*Por Rodrigo Pitta
Escrito por mim sobre o meu primo-irmão, muita gente pode dizer que esse texto é “chapa branca”, pois vou desaguar um caminhão de maravilhas sobre este, que apesar de meu sangue, é um dos artistas multimídias mais relevantes que a Bahia produziu nos últimos 30 anos. Essa matéria é na verdade chapa preta, chapa negra, chapa brilhosa da pele escura. É sobre ele mas sobre nós. Artista plástico, compositor, poeta e agitador cultural, Alberto Pitta fundou há 20 anos, apadrinhado por Caetano e Gil o bloco Cortejo Afro. Antes havia sido diretor artístico do legendário Olodum.
Em suas duas décadas de história, o Cortejo reuniu entre os artistas que colaboraram nos desfiles, nomes internacionais da arte, música, como Bjork e o artista Mathew Barney, que produziu uma de suas obras mais conceituadas, Cremaster, durante o desfile do bloco em 2004.
Hoje, vinte anos depois, o Cortejo Afro transformou se em uma atração quase que obrigatória para quem passa o carnaval ou verão em Salvador.
Todas as segundas-feiras na Praça Quincas Berro D’Água, o bloco concentra um público de quase 3.000 pessoas, para ouvir a percussão do bloco que nasceu em Pirajá, na periferia de Salvador, tocar acompanhada dos maiores nomes da musica brasileira. Convidados que prestigiam Alberto Pitta todos os anos.
Em uma noite de ensaios você com certeza vai esbarrar em Caetano Veloso, Regina Casé, Gilberto Gil, Maria Gadú, Jaques Wagner ou até mesmo Naomi Campell, fã declarada do bloco no qual já desfilou.
Pois bem, Alberto Pitta é pop e filho de uma das maiores ialorixás da Bahia, Mãe Santinha de Oyá, minha tia, irmã de meu pai.
Mãe Santinha falecida alguns anos atrás deixou de legado o terreiro um presente da arquiteta Lina Bo Bardi e um movimento cultural que saiu do bairro distante, e ganhou a pista do Circuito Barra-Ondina.
O Cortejo sempre levou muito mais do que abadás coloridos e música axé, levou fantasia, poesia, cultura negra e um repertório relevante e original, que, a cada ano, homenageia uma personalidade ou valoriza aspectos da cultura africana.
Entre os feitos do bloco esta um turnê européia ao lado de Gilberto Gil, por países como Finlândia, Portugal, Paris e Londres.
Na última quinta feira, completando o ciclo de sucessos do bloco, Alberto Pitta foi convidado para ser o Rei do Bloco dos Mascarados de Margareth Menezes, ao lado de Adriane Galisteu.
O remake dos Mascarados 20 anos depois, lembra que após o encerramento do Bloco dos Mascarados, seu público diverso e LGBT, migrou para o Cortejo Afro em busca de liberdade de expressão e encontrou uma fonte infindável de respeito e fraternidade.
Antes de subir ao trio para ser coroado Rei do Bloco do Mascarados, bati um papo com Pitta, em meio a pipoca do Circuito Barra-Ondina, Perguntei qual a importância do Cortejo Afro no cenário do carnaval baiano, vinte anos após seu lançamento? “O Cortejo hoje é de fundamental importância num carnaval que aos poucos vai perdendo as cores, o conceito a estética, dando lugar ao carnanegócio”, afirmou. E fui além: qual momento mais importante da trajetória do bloco? “Tivemos vários momentos importantes, mas destacaria o carnaval de 2017 com Gilberto Gil na Barra, onde ele cantou acompanhado por uma orquestra regida pelo maestro Aldo Brizzi e a percussão do Cortejo Afro.
O Cortejo tem várias cores. Além de estar à frente de toda a concepção e direção do bloco, Alberto Pitta é um dos coordenadores da Fundação Cultural da Bahia e foi por anos colaborador e educador do Projeto Axé.
Em 2019 a marca Farm, vai lançar uma coleção com estampas originais de Alberto Pitt . A equipe da grife realizou uma série de workshops na sede do bloco, em Pirajá, e tem o lançamento da coleção de Alberto Pitta como um dos grandes acontecimentos para este ano.
No carnaval 2019, o bloco Cortejo Afro vai desfilar com o tema “Porque Oxalá Usa Ekodidé”, levando uma mensagem de paz e tolerância. Com sua musicalidade, histórias escritas em panos bonitos, adereços e indumentárias o bloco vai desfilar domingo e segunda-feira (3 e 4/3) no Circuito Barra-Ondina.
O bloco ainda apresentará ala em homenagem ao Afoxé Badauê e ao Mestre Moa do Katendê e outra composta por Mulheres do Axé, representantes de comunidades de terreiros de Salvador.
Os foliões e o público do bloco Cortejo Afro irão participar e assistir experiências estéticas que vão unir dança, música e artes visuais em um mesmo espetáculo. A banda Cortejo Afro animará o bloco fazendo o público cantar, dançar e se divertir do início ao fim dos desfiles.
A intenção de Pitta é resgatar as cores, sons e ritmos do carnaval, que em sua opinião “o tempo se encarregou de apagar, tornando a maior festa popular do mundo, numa pasta só”.
“Os panos bonitos de Alberto Pitta são algumas das cores mais relevantes do carnaval baiano”, disse Caetano Veloso.
“Bloco da paz, bloco de Pitta, bloco do amor”, frisa Margareth Menezes.
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