Prestes a lançar o novo álbum, o músico Igor de Carvalho afirma: “Eu acho um absurdo ser normal!”


Para o pernambucano, a cena artística do Nordeste é muito rica de talentos: “O menino que nasce aqui quer ser artista, e não jogador de futebol!”

Provocativo, consciente e assertivo, o pernambucano Igor de Carvalho lançou o singleEu acho um absurdo ser normal. Presente no novo álbum Cabeça Coração, que contém a participação de nomes como Zélia Duncan, a música é um questionamento a tudo que a sociedade caracteriza como normativo. Com todo o seu sotaque e jeito manso e amigável de falar, Igor conversou com o site HT e revelou um pouco sobre a cena musical de Pernambuco, além do seu atual projeto.

Igor de Carvalho (Foto: Divulgação/Flora Negri)

Igor de Carvalho (Foto: Divulgação/Flora Negri)

Se você conhece o trabalho do cantor, com certeza não imagina que já representou o oposto do que é hoje. Ele começou a carreira artística aos 20 anos, mas, antes, foi o engravatado do escritório, levando sua vida da forma mais padrão possível. “Eu estudava administração de empresas, nada a ver, né? Usava uma gravata com uma camisa social e ficava em frente a um computador o dia inteiro. Agora, eu virei esse músico maluco”, contou, em tom de brincadeira. Logo em seguida, continuou explicando melhor a sua realidade: “Eu comecei a tocar violão despretensiosamente aos 19 anos. Geralmente, os artistas começam muito cedo, com 7 anos já tem aquele estímulo dos pais. Comigo foi ao contrário. Já adulto, cursando uma faculdade, eu peguei o violão e comecei a tocar sozinho em casa. Acabei aprendendo do meu jeitinho e logo surgiram as primeiras canções. As portas foram se abrindo e eu me reconheci enquanto artista. É louco, né? Eu me encontrei”.

Aos 24 anos, ele começou a compor e não demorou muito para que tivesse em mãos o seu primeiro disco completo A TV, a Lâmpada e o Opaxorô. “Fiz uma compilação de canções e para ser tudo bem redondinho eu encontrei esses três pilares. A TV que representa o cotidiano, a lâmpada, a inspiração e o Opaxorô, a espiritualidade”, disse. Hoje, aos 30 anos e inserido na cena musical de Pernambuco, o músico se vê influenciado pela musicalidade do lugar. “Aqui, em Pernambuco, eu costumo dizer que é a fonte. Nós temos ciranda, caboclo, maracatu, uma série de possibilidades que vamos acrescentando na nossa sonoridade de alguma forma. O Nordeste é um celeiro de pessoas que vivem da arte. Somos um clã cultural. O menino que nasce aqui não quer ser jogador de futebol, quer ser artista”, afirmou.

Com toda essa arte latente, muitos músicos precisam se unir para conseguir maior voz pelo Nordeste. “O eixo Sul e Sudeste toma muito espaço. O que vemos é muita gente daqui, que quando ganha alguma notoriedade, migra para São Paulo ou Rio de Janeiro. O Nordeste tem muitas bandas. Então, por essa grande quantidade de talentos, temos que entrar em acordos e nos reconhecer em nossas dificuldades para fazer a roda girar. Se não for na coletividade, as coisas não funcionam mesmo”, afirmou o cantor, citando nomes como Flaira Ferro, Marcelo Rangel e Juliana Holanda como parceiros que dividem as barreiras e se fortalecem em conjunto.

Para Igor de Carvalho fazer arte e política são indissociáveis (Foto: Divulgação/Flora Negri)

Para Igor de Carvalho fazer arte e política são indissociáveis (Foto: Divulgação/Flora Negri)

Mesmo em meio a esse contexto, Igor encontrou no seu amor pelo o que faz, os motivos para continuar na música. “Eu sou artista independente, então todo dia eu faço algo em prol do meu projeto. Eu acabo sendo um pouco de tudo: fotógrafo, jornalista, produtor. O que for preciso, estou a postos. Acabo conquistando esses espaços para fazer tudo funcionar. É uma rotina muito doida, conforme vão surgindo as demandas, tenho que me virar nos 30”, admitiu. Nesse dia a dia imprevisível, ele lançou no início do mês o primeiro single do seu novo álbum. A música “Eu acho um absurdo ser normal” veio, segundo o compositor e cantor, para tratar de tudo aquilo que a sociedade considera como norma, mas não deveria ser: “A intenção é questionar as normas atuais, desde um lixo jogado na rua até os absurdos como a negação dos direitos humanos. É uma tentativa de questionar para propor novas ideias. Quero instigar reflexão”. O álbum no qual o single está inserido é o Cabeça Coração, que conta com as participações de Zélia Duncan, Johnny Hooker e do português Manel Cruz, e será lançado no dia 4 de janeiro. Para Igor, esse novo trabalho é mais direto e objetivo do que o primeiro álbum: “Nesse trabalho eu falo de amor, partindo do passional e do racional”. E prosseguiu contando sobre as expectativas para Cabeça Coração: “Eu faço música para as pessoas gostarem. Não acredito nessa história de que músico compõe, toca e canta para ele próprio. Acho egocêntrico demais. As músicas estão no mundo para as pessoas se identificarem e tomarem para elas. Estou aqui na expectativa de que gostem do meu trabalho”.

No clipe do single lançado, aparecem vários recortes com notícias jornalísticas em meio à letra da música. Utilizando reportagens recentes e de cunho político, o músico não acredita na separação entre política e arte. “A partir do momento que você toca uma música, independente do assunto, é política. É um ato de resistência ser artista nesse país em que a cultura é pouquíssimo valorizada. Se você pegou um violão para tocar, já é um ato político. Nesse contexto no qual que estamos inseridos é como estar com a faca e o queijo na mão para fazer arte como forma de transformação social. E tem gente que faz isso com músicas que falam de amor. Não tem nada a ver com Bolsonaro ou com PT”, reforçou.

Muito orgulhoso de hoje fazer o que ama, Igor diz não se arrepender das escolhas de vida (Foto: Divulgação/Flora Negri)

Muito orgulhoso de hoje fazer o que ama, Igor diz não se arrepender das escolhas de vida (Foto: Divulgação/Flora Negri)

Em 2019, Igor pretende rodar o Brasil com o show Cabeça Coração, começando em janeiro com o show de estreia, em Pernambuco. Muito orgulhoso do próprio trabalho, ele diz não se arrepender das escolhas que fez: “Não tem algo mais bonito do que ser feliz fazendo o que você optou. Eu costumo dizer que o pior trabalho é aquele que você acorda na segunda-feira esperando pela sexta”. Quando perguntado sobre a rotina anterior, como administrador, ele demonstrou mais uma vez estar no lugar certo. “Acho que eu não tinha muita compreensão de felicidade, sabe? Eu até era feliz naquela época, mas agora sou muito mais. A partir do momento que me encontrei, eu pude vislumbrar como a felicidade é ampla”, concluiu.