*Por Karina Kuperman
Imagine ter uma composição de Gilberto Gil feita especialmente para você? Agora imagine ter um álbum inteiro de letras e arranjos do mestre e ícone da história da música brasileira. Pois bem, essa é a realidade de Roberta Sá em “Giro”. “É muito gratificante, eu aprendi muito com ele. Compor com o Gil é o que mais me fascina nesse trabalho. É ganhar um diploma ser parceira dele. Gil compôs quatro músicas sozinho e as outras são fruto de parcerias comigo, Bem Gil, Jorge Bastos Moreno, Alberto Continentino e Yuri Queiroga“, conta.
A parceria surgiu lá atrás, em 2016, durante reuniões de domingo na casa do jornalista Jorge Bastos Moreno(1954-2017). Foi nesse ambiente que Roberta teve a ideia de gravar um projeto só com canções do compositor baiano. Pouco tempo depois, Gil a presentou com “Giro“, e, em seguida, veio “Afogamento“, parceria de Gil com Jorge Bastos Moreno. “Tudo começou na casa do meu querido e saudoso amigo Jorge Bastos Moreno. O Gil fez duas músicas, ‘Giro‘ e ‘Afogamento‘, ambas para mim, e como há muito tempo eu já tinha vontade de visitar o repertório dele, chamei o Bem Gil pra produzir e gravar um disco de músicas do Gil que eu tinha vontade de cantar. Foi o Bem Gil que sugeriu ao Gil compor mais inéditas e foi assim que o projeto se transformou em um álbum. Para minha felicidade ainda maior, quatro delas são parcerias minhas com Gil”, explica. Além da produção, Bem Gil cuidou de arregimentar o time de músicos.
Roberta acabou de voltar de uma turnê pela Europa com Gilberto Gil e está retomando a turnê de “Giro“: a próxima data é dia 31 de agosto, no Imperator, no Rio. “Passar por tantos países com um artista como o Gil foi uma experiência única e inesquecível. Eu sempre aprendo muito com ele que é tão generoso”, endossa. “Amo a ideia de circular por vários palcos da cidade. Já fizemos no Circo Voador, que, junto com o Imperator, mantém suas portas abertas bravamente, abrigando diversos estilos musicais. Então, estou animada pra encontrar esse público tão especial de um dos redutos tradicionais de música no Rio”, analisa.
O cenário é outro show a parte. Com assinatura de Valéria Costa tem chamado atenção por onde o espetáculo passa. Tudo isso por conta do artesanato handmade que representa a cultura nordestina, raiz de Roberta e também de Gil. Diversos tipos de tramas, peças de comunidades de rendeiras e tecelãs das regiões Sul e Sudeste fazem parte de um cenário que entrelaça colchas, rendas, toalhas, bolsas e panos. “Minha amiga e parceira de longa data, Gabriela Gastal, assina a direção geral do show. Ela chamou a Valeria Costa, que teve a brilhante ideia de usar o trabalho de artesãs do Brasil inteiro para construir o cenário”, diz. “Quis justamente lembrar que temos no Brasil uma identidade cultural muito forte, e que tem que ser cuidada”, ressalta.
“O figurino assinado pela Helô Rocha do Atelier Le Lis se conectou perfeitamente com essa linguagem. Helô chamou duas bordadeiras que fizeram uma saia toda em macramê com um top bordado, totalmente artesanal. Quando vi, estava rodeada dessa corrente feminina muito potente. Ou seja, a força e a criatividade da mulher brasileira estão presentes no espetáculo. E é justamente isso que vejo no meu dia a a dia, mulheres fortes que sustentam suas famílias e driblam os desafios de viver no Brasil com muita criatividade e amor”, destaca. “A música tradicional, o samba, o forró, o artesanato, isso tudo tem muita potência e é um material muito rico para que a gente lembre: somos um povo só. Uma só bandeira de afeto”. A gente assina embaixo.
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