Rock Brasil 40 anos: Em Brasília, no palco, os desabafos de Herbert Vianna e Bruno Gouveia que emocionaram o público


Considerada a Capital do Rock brasileiro, BSB recebeu Plebe Rude, Biquíni Cavadão, Paralamas do Sucesso e Arnaldo Antunes, no fim de semana. Herbert Vianna passou mal durante sua apresentação e precisou se afastar do palco, mas retornou alguns minutos depois de sua vista ‘escurecer muito’, agradecendo ao público, à cidade e aos amigos de escola, de quadra, de transporte: ‘Vamos em frente, rapaziada, vamos até o sol se pôr’. Também em nome da arte, Bruno Gouveia, vocalista do Biquini Cavadão, foi um gigante de fazer uma multidão vibrar e chegou a tirar os óculos que protegiam os seus olhos pós-cirurgia feita três dias antes para tirar um tumor em uma das pálpebras

Quando se pensa em rock no Brasil… Brasília vem logo à mente. A capital federal do rock é berço de bandas essenciais como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, entre tantas outras. A emblemática década de 1980 é o momento em que o ritmo estoura em um país que já ensaiava seus primeiros passos rumo à redemocratização e experimentava uma liberdade inédita nos costumes – era possível fazer canções contestatória com o teor de “Que país é este?” entre pilotis das quadras residenciais abertas à circulação de todos. Para comemorar quatro décadas de B-Rock, o CCBB promove o festival Rock Brasil 40 anos, que passou por Rio, São Paulo e BH antes de chegar a Brasília. No fim de semana passado, no qual se registrou a marca histórica de dia mais frio na capital desde 1975, o rock e seus amantes fizeram a temperatura subir, e muito, quando curtiram as apresentações das bandas Plebe Rude e Biquíni Cavadão (no sábado) e Arnaldo Antunes e Paralamas do Sucesso (domingo). A Plebe, que já havia tocado na abertura do festival, no sábado anterior (14), foi convocada para voltar ao palco substituindo Paulinho Moska, que se recuperava da Covid.

Herbert Vianna se sente mal, desabafa com o público e consegue seguir em frente com show histórico em Brasília. Tudo pela arte, pelo rock!

Durante o show dos Paralamas, Herbert Vianna passou mal e precisou se afastar do palco por alguns minutos. No entanto, depois de explicar que sua vista estava “escurecendo muito” e que tinha medo de “emborcar para trás”, o roqueiro voltou, para a alegria de uma plateia ávida por revisitar sucessos como “Alagados”, “Óculos”, “Meu Erro”, “Vital e Sua Moto” e “Ela Disse Adeus”, entre outros: “Um milhão de perdões a cada um de vocês, estava vendo a hora de apagar e sair de maca daqui. Vocês fazem tudo valer tanto a pena, muito obrigado, Brasília. E a todos os amigos que eram meus colegas de escola, de quadra, de transporte. Enfim, vamos em frente, rapaziada, vamos até o sol se pôr”, disse, emocionado, o vocalista, guitarrista e compositor, que completou 61 anos no começo de maio.

“É impossível (…) é impossível esquecer o que vivi/o que senti/tudo que morre fica vivo na lembrança (…)”

No sábado, Bruno Gouveia, vocalista da banda Biquíni Cavadão, já tinha recebido também toda a solidariedade e boas energias do público que o viu no palco com um tampão em um dos olhos. Três dias antes, ele foi submetido a uma cirurgia para a retirada de um tumor na altura da pálpebra. Mas, a emoção foi tão grande depois de uma apresentação em alta potência, que Bruno tirou os óculos para ver a multidão que o aplaudia.

O nome Biquíni Cavadão foi inspirado por uma frase dita ao acaso por Herbert Vianna, vocalista dos Paralamas, aos amigos Bruno Gouveia, Álvaro Birita, Miguel Flores e André Sheik: “Se eu tivesse essa idade, só pensaria em mulher, carros e biquíni cavadão”. Estava de acordo com o zeitgeist e deu certíssimo. Hoje, a banda criada na segunda metade dos anos 80, ostenta títulos considerados clássicos como “Tédio”, “Zé Ninguém” e “Timidez”, entre outros darlings que os fãs não se cansam de ouvir e cantar. Foi por esses fãs tão fiéis que Bruno estava no palco. “Eu já havia falado em um story a respeito disso e recebi muita energia positiva de vocês. Obrigado. Volto aos palcos de tapa-olho e um pouco mais contido (…). Deixo a dica: quanto antes a gente descobre o problema, maiores nossas chances de sairmos bem desta”, escreveu o músico no Instagram oficial da banda.

Um momento particularmente emocionante das apresentações aconteceu quando Philippe Seabra, da Plebe Rude, pediu que o poder público fomentasse shows com artistas locais nas Regiões Administrativas. No dia seguinte, Herbert Vianna levou a plateia ao delírio ao também clamar pelo rock. Parafraseando Arnaldo Antunes que cantou um samba durante sua apresentação, “Não deixe o rock morrer, não deixe o rock acabar, Brasília foi feita de rock, de rock para a gente pulsar”… Em sua apresentação Antunes fez um mix de sucessos dos Titãs, dos Tribalistas e de seu repertório solo.

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Paralelamente aos shows principais, o festival tem uma extensa programação cultural durante todo o período no Centro Cultural Banco do Brasil. O público vai poder conferir os consagrados musicais Cássia Eller – O Musical; Renato Russo – O Musical; Cabeça, Um Documentário Cênico; e Cazas de Cazuza. Os ingressos para as peças custam R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira).

Parte das atrações são gratuitas, dentre elas uma mostra de cinema que contam a história de alguns ídolos do gênero musical, entre eles Cazuza – O Tempo não Para (2004), cinebio do cantor, com direção de Sandra Werneck e Walter Carvalho; Blitz O Filme (2019), de Paulo Fontenelle, que conta a trajetória da banda sucesso nos anos 80; o doc musical Barão Vermelho – Por Que a Gente é Assim? (2007), com direção de Mini Kerti. Também com entrada franca, acontecem exposições de fotografia e artes plásticas. A primeira traz uma seleção de cerca de 60 fotos de artistas e personalidades que representam o Rock Brasil, clicadas ao longo das últimas décadas por Cristina Granato, um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro. E haverá também exposições com obras de Luiz Stein e Zé Carratu, artistas plásticos que surgiram junto com o rock brasileiro dos anos 80.