Durante as quatro semanas em que a Casa Levi’s agitou a cena cultural do Rio de Janeiro, a programação transitou por momentos de euforia, família, estelar, festivo etc. Ontem, foi a vez de a mansão da grife em Botafogo celebrar seu engajamento social e cultural com o projeto Original’s Studio, que apresentou quatro talentos do cenário independente da música carioca. Em sua terceira edição, a primeira aqui no Rio, a iniciativa da Levi’s visa fomentar os novos nomes da música regional e ser um trampolim para o sucesso dessas bandas. “A nossa proposta é fomentar a música independente porque, na nossa visão, outros ritmos já possuem uma abertura maior no mercado. Então, nós queremos usar a visibilidade da Levi’s para apresentar novos nomes do cenário cultural”, explicou a gerente de marketing da marca, Marina Kadooka.
Depois de mais de 50 inscritos no site e um árduo processo de curadoria, a grife selecionou oito bandas que tiveram a oportunidade de gravar uma música em estúdio profissional e, as três mais votadas por decisão popular na página da marca no Facebook, ganharam a chance de subir ao palco. Porém, por causa de um empate técnico, a programação contou com show de quatro grupos, além da super apresentação final dos veteranos Picassos Falsos. No line-up, então, a Casa Levi’s apresentou Comodoro, Drenna, Miss Hell e Vênus Café. Em comum, como condição para a inscrição, todas essas bandas precisam ser residentes do Rio de Janeiro, independentes e terem músicas autorais no repertório. Para a curadoria e escolha das oito vencedoras do concurso, que tem proposta de ser anual, um super time da Levi’s, especialistas musicais e executivos do Deezer, plataforma de streaming parceria da marca, assinou a lista.
Sucesso em São Paulo, a estreia do Original’s Studio no Rio de Janeiro surpreendeu os produtores nos bastidores do projeto. Como nos contou a gerente de marketing da Levi’s, Marina Kadooka, os mais de 50 vídeos enviados tinham, além de qualidade, uma peculiaridade regional. Apesar de ser pensado para fomentar as bandas de rock, no Rio de Janeiro, o projeto ganhou novas formas por causa da mistura enraizada na cultura carioca. “Foi uma surpresa muito grande a gente ter recebido mais de 50 inscrições porque no Rio este ainda é um projeto novo. Embora seja uma iniciativa pensada para bandas exclusivamente de rocks, como é muito forte em São Paulo, no Rio a gente ampliou para outras vertentes por causa da mistura de ritmos”, contou Marina que, entre as candidatas, encontro ritmos de folk, soul e MPB.
Entre os vencedores que se apresentaram ontem na Casa Levi’s, a mistura de sensações eram as mais prazerosas e animadoras. Ora honrados, ora estimulados, os músicos destacaram a importância de uma grife como a Levi’s, com repercussão e visibilidade no mundo inteiro, se preocupar em estimular o cenário cultural das cidades. Em tempos de crise, ações como essa ajudam a manter a chama da resistência acesa em quem sonha em viver da sua arte. E mais. Como disse Dan Menezes, vocalista da banda Vênus Café, uma das selecionadas, mais que apresentar, a Casa Levi’s ainda superou as expectativas em termos de estrutura e organização. “Para nós, que batalhamos todos os dias para conseguir fazer shows na cidade, ter um espaço como esse com uma super estrutura, staff, camarim e tudo mais é sensacional e estimula a nossa carreira. Fora que é muito bom que, no mesmo palco que nós tocamos, no outro dia será a vez de alguém tão grande e importante como o Erasmo Carlos. Isso dá ainda mais visibilidade e credibilidade para o nosso trabalho”, disse Dan Menezes que à frente de sua banda faz um rock internacional abrasileirado. “A gente pega influências clássicas, como Queen e AC/DC, e as localiza no cenário da banda, que é século XXI, no Brasil, Rio de Janeiro. Então, a gente faz uma tropicalização desse conceito em um trabalho que chamamos de ‘rock’n roll tupiniquim’”, apresentou o vocalista da Vênus Café.
Outro ponto positivo que também foi destacado entre os artistas vencedores do concurso Original’s Studio foi a gratuidade do evento. Com portas abertas ao público e a proposta de reunir diversas tribos em uma belíssima mansão do começo do século, a Casa Levi’s tem lotado em todos os dias de sua edição de estreia no Rio de Janeiro. E essa é uma ideologia que faz parte da banda Comodoro, como o vocalista, Fred Rocha, contou. “Fazer um evento que seja aberto ao público, totalmente gratuito, é uma premissa da banda. A gente fez o lançamento do EP na rua e nosso primeiro show também foi de graça. A banda gosta de se apresentar gratuitamente porque, assim, a gente tem um retorno maior do público e entendemos que o nosso trabalho precisa disso”, explicou o vocalista da Comodoro. Em relação ao som da banda, Fred Rocha contou que o grupo é um dos exemplos apontados por Marina Kadooka, que vai muito além do rock tradicional. “Nós nos conhecemos há muito tempo e já passamos por diversas experimentações, bandas e projetos diferentes. Por conta disso, na Comodoro, a gente apostou nessa pluralidade em um som sem amarras, que tem influência do bolero ao pagode. A gente quer que todos os segmentos musicais se encontrem na gente”, disse Fred Rocha.
Do subúrbio do Rio de Janeiro, a banda Drenna ainda destacou outra conquista como a vitória no concurso Original’s Studio. Segundo a vocalista Drenna, que dá nome à banda, o projeto da Levi’s permitiu que o grupo gravasse uma canção que havia ficado de fora do último EP, mas que é uma grande aposta dos artistas. Como selecionada pelo projeto, a Drenna conseguiu gravar em estúdio profissional a nova faixa de trabalho da banda. “Por causa da edição do nosso último trabalho, ela acabou ficando de fora e, com a iniciativa da Levi’s, conseguimos incluí-la agora. Para nós músicos é sensacional que exista um projeto com essa estrutura e comprometimento valorizando a produção local”, disse a vocalista que definiu o resultado do som de sua banda homônima como 100% original. “Cada um na banda possui influências diferentes e a gente tenta explorar isso para que nosso trabalho seja singular. Por isso, eu vejo que estamos sempre nos modificando, sem que percamos nossa identidade do rock. A cada álbum temos uma nova proposta e nunca sabemos como será o próximo trabalho”, detalhou.
Mas não foram só os novos talentos ou nomes promissores da cena cultural carioca que agitaram a noite de sexta-feira na Casa Levi’s. Para fechar o line-up, a banda Picassos Falsos levou seu som característico para a empolgada plateia da mansão. Veteranos, os músicos trilham careira desde os anos 1980 com uma linguagem musical que passeia por todas as experiências da cultura brasileira. Apesar de terem criado a banda em um momento em que o rock efervescia na arte nacional, a Picassos Falsos acredita em uma identidade mais plural, que agrega do samba ao funk. “A gente nunca se considerou de uma geração dos anos 1980. Apesar de termos gravado o nosso primeiro álbum em 1987, a gente tem se renovado e descoberto novos caminhos a cada trabalho. Nesse processo, acabamos conhecendo e estando em contato com as novas gerações”, disse o vocalista e compositor Humberto Effe.
Grato em fazer parte da programação diversa da Casa Levi’s, o músico também destacou a importância do espaço para a noite carioca. Com a crise que a cultura da cidade vem passando, Humberto Effe contou que muitas casas de show estão fechando as portas e, com isso, diminuindo as chances de trabalhos para bandas independentes. “O Rio de Janeiro está sentindo uma enorme falta de movimento cultural de grandes proporções. Nós viemos até de um momento de riqueza artística na cidade, mas, agora, falta espaço. Então, essa iniciativa da Levi’s é excelente por ter um acesso fácil, ser de graça e valorizar a cultura da cidade”, comemorou o vocalista da Picassos Falsos.
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