Pretinho da Serrinha transformou o lançamento de seu primeiro disco em um momento de libertação na sua carreira. Conhecido por ser um exímio sambista, o músico trouxe todas as influências que recebeu ao longo dos anos para criar o CD Som de Madureira. Carregando a mais profunda essência do cantor, as 11 faixas contam com um misto de batidas e jongos com guitarras e percussão que dão o tom do verdadeiro gênero que é a cara do intérprete: o brasileiro. Enaltecendo ainda mais a sua trajetória, o cantor ainda conta com fortes parcerias no disco de grandes nomes da música como Lulu Santos, Maria Rita, Quarteto em Cy e Zélia Duncan.
“Como músico, aos 40 anos, já realizei tudo o que poderia. Toquei com todos os nomes que você pode imaginar. A minha história já está feita. Acho que não existe nenhum intérprete no Brasil, nascido no morro, que subiu duas vezes no palco principal do Rock in Rio, uma vez com artista internacional e outra com nacional. Sabendo disso, este CD foi uma tentativa de mostrar a pessoa que realmente sou, livre de amarras e julgamentos. Vou do rap até a Bossa Nova, a minha música é livre”, garantiu. Lançado em dezembro, o primeiro show de Som de Madureira está previsto para o final de fevereiro. Uma apresentação marcante no qual Pretinho pretende escancarar a sua identidade. Não dá para perder, né? Vem saber de tudo!
É claro que o samba é a casa de Pretinho da Serrinha e isto nem mesmo ele nega. “Nasci e fui criado nesta melodia. Devo muito ao gênero, mas, ao mesmo tempo, não sou obrigado a me prender a nenhum estilo”, garantiu. E ele fez questão de não se limitar mesmo. O disco conta com seis canções autorais e cinco regravações de grandes ícones que ele adora como Jorge Aragão e Gonzaguinha. Em vez de regravar sucessos que acumulou ao longo da carreira, o rapaz fez diferente e apostou em sua essência. “A minha ideia era sair um pouco desta memória do compositor que fez a canção de sucesso de outros artistas como Seu Jorge e Tribalistas. Quero construir a minha história. É uma nova página na minha vida”, garantiu.
Ao todo, foram três anos de dedicação a Som de Madureira. Apresar de ter oscilado entre momentos de intensa dedicação e momentos de foco em outros trabalhos, o disco é resultado de um processo cuidadoso de montagem. “Eu me cobro muito. Fiz de tudo para entregar o meu melhor”, comentou. E assim foi. Com uma mistura perfeita de ritmos fortes entre batucadas e jongos, o CD é totalmente voltado para a percussão trazendo influências do samba e da Bossa Nova como Chico Buarque e Caetano Veloso. Neste processo de mostrar seu verdadeiro eu, Pretinho da Serrinha acabou revelando detalhes de suas origens de quem foi criado no reduto do Império Serrano, no Rio de Janeiro. “As músicas falam muito sobre mim. Trouxe muitas lembranças do meu avô logo na primeira faixa e, na sequência, várias influências que tive por ter crescido na Serrinha. Junto a isto, inclui sons mais modernos como guitarra ao jongo. Quis misturar e modernizar o estilo”, salientou. Desde tambores que trazem o passado familiar a guitarras que empregam a atualidade de sua música, tudo isto pode ser encontrado nas 11 faixas do CD.
Já que estamos falando de um encontro com o verdadeiro Pretinho, é claro que grandes amigos e parceiros não poderiam ficar de fora. O disco conta com a ajuda de grandes artistas da música brasileira, mas que, para o cantor, se resumem a amigos do peito: Lulu Santos, Maria Rita, Quarteto em Cy e Zélia Duncan. “Eu quis trabalhar com pessoas que admiro e considero muito. Fico muito mais feliz quando trabalho com a minha turma. São pessoas com quem converso mais de três vezes na semana e marco de sair para matar a saudade”, contou.
Além destes ícones, Pretinho também teve a ajuda de Prateado e Leandro Fab na produção deste CD nos arranjos e em composições, respectivamente. Os três mantêm uma parceria duradoura de outros carnavais, sempre incentivando os trabalhos uns dos outros. Para Pretinho, traçar uniões como esta é importantíssimo já que Prateado e ele, por exemplo, são pessoas com histórias de vida parecidas. Eles sabem o que é ser um negro da periferia tentando buscar o seu lugar ao sol. “É um virando os holofotes para o outro, vamos puxando e se ajudando para levantar o nosso samba. Temos que nos unir para cada vez ter mais gente nos palcos conosco, não podemos deixar acabar. Temos que nos abrir para trabalhar sempre com pessoas assim, porque já sofremos muito ao longo da nossa caminhada. É necessário incentivar o nosso profissionalismo. É preciso estar sempre atento e resistindo”, comentou.
Quando perguntado pela música produzida na periferia atualmente, Pretinho comentou que as mudanças são bem-vindas, porém a diversidade deve ser sempre uma palavra de ordem. “Cada um busca a sua verdade. Quando cresci, o samba era tudo o que conhecia. Hoje em dia, as coisas mudaram no morro. Este gênero já não é mais tão popular. Enquanto isso, o meu filho adora o rap e a música que mais toca nas comunidades é funk. Acho ótimo, mas também é necessário abrir espaço para outros estilos. É preciso ter mais referências para atrair cada vez mais pessoas e formar cantores”, analisou. Trabalhando sempre para levar canções de qualidade, Pretinho da Serrinha é o exemplo vivo de representatividade que temos no samba.
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