Por onde anda Alexandre Lucas, ex-Fanzine, cantor do principal tema romântico de “História de Amor”?


A novela “História de Amor” voltou às tardes da Globo, trazendo sua trilha marcante, incluindo “Uma História de Amor”, música do grupo Fanzine cantada por Alexandre Lucas. O cantor, que deixou o grupo em 1998, planeja novos lançamentos e shows com seu filho, Lucas Preto. Com mais de 400 canções gravadas, Alexandre destaca o impacto da música na novela e no rádio. Apesar de rumores sobre doença e conversão religiosa, ele afirma ser ateu e paciente renal em tratamento. Crítico do streaming, defende melhores repasses para músicos e valoriza a música como ferramenta de transformação

*por Vítor Antunes

Desde a última segunda-feira, está sendo exibida nas tardes da Globo “História de Amor“, novela de Manoel Carlos. Um dos símbolos da trama, além de sua atmosfera solar e das malcriações de Joyce (Carla Marins), é o tema romântico principal, que tem o mesmo nome da novela e que ladeia em importância com a música de abertura, “Lembra de Mim“, de Ivan Lins. Música do grupo “Fanzine”, “Uma História de Amor” é cantada por Alexandre Lucas, músico e compositor que, desde 1998, não faz parte do conjunto. “Essa é a música que me lançou no mercado na época da banda Fanzine e um retrato aí importante da minha carreira ali nos anos 90 e que agora tá voltando na reprise de ‘História de Amor’.”

Para este ano, também aproveitando a exposição que a reexibição da novela traz, Alexandre planeja gravar algumas músicas e fazer apresentações junto ao seu filho, Lucas Preto. “A gente nunca para. Eu estou sempre em estúdio produzindo alguma coisa, já tenho músicas para lançar agora nas plataformas. E shows com meu filho cantando as minhas músicas, que são sucesso nas vozes de outros artistas”, revela. Além das músicas com Fanzine, Alexandre tem mais de 400 canções gravadas. Uma delas é “Onde Foi que Eu Errei“, com Fat Family. Outras são “Apaixonado Estou“, do Pique Novo, “Caixa Postal”, de Simony, e “O Que É o Que É?“, do Sorriso Maroto. Por acaso, “Uma História de Amor” é famosa em sua voz, mas foi composta por Marcos Sabino e Cacá Moraes. O músico pretende lançar canções novas para dançar e outras românticas e já tem ao menos 12 canções prontas.

Álbum de “Fanzine” com “História de Amor” (Foto: reprodução)

O cantor relembra a história do Fanzine e como o grupo chegou à novela protagonizada por Regina Duarte. “O grupo foi uma fusão de duas bandas. Existia uma banda que era instrumental. E outra banda que era composta por cantores. Então, essa rapaziada resolveu juntar tudo em uma banda só. Isso foi no ano de 1990. Num determinado momento, pintou a oportunidade de fazer uma fita demo, que conseguimos gravar no estúdio do Torcuato Mariano, diretor musical da Globo, que nos ouviu e gostou muito do trabalho e nos indicou a música ‘Uma História de Amor‘ que já estava escrita. Fomos gravar a demo na Sony Music, e outro diretor gostou muito e lembrou-se de que uma novela estava sendo produzida com este nome – ‘Uma História de Amor‘. A música foi apresentada e imediatamente entrou na trilha da novela. E nós acabamos fazendo parte do catálogo da Sony Music.”

Alguns historiadores de trilhas de novela, como Vincent Villari, apontam que esta seria a música de abertura da trama, mas que Boni mudou de ideia, preferindo a canção de Ivan Lins. Alexandre disse desconhecer tal informação. “Para nós, creio que já bastava que a música estivesse na novela e creio que esse foi um fator fundamental para a música ter sido o sucesso que foi. A música de abertura da novela, ela é muito emblemática. Devido à nossa ser o tema central da novela, acabou sendo tão importante quanto o tema de abertura, do gênio Ivan Lins. ‘Uma História…’ deu um boom na novela, foi para a rádio, TV, foi uma música que teve muita, mas muita sensação na rádio. Então, ela cresceu tanto na novela como no rádio”.

Regina Duarte era Helena, em “História de Amor” (foto: Divulgação/Globo)

Para o cantor, esse retorno da novela é simbólico. “Esse retorno vai trazer a redescoberta da música. Eu acho muito legal porque tem muita gente que conhece essa música, mas não sabe dizer qual foi a novela exatamente, não sabe dizer que época foi, mas já a ouviu tocando por aí. Há uma memória afetiva muito grande. Outra coisa, vai fazer com que as pessoas comecem a entender como começou a ser inserido aqui esse negócio do R&B no Brasil, esse esse R&B contemporâneo que as pessoas denominaram aqui de charme. A galera hoje em dia que curte charme, que curte black music, vai se conectar com isso”, comenta.

Alexandre explica que o Fanzine não acabou. Ele que deixou o conjunto. “Eu saí do Fanzine quando fizemos um grupo chamado Ebony Vox. Além de mim, havia o Alexandre da Mata, o Júlio Borges e o Abdullah. Achei que seria legal fazer outra coisa, eu tava afim de fazer. Fiquei no grupo até 1998. A banda continua ativa.” O site HT não encontrou informações atualizadas sobre a banda Fanzine, nem suas redes sociais, muito menos suas atividades recentes.

A música de amor reflete uma época. Naquela época, as coisas eram dessa forma. Eram melodias sofisticadas, sim, mas o tempo passou. Em 30 anos, a dinâmica das coisas muda muito. Mudou a dinâmica da música, do cinema, do teatro. A gente tem uma mania muito feia de achar que o novo, que a coisa nova, não é mais como era antes. As pessoas também são muito saudosistas, ficam o tempo todo querendo que algo que ouviram em 1980, 1970, 1990 seja a mesma coisa até hoje. O tempo passa. Então, tem muita coisa hoje em dia que as pessoas acham ruim, acham que não é legal, mas daqui a pouco vai virar cult. As pessoas antigamente falavam que Sidney Magal era horrível e hoje virou cult. Pessoas da periferia não tinham oportunidade e hoje têm, e isso machuca o ouvido de muita gente, porque tem muita gente que não gosta dessa realidade – Alexandre Lucas

Para ele, muitas das pessoas que não sabem valorizar a modernidade das músicas modernas têm origem no conservadorismo. “O conservador não consegue aceitar a inovação, não consegue aceitar o contemporâneo, não consegue aceitar o novo. Por insegurança. Todo conservador é inseguro. Eu sou um cara de 60 anos, sou progressista”, aponta.

Alexandre Lucas, no Fanzine, em 1995 (Foto: Reprodução)

MÚSICA, DIVINA MÚSICA

Em algum momento, na internet, circulou a informação de que Alexandre Lucas havia tido câncer, razão pela qual havia se convertido à religião evangélica. Algo que ele nega peremptoriamente. “Isso nunca aconteceu. Eu não tenho religião alguma. Sou ateu. E me tornei ateu quanto mais estudava a Bíblia. Quando passei a estudá-la, comecei a ver que aquilo ali era uma conversa fiada, uma amálgama de diversas tradições anteriores, de diversas coisas que as pessoas já tinham há milhares de anos. Nada se cria, tudo se copia. E nunca tive câncer. Porém, sou paciente renal. Descobri em 2020 ter uma insuficiência renal. Faço diálise, só que isso não mudou absolutamente nada na minha vida. Agradeço ao SUS diariamente”. De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, a doença renal crônica (DRC) afeta mais de 20 milhões de pessoas no Brasil, ou seja, em torno de 10% da população do país. No mundo, são mais de 850 milhões de casos.

Alexandre Lucas atualmente, aos 60 anos (Foto: Acervo Pessoal)

Alexandre é grato também à música que faz e pelas transformações que ela lhe proporcionou. “Graças ao universo, a música me levou a conhecer boa parte do Brasil, e algumas partes do mundo. A gente começa a entender essas coisas. A gente vê que a música é um fator de comunicação. É uma ferramenta de comunicação e de interação muito grande. Então, a gente tem que respeitar.” O músico, porém, é muito crítico à forma como é remunerado pelas plataformas digitais. “Eu acho isso aí uma verdadeira usurpação. O direito conexo é um direito do músico, que ele recebe quando há execução em rádio, em televisão e tal, mas no streaming me parece que isso aí está virando uma briga, uma queda de braço pesada. Tem muita coisa para melhorar no streaming, principalmente essa questão do repasse de direitos. Isso precisa realmente de um debate maior com os compositores, com os artistas, com os músicos. E isso está deixando muitos músicos realmente muito chateados.”

A música tem o poder de atravessar o tempo, de ressoar em diferentes épocas e tocar novas gerações com a mesma intensidade de outrora. “Uma História de Amor” não é apenas um sucesso de novela, mas um fio que conecta memórias, afetos e mudanças no cenário musical brasileiro. Como Alexandre Lucas bem pontua, a arte se reinventa, e o que hoje é novidade, amanhã será nostalgia. Em meio a melodias que marcaram uma era e desafios que moldam o presente, fica a certeza de que a música sempre encontrará seu espaço, seja no rádio, no streaming ou no coração de quem a escuta.