Incansável. É assim que Arlindo Cruz continua trilhando sua carreira na música brasileira. Depois de ficar 18 dias internado no ano passado e ter a cadeira de rodas como companheira e forma para se locomover para todos os lugares, inclusive em cima dos palcos, o sambista está em nova fase. Desde o fim de janeiro, Arlindo Cruz já fica em pé em alguns momentos de seus shows, assim como foi na Arena Banco Original. Outra mudança que marca a história recente do músico foi o aumento no número de shows na agenda de Arlindo. Compositor e partideiro de raiz, o sambista precisou se dedicar mais ao lado cantor para se manter vivo na profissão. A razão? Com a chegada das novas tecnologias, Arlindo Cruz contou que o trabalho do compositor ficou menos reconhecido e valorizado.
O sambista, que coleciona grandes clássicos de sucesso recentes e antigos da música brasileira, disse em entrevista ao HT que os novos tempos mudaram bastante o mercado brasileiro. No entanto, Arlindo apontou que nem tudo foi maléfico. “A chegada da internet empobreceu muito o compositor. Eu acho que hoje, nós tivemos um crescimento maior do número de artistas e mais democracia para se escolher o que ouvir também. Isso é bom, principalmente para os artistas novos. Com a internet, um jovem músico lança hoje uma canção que, se virar sucesso, de um dia para o outro já viraliza e o artista tem um milhão de seguidores. Isso era impossível na época do disco físico”, analisou Arlindo, que lamentou que os CDs não sejam mais os destaques do cenário musical.
“Fica muito mais difícil viver da música quando o disco físico não é mais a estrela do mercado. Isso porque nem todo artista é cantor, e é preciso se estruturar de uma nova forma para continuar trabalhando. E não foi fácil precisar cantar mais para continuar vivendo. Mas, quem é compositor e também canta, assim como eu, tem a possibilidade de gravar em estúdios e fazer shows para continuar ativo no cenário musical. Eu não tenho do que reclamar. Graças a Deus, eu sou um artista que trabalha demais e faço shows todos os dias, praticamente”, relatou o músico que, agora, nos palcos, ainda tem a companhia de Arlindinho, seu filho, no projeto “2 Arlindos“.
Assim como a desvalorização do compositor e destaque para o cantor, os tempos modernos também trouxeram outra novidade para o universo musical. Na verdade, inúmeras. Com os novos discursos e pensamentos que marcam a sociedade contemporânea, os compositores passaram a ter novas inspirações para suas letras. Apesar de o momento de destaque para crises moral, social e ideológica, Arlindo Cruz contou que temas mais tradicionais continuam em evidência. Embora reconheça a pluralidade moderna, o sambista acredita que o amor, por exemplo, nunca deixará de ser a principal fonte inspiradora das canções. “Eu acho que hoje em dia nós temos muitos novos temas que servem de inspiração, como comportamentos modernos ou até palavras que surgem nos discursos. Embora a situação hoje tenha muitos assuntos difíceis, eles não dominam as composições. Como dizia meu querido amigo Zeca Pagodinho, se eu for falar só de tristeza, meu tempo não dá. É claro que essas questões entristecem qualquer compositor, mas temos que focar no que alegria. Noel Rosa nos ensinou a fazer crônicas do mundo e devolver ao povo alguns dramas como canções”, citou Arlindo Cruz que completou seu pensamento com uma analise recente: “2016, por exemplo, não foi nada inspirador para os compositores brasileiros. Muito pelo contrário”, apontou.
Sejam canções fortes com discursos contemporâneos ou de amor com histórias inspiradoras, a música sempre estará presente nas relações humanas. O samba, por exemplo, é um gênero que há 100 anos escreve e trilha o caminho de muitas situações e pessoas. Personagem dedicado ao sucesso e manutenção do samba no cenário nacional, Arlindo Cruz acredita que, mais que qualquer outro gênero, este é o enredo da vida de todos nós. “O gênero é o hino de todo brasileiro. Mais que o nacional, eu acredito que todo mundo tem um samba, seja moderno ou antigo, que faz a trilha sonora da vida de qualquer um. Quem não tem um desses exemplos como símbolo de conquistas, alegrias ou tristezas?”, questionou Arlindo Cruz que, com seus mais de 20 anos de profissão, garante que o samba nunca irá morrer e nem acabar. Amém!
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