Desde que participou de “Só sei dançar com você”, dividindo os vocais da balada com Tulipa Ruiz, Zé Pi tem chamado a atenção do público. HT até contou aqui quando o artista lançou sua música solo, “Fique à vontade”, como uma prévia do disco “Rizar”, o primeiro de sua carreira. Agora, com o álbum disponível para download gratuito em seu site oficial e o som fazendo sucesso pelos amantes da música brasileira, nos sentamos novamente para bater um papo com o cantor.
Zé Pi – “Fique à vontade”
Zé Pi já nasceu com a arte correndo nas veias. Seu bisavô participou do movimento modernista no Brasil, em plena Semana de 1922, e o gosto pela música ele aprendeu ainda em casa, ouvindo os discos do pai. Antes de lançar seu disco solo, o músico participou da banda Druques e, como contou ao HT, passou por uma “evolução natural” e chegou até aqui. “O leque de hoje é muito maior, porque você vai crescendo, apurando e descobrindo coisas novas. Agora, tenho mais controle sobre o que estou fazendo. Banda precisa sempre entrar em um consenso”, disse.
“Rizar”, lançado em julho, traz produção de Gustavo Ruiz, irmão de Tulipa e amigo de Zé, e mostra uma sonoridade madura e cheia de referências, essencialmente pop de maneira geral. “Ficamos bem livres quanto aos gêneros que iríamos colocar no álbum”, explica Zé. “São as minhas canções, do meu coração, sem filtros”, completa o artista, que prepara-se para subir ao palco do Teatro Oficina, no próximo sábado (15), antes de desembarcar no Rio, nos dias 18 e 19 de setembro, quando tocará no Oi Futuro Ipanema.
Zé Pi – “Anoiteceu” (Part. Leo Cavalcanti)
Do lirismo dos versos aos arranjos cuidadosos, passando pela mistura de influências, Zé Pi mostra um disco conciso, coerente e original, que já começa com a ótima “Fique à Vontade”. Se em “Muito Tempo” ele começa a faixa com trompetes e um ar meio rock’n roll à la Roberto Carlos, enquanto se desespera de saudades no refrão, em “Depois”, nova parceria com Tulipa Ruiz, ele e a parceira musical se derretem de maneira romântica e lânguida, sobre um relacionamento em deterioração. Seja nos violinos e pianos de “Dor e Solidão” e “Anoiteceu”, parceria com Leo Cavalcanti, ou no otimismo de “Bem melhor do que está”, “Rizar” é um álbum humano e com músicas universais.
Abaixo, Zé Pi fala sobre os desafios de lançar o primeiro disco solo, o atual estado da indústria fonográfica, prós e contras do streaming e como foi abrir o peito para músicas cheias de poesia e sentimento. E, apesar de estar se lançando agora no mercado musical, é seguro dizer que Zé tem tudo para se tornar em um dos novos queridinhos da música popular brasileira, seja pelo som único ou pela sabedoria de valorizar “a canção” em um tempo com tantas composições poeticamente pobres nas rádios. O papo você confere na íntegra abaixo:
HT: O “Rizar” traz muitas influências e referências musicais. Como você e o Gustavo chegaram à sonoridade final do álbum?
ZP: Eu queria um disco muito “de canção”, que trabalhasse a canção. Queria que os arranjos servissem para a música, sem se prenderem a nenhuma estética, seja rock ou o que for. Na música pop cabe muita coisa, mas não fiquei preso a isso, estávamos bem livres na composição. É o som do Brasil depois do modernismo, uma mistura de tudo.
HT: Qual é o maior desafio de lançar um disco solo no momento atual do mercado?
ZP: Nós somos uma geração de cobaias no mercado musical, que anda bem complicado. Os suportes estão mudando, da mesma forma que aconteceu com o mp3 depois do disco. As própria gravadoras ainda estão piscando nesse meio. Até o número de vendas para ter um disco de ouro, por exemplo, mudou. Temos que pensar fora da caixa, com a internet. Algumas rádios têm tocado o “Rizar” sem jabá algum, o que é muito importante. Claro que as outras plataformas também são.
HT: “Rizar” fala muito sobre relacionamentos e amor. Como você lida com essa exposição dos seus sentimentos?
ZP: Na verdade, não existe muito uma pessoa. Eu falo de mim, mas falo de todo mundo também. Cabem muitas mensagens ali. Sim, o álbum tem um foco nas relações humanas. Mas tem momentos mais felizes também. É algo natural para mim, foi algo do meu momento durante o processo de gravação. Ele fala muito sobre diminuir a velocidade, porque eu estava vivendo tudo muito intensamente, então esse é o contexto. Eu precisava colocar meus sentimentos para fora e o jeito de fazer isso foi escrever.
HT: “Depois” é a sua segunda colaboração com a Tulipa Ruiz. Como surgiram com essa parceria?
ZP: Antes do primeiro disco, a Tulipa já cantava essa música no meio do show dela. Ela gostava dessa música, eu joguei a ideia, ela abraçou e a gente fez. As nossas vozes se casam muito bem juntas, então acho que por essa afinidade que a gente tem, de gostar das músicas juntas, da nossa amizade, acabou sendo natural.
Zé Pi – “Depois” (Part. Tulipa Ruiz)
HT: O álbum é disponibilizado online para download gratuito. De onde surgiu essa decisão?
ZP: As formas de faturar dinheiro com música estão muito confusas. A geração que hoje está com 14 ou 15 anos não vai mesmo comprar disco, então temos que pensar muito nisso. Coloquei de graça no site, porque também não fizemos uma grande prensagem também. Hoje, quase todo mundo disponibiliza o disco online e de graça,acho muito importante.
HT: Acha que o streaming é uma plataforma que funciona a favor de novos artistas?
ZP: Acho que dá um retorno positivo, sim. Muitas pessoas conhecem música nova através dali. Agora, se o retorno financeiro é o que deveria ser, já são outros quinhentos. Existe muito dinheiro nisso, mas a gente não sabe onde está, porque algumas plataformas não abrem os dados. Mas é algo que está engatinhando. Espero que, com o tempo, isso melhore.
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