*Por Rafah Moura
“Recife por ser uma cidade muito antiga, 485 anos, também tem uma atmosfera meio gótica, escura, uma arquitetura histórica, então exista um grupo de góticos no Recife Antigo. E foi daí que surgiu Johnny Hooker, dessa mistura do brega, com os góticos, só aquele tempo e aquele recorte poderia ter gerado esse artista que eu sou”. Foi assim que o astro do glam rock, pop e que faz um revival do tropicalismo começou esse papo com o site Heloisa Tolipan. “Recife é um lugar muito intenso pela cultura latina. É dramátic0, passional. Mas, ao mesmo tempo, é contraditório, porque, apesar de ser um lugar com uma cultura muito pungente, é um lugar com uma visão altamente machista, muito conservadora. São duas facetas”, reflete.
Essa alquimia serviu de inspiração para Hooker em seus dois primeiros álbuns: ‘Eu Vou Fazer uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!’, 2015, e ‘Coração’, 2017, e para o terceiro que sai ainda nesse semestre e faz uma ode ao sexo, ao amor livre, à liberdade e ao socialismo. “O primeiro fala do amor romântico, o segundo sobre o amor com uma perspectiva mais política, e esse traz o sexo, arma de empoderamento pessoal, de resistir, de reconhecimento contra todo esse sistema de opressões que passamos. Tem um pouco de sofrimento, claaaro, porque sempre roem um pouquinho, mas é bem quente. ‘Amante de Aluguel‘, que é o primeiro single, já traz esse calor”, define.
No dia 20 de maio, o artista lança, em todas as plataformas digitais, o single ‘Cuba‘, com uma letra que diz ‘só de te ver, eu penso em largar tudo e fugir com você para Cuba’. Em junho, o cantor se joga no Velho Mundo em sua terceira turnê europeia que vai agitar a Inglaterra, Irlanda, França, Noruega, Portugal, com o Rock In Rio Lisboa. “Estou muito feliz de estar voltando e me reconectando com as pessoas”, comemora.
O clima tropical úmido de Pernambuco aciona um calor em todos os sentidos, trazendo uma sensualidade muito grande, um fervor que salta o corpo. “Recife é uma das capitais culturais do mundo, temos o caboclinho, frevo, maracatu, o brega muito forte. Tem toda uma convergências de manifestações, inclusive o mangue beat que se misturou com outros ritmos por conta dessa globalização da música regional. Eu tenho muito orgulho do meu lugar, mas, ao mesmo tempo… Todo o patriotismo exacerbado não é saudável. É um trabalho de formiguinha, aos poucos fazendo as pessoas entenderem que Recife precisa ser um lugar mais plural e com respeito à diversidade, frisa.
Hooker integra um time de artistas altamente ativista e que defende valores de igualdade e liberdade de direitos. Vemos a ‘arte ativista’, principalmente o movimento LGBTQIA+ ganhando cada vez mais visibilidade. Demonstra que estamos vivemos um momento de mudança, mesmo que ainda pequena, no mercado fonográfico. “No momento em que a cultura é atacada ou perseguida, mais do que nunca se torna urgente a necessidade de se criar movimentos de resistências. E a pandemia foi muito triste por conta disso, perdemos os nossos trabalhos, a cultura foi a primeira a parar a última a voltar. Em termos governamentais, ela está sendo sufocada, os órgãos que não foram extintos, estão sucateados, uma estratégia muito bem arquitetada para findar. É triste que o Brasil com sua diversidade não consiga ser plural. O Brasil é um filme de terror, mas a brasilidade é uma coisa linda. A brasilidade é quente, é complexa, com afeto, com resistência. O nosso país foi construído em cima de um grande cemitério, precisamos encarar esse novo momento com essa perspectiva em que deixamos isso acontecer. E como Caetano Veloso fala: ‘o Brasil tem potencial de salvar o mundo, se quiser'”, sinaliza.
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