*Por Domênica Soares
Com o objetivo de uma reflexão e levar à sociedade a um mergulho profundo nas questões da gordofobia, gênero e opressão, Sara Donato e Jupi77er divulgaram capa e as participações do segundo álbum, intitulado “A Grandiosa Imersão Em Busca do Novo Mundo”, que será lançado amanhã, dia 18. O duo, que desde 2016 se juntou na música com o objetivo de combater a gordofobia, o machismo, racismo, LGBTfobia e todo tipo de opressão, convidou grandes nomes da música para compor essa nova produção musical. Dentre eles estão: os rappers Djonga (“Pipeline”), Monna Brutal (“Submarino”), Kamau e Cris SNJ (“Nascente”), a banda Mulamba (“Cardume”), a cantora Danna Lisboa (“Espelho”), além das slammers Ingrid Martins (“Fôlego”) e Luz Ribeiro (“Aquário”). De acordo com Sara, “correria” é a palavra certa que define a carreira. “Eu larguei uma vida no interior pra vir para capital e trabalhar só com o rap. Jupi77er saiu do emprego e fomos pra rua vender CDs de mão em mão, sair da Zona Norte de São Paulo até Cotia para gravar e dessa correria que nasceu nosso primeiro álbum, que até então era para ser apenas um disco, mas deu tão certo e estamos há quatro anos viajando Brasil realizando nossos sonhos e levando nossos ideais em cada palco que pisamos”, conta a cantora.
Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, Jupi77er comenta que decidiram produzir uma nova obra em formato de álbum com o objetivo de continuar a caminhada do Rap Plus Size, visto que o primeiro disco foi lançado há três anos e o público já estava cobrando uma novidade no mercado da música. Pensando nisso, os dois amigos tiveram a ideia de aprofundar os debates que trouxeram nesse primeiro álbum. “Trazer uma discussão sobre novas possibilidades e mostrar soluções, pois essa sempre foi a intenção do Rap Plus Size. Então começamos a desenhar o álbum com uma temática. À princípio o projeto recebeu um nome intencional, temporário, apenas para definirmos o conceito do disco: “Aprofundando as Ideias”, e passamos a buscar por referências marítimas, estudando e pesquisando e até entrevistando especialistas da área da Oceanografia. Assim fomos chegando nos nomes dos sons e criando uma narrativa”.
Além disso, o rapper conta que levaram os nomes dos sons para o produtor Vibox e, a partir dessas referências, os beats foram ganhando forma e um ambiente, tudo isso pensando na imersão e na pressão subaquática em cada uma das faixas. Nesse processo, ao passar do tempo, cada som foi ganhando uma sonoridade específica, dando o tom da atmosfera que desejaram levar no novo disco. “Após a criação de cada beat já dávamos início à composição das letras. Algumas já tinham refrão, como ‘Espelho e Nascente’, foram os primeiros a serem criados. O refrão de Nascente nasceu depois de uma batalha de rima na nossa quebrada, a batalha do boi malhado, foi uma noite de lua cheia e tivemos uma experiência incrível com a galera que frequentava, sentimos o poder do hip hop aquele dia e voltamos para casa cantando e compondo o refrão. Assim, diante de nossas experiências e aliadas ao conceito que tínhamos desenvolvido, o álbum foi nascendo, crescendo e tomando a forma que desejamos desde o início”, afirma. Jupi77er conta também que as grandes parcerias formadas neste trabalho foram de extrema importância, dando a oportunidade para que o Rap Plus Size seja reconhecido e que sua força e importância se solidifique cada vez mais.
Sara explica que essa essência se baseia em sair do raso e mergulhar para o fundo, em resumo, incentiva que as pessoas parem de apenas apontar os problemas e busquem soluções, novas possibilidades de viver e construir algo novo, entendendo que esse cenário vai vir do diverso, do coletivo e do que foge da norma do sistema. Assim, o duo consegue discutir assuntos pertinentes na sociedade através do som.
Jupi77er diz que levar temas como esses para a sociedade é cada vez mais necessário, dessa forma a dupla busca construir diálogos, que segundo ele, é a maneira mais eficiente de conscientizar as pessoas. “O Rap é o diálogo que o Hip Hop propõe como movimento. É a nossa ação direta através da música. Alcança muito mais gente e informa, faz as pessoas questionarem a realidade que vivem e pensarem em alternativas. Essa é a discussão que a gente precisa e, ir além, é buscar uma nova possibilidade de sociedade que não seja violenta ou tóxica para os indivíduos e coletivos que a integram”, traduz.
Sobre a questão do padrão do corpo na sociedade atual, Sara Donato explica que ela e Jupi77er são duas pessoas que fogem dos padrões e que seus corpos são vendáveis e dentro do mercado musical e que essa questão está sempre em voga. “Já abaixaram nosso microfone na hora das músicas, alguns pediram para alterarmos as letras de nossas composições e outros desejavam até que falássemos menos de feminismo”, conta. De acordo com ela, esse padrão é projetado e até mesmo quem acredita estar dentro, sofre. Em pleno ano de 2019, ela acredita que se aceitar ainda é uma luta para muitas pessoas, porém acredita que se as pessoas olharem com mais carinho uma para outras e se cobrarem menos já é um grande passo. Ainda sobre esse tópico, Jupi77ter descreve um pouco sobre como enxerga a representatividade no mercado da música e relata que para ele a diversidade de corpos nesse mundo é essencial e se torna um mecanismo de resistência como forma de afirmar sua existência diante da sociedade. Contudo, explica que é essencial que as pessoas se reconheçam neste lugar também. “Representatividade no mercado musical é o que a Malka faz com TravaBizness que fortalece as travestis, e muitos trans, homens trans, não binários. Isso é empoderamento de verdade, não fica só no discurso. Vai lá e faz, mostra, aponta, cria, subverte! É nessa represent-ATIVIDADE que eu acredito”.
Sobre suas inspirações, ele cita primeiro Emicida, por sua trajetória e importância para o mercado do RAP. Além disso, enfatiza que a maior parte de suas referências estão em seu novo álbum, como por exemplo Djonga e Sara Donato. “Me inspiro em gente que faz o Hip Hop acontecer, eu ando com minhas referências e minhas referências andam comigo”, afirma. Já Sara diz que se inspira muito em que está por perto. “Aprendi cedo que se alegrar com as conquistas dos meus é uma forma de me realizar também. Olhar para cena do rap e ver a diversidade me inspira, olhar minhas amigas fazendo arte me inspira, ver minha mãe feliz me inspira, ver meus amigos que largaram o rap mais estão vivos, me inspira demais”. Sara conta que fora dos palcos curte ficar em casa, um pouco brava, implicante, ama cozinhar, assistir série, assistir clipes aleatórios no YouTube, ver memes e adora receber convites para almoçar.
Já Jupi77ter não hesita em dizer que é chato, insistente, um pouco egocêntrico e muito generoso. “Estou sempre rindo, contando piada e querendo aparecer. Até fora dos palcos eu quero aparecer. Na verdade, depois que eu retifiquei meu nome no cartório para Jupi77er e adotei o nome próprio para o novo nome artístico, eu passei a me entender como artista e como pessoa. Estou trazendo cada vez mais minha verdade para os palcos, como se não desse para separar um do outro, porque é a mesma pessoa e sempre foi”.
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