Há 12 anos, o Planet Hemp anunciava o seu fim e, mesmo que tenha se reunido nos últimos três anos para algumas apresentações pontuais, o retorno definitivo da banda só foi realizado na noite de ontem, com um show completamente lotado na Fundição Progresso, na Lapa. Por lá, o grupo que conquistou seu sucesso no início dos anos 1990 mostrou que a força e a influência continuam intactas, comandando a plateia do espaço com as rimas de inquietação social e mantendo o espírito crítico que transformou seus integrantes em ídolos definitivos do hip hop nacional.
Antes de o relógio marcar 2h e o Hemp subir ao palco, o público já aguardava ansioso no interior da casa de shows, com grande parte dos rapazes sem camisa para aguentar o calor senegalês que fazia dentro do espaço. Mas bastou os primeiros riffs de Rafael Crespo e Formigão combinados com as porradas de Pedrinho, para que a galera começasse a pular, rodar a camisa ou acender o isqueiro, levantando as mãos e gritando os versos de volta para os ídolos. Do início ao fim, Marcelo D2 pulava de um canto ao outro do palco, com energia incomparável, enquanto BNegão se mantinha à beira do palco, incentivando o público: “Rodaaa!”, gritava, enquanto uma roda punk gigantes ia girando no centro da pista.
A mistura de rock e hip hop do grupo, por sinal, continua se mantendo tão atual e energizante quanto era na década de 1990 e, por mais que Marcelo D2 tenha precisado de algumas colinhas ao longo do repertório ou o entrosamento com BNegão parecesse um pouco fora de sincronia em alguns momentos, não há dúvidas de como as letras do grupo permanecem relevantes e necessárias. Por mais que “Usuário”, disco de estreia do grupo, tenha sido lançado há exatos 20 anos (e esse aniversário tenha sido o motivo inicial da retomada do grupo), os assuntos abordados no álbum, em letras como as de “Legalize já”, “Bala perdida”, “Futuro do país” e “A culpa é de quem”, continuam atuais e pertinentes. E, se por um lado isso prova a qualidade atemporal do Planet Hemp, por outro mostra como as soluções sociais do país evoluíram lentamente ao longo dessas duas décadas.
Antes de uma “homenagem ao Rio”, com o hit “Zerovinteum”, sirenes tomaram conta do palco e BNegão improvisou com Marcelo D2 alguns versos de protesto, gritando com a voz firme: “120 tiros em cinco jovens! 120 tiros em cinco menores! Vão tomar no c***, seus filhos da p***!”. Logo na sequência, D2 emendou: “Vocês ficam aí hoje tomando champanhe e guaraná, mas nos anos 90 era assim que a gente fazia rap”, bradou, enquanto o público estourava em aplausos.
Bem, a essa altura, não é surpresa para ninguém que o show tenha sido tomado por uma nuvem de fumaça da plateia, que transformava a Fundição Progresso em uma espécie de sauna seca, mas para quem esteve presente, a mistura de fãs era apenas mais uma prova da longevidade do grupo: na pista, admiradores que viram o surgimento da banda nos anos 1990 e outros que acompanharam seus movimentos recentes, já com o status de ícones, se misturavam e cantavam com igual empolgação outros sucessos como “Quem tem seda?” e “Ex-Quadrilha da fumaça”. E, apesar de ter demorado mais de uma década para um retorno definitivo, o Planet Hemp mostrou que 2015 ainda pode render ótimas surpresas.
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