas Regiões Administrativas. No dia seguinte, Herbert Vianna levou a plateia ao delírio ao também clamar pelo rock. Parafraseando Arnaldo Antunes que cantou um samba durante sua apresentação, “Não deixe o rock morrer, não deixe o rock acabar, Brasília foi feita de rock, de rock para a gente pulsar”… Em sua apresentação Antunes fez um mix de sucessos dos Titãs, dos Tribalistas e de seu repertório solo.
Paralelamente aos shows principais, o festival tem uma extensa programação cultural durante todo o período no Centro Cultural Banco do Brasil. O público vai poder conferir os consagrados musicais Cássia Eller – O Musical; Renato Russo – O Musical; Cabeça, Um Documentário Cênico; e Cazas de Cazuza. Os ingressos para as peças custam R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira).
Parte das atrações são gratuitas, dentre elas uma mostra de cinema que contam a história de alguns ídolos do gênero musical, entre eles Cazuza – O Tempo não Para (2004), cinebio do cantor, com direção de Sandra Werneck e Walter Carvalho; Blitz O Filme (2019), de Paulo Fontenelle, que conta a trajetória da banda sucesso nos anos 80; o doc musical Barão Vermelho – Por Que a Gente é Assim? (2007), com direção de Mini Kerti. Também com entrada franca, acontecem exposições de fotografia e artes plásticas. A primeira traz uma seleção de cerca de 60 fotos de artistas e personalidades que representam o Rock Brasil, clicadas ao longo das últimas décadas por Cristina Granato, um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro. E haverá também exposições com obras de Luiz Stein e Zé Carratu, artistas plásticos que surgiram junto com o rock brasileiro dos anos 80.
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