Por Pedro Willmersdorf
Uma mulata com um tufão nos quadris. Assim, à primeira vista, poderia parecer mais um comentário carnavalesco sobre uma cabrocha desfilando na Sapucaí. Mas há uma outra mulata, importada a peso de ouro pelo Rock in Rio, que decidiu mostrar mais uma vez do que é feito um corpo poderoso.
E quem esteve presente no Parque dos Atletas, na primeira noite desta edição do festival, pôde ter a certeza que Beyoncé é muito mais que um par de pernas bem coordenadas: ela é entretenimento puro. Do formato compacto (e por vezes anticlimático) de seu show ao término apoteótico ‘nos braços’ do público, a diva americana consegue construir uma espécie de ópera-pop dividida em, basicamente, três atos que expõem sua versatilidade.
O primeiro, mais longo, exibe uma Beyoncé dona de hits poderosos, lançados em sequência, como ‘Who Run The World’, ‘End of Time’, ‘Baby Boy’, ‘Naughty Girl’ e ‘Why Don’t You Love Me?’, com trocas de roupa um tanto quanto dispensáveis entre eles (assim como os longos vídeos no telão, uma máxima das apresentações pop atuais).
Em seguida, surge a Beyoncé com um vocal de arrepiar três gerações da família da Miley Cyrus. Ali, ela se mostra como uma representante nata do R&B a serviço do pop, em ‘1+1’, ‘Irreplaceble’ e ‘Love on Top’.
Um momento de retomada de fôlego antes de emplacar seus dois maiores sucessos (como uma extensão do primeiro ato), distantes no tempo, mas próximos em excelência: ‘Crazy in Love’ e ‘Single Ladies’. Uma prévia frenética para o ato derradeiro, em que Beyoncé nos pega pela emoção, ao emendar ‘I Was Here’ e ‘Halo’, já entre as grades, ao lado de seus fãs e dando sua palavra (quase) final, como uma verdadeira papisa do pop: ‘Deus os abençoe’.
Mas o final de verdade era ainda mais sagaz, digno de uma profissional de primeira, que sabe dialogar com seu público e conquistá-lo. ‘Eu tenho um presente para vocês’, anunciou, voltando ao palco para surpreender a todos com o hit funkeiro ‘Passinho do Volante’ (aquele do ‘ah, lelek, lek, lek’). Uma catarse generalizada que somente poderia ser alcançada por alguém que, além de conduzir sua carreira com maestria, também comanda sem ‘barbeiragem’ sua trajetória sobre os palcos. Um ás no ‘volante’ do pop: isso é Beyoncé.
Fotos: Raul Aragão (I Hate Flash)/Divulgação
O primeiro dia de Rock in Rio
Um início de caminhada morno para mais uma edição do festival, com uma apresentação problemática de Maria Rita no Palco Sunset, repleta de falhas técnicas e calcada no carisma da intérprete e sua empatia com o público. A participação da belga Selah Sue amenizou o climão, com seu reggae-pop delicioso.
No abrir dos trabalhos do Palco Mundo, um tributo abaixo da média a Cazuza, com performance burocráticas de nomes como Paulo Miklos, Maria Gadú, Bebel Gilberto e Rogério Flausino. Com Ney Matogrosso e Frejat em cena, a homenagem ganhou tintas mais humanas e espontâneas, engrenando um pouco no final. Pelo menos.
Em seguida, com a eficiência de sempre (mas talvez sem a mesma energia anestesiante de 2011), Ivete Sangalo colocou todo o público para dançar seus maiores hits e ainda se emocionar com a cantora, visivelmente comovida com mais uma participação no festival.
E, por fim, antes da grande diva da noite, subiu ao Palco Mundo o DJ francês David Guetta com seu eletro-farofa de gosto duvidoso, mas que agradou maciçamente a plateia presente. Muitas palavras de ordem, remixes com batidas ‘fritadas’ e poucas produções próprias no setlist: assim foi a apresentação de Guetta.
Fotos: Vinícius Pereira
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