Com mais de 50 anos de estrada e uma discografia recheada de hits na carreira solo e com os Novos Baianos, Pepeu Gomes se reinventa em “Eterno Retorno”, seu novo álbum de estúdio e o primeiro em 25 anos em que o cantor e guitarrista apresenta letras inéditas. Em meio à corrida rotina, Pepeu tirou um tempinho para conversar com o site HT sobre sua grande trajetória, amor pela música e, é claro, seu novo projeto.
Nascido em Salvador, Pepeu aprendeu a tocar violão ainda na infância e, aos 11 anos, já fazia parte de uma banda chamada Los Gatos. Aos 14, integrando a banda Os Minos, ele gravou pela primeira vez como músico profissional, assinando os baixos de dois singles. Apesar desse começo, o Brasil o conheceria mais tarde por outro instrumento: a guitarra. Na década de 70, em plena ditadura militar, ao lado de Moraes Moreira, Paulinho Boca, Galvão e Baby do Brasil formou os Novos Baianos. Para ele, iniciar a carreira nesse período não foi uma escolha fácil. “Era bem mais difícil. Eu fui perseguido por mexer com poesia, comportamento, literatura, mas eu sabia que uma hora aquilo ia acabar. Hoje eu posso dizer aliviado que conseguimos passar por aquele momento com dignidade”, admitiu.
Em carreira solo, participou de mais clássicos, como Fa-tal: Gal a todo Vapor, de Gal Costa e Barra 69, de Caetano e Gil; e encheu o Brasil de hits, trilhas e aberturas de novelas. Com ânimo renovado pela estrada com os seus shows solo, instrumentais e com os Novos Baianos, Pepeu acumulou, com “Eterno Retorno”, 44 álbuns e negou o nervosismo com o novo trabalho: “Depois de 50 anos de labuta, não dá para ter medo. Você adquire uma experiência que a vida e a estrada ensinam. Experiência não pode ser sinônimo de medo”. E continuou: “Novos trabalhos ajudam na lapidação do artista e no aumento da consciência antes das decisões. Eu, por exemplo, tenho consciência do meu lugar na música, da posição que eu conquistei”. Para o artista, o álbum está longe de ser só mais um feito para a sua enorme lista de conquistas: “É complicado lançar novos projetos depois de tantos outros, porque parece que é apenas mais um. Dessa vez, foi totalmente oposto! Estou me renovando nesse disco. Ele levou alguns anos para ser feito, tivemos um trabalho de pesquisa, de concentração, de autoleitura da música. Ele é resultado de uma pesquisa de vários sentidos da minha vida”.
O dono da guitarra suingada, que está presente em clássicos como Mistério do Planeta e Eu também quero beijar, reuniu para o Eterno Retorno colaboradores antigos e novas parcerias. “Acho importante que tenhamos novos letristas, poetas e novas concepções de poesia. A música no Brasil está caminhando muito devagar. Para nos atualizarmos, pensamos as músicas de um lugar mais moderno, então algumas têm uns traços da eletrônica, por exemplo, mas sem perder a minha personalidade que vem mais da guitarra”, explicou ele, que escolheu nomes como Arnaldo Antunes, Zélia Duncan, Ivo Meirelles, Nando Reis, Cyro Telles, Filipe Pascual,entre outros nomes, para compor o disco. Além da renovação, o álbum contém uma música regravada: trata-se do clássico de os Novos Baianos, 99 vezes, originalmente lançado em 1978.
Quando questionado sobre o que o motiva depois de tantos anos de trabalho e uma carreira já consolidada, o músico demonstrou todo o seu amor pelo o que faz. “Envelhecer com qualidade é muito importante. Não existe isso de tirar o pé do acelerador conforme vou ficando mais velho, porque a música não envelhece. Enquanto eu converso com você, ela está evoluindo minuto a minuto. Sou um aventureiro, um mensageiro da música nesse mundo. Poder levar paixão, solidariedade e emoção para as pessoas me motiva todos os dias”, afirmou o guitarrista, que acredita que atualmente ser músico é muito mais prático. “Com a internet e as tantas tecnologias, as pessoas gravam discos dentro de casa. É uma facilidade que em 70, 80, não tínhamos. Tudo era muito batalhado, muito difícil. Hoje, é muito mais palpável para os artistas em geral. São tempos bem melhores”, opinou.
Apesar do contexto delicado no qual o Brasil está inserido, principalmente no que diz respeito à arte, Pepeu demonstrou um imenso orgulho da música brasileira. “Estamos passando por um momento difícil na música, mas não podemos perder as nossas referências, que são as melhores e fazem com que tenhamos a melhor safra do mundo, com Tom Jobim, João Gilberto e vários outros. Essa música cheia de harmonia nos acordes, construtiva, que atravessa oceanos sem precisar carimbar o passaporte”, afirmou ele, com a autoridade de quem já tocou em muitos festivais internacionais e conhece a música mundial. E completou: “Procuro não esquecer disso nunca, pois tenho uma responsabilidade enorme com esse legado de grandes músicos universais”.
Em 2019, os fãs e admiradores do trabalho de Pepeu Gomes podem ficar atentos e felizes, pois muitas novidades virão. Além da grande turnê por todo o Brasil com o Eterno Retorno, ele lançará um novo disco com o Novos Baianos e fará um show com a Orquestra Sinfônica. Completamente apaixonado por seu trabalho e cheio de ideias, o músico revelou o desejo de retornar ao seu projeto instrumental: “Também quero gravar mais um álbum instrumental, para dar continuidade a esse lado, que é a joia de todo o meu trabalho até hoje”. E finalizou dando um recado a todos os músicos que ainda não possuem uma carreira consolidada: “Por mais que vocês sejam muitos e obviamente cada um possui uma história, a dica é a mesma. Se quer ser um bom músico, seja verdadeiro com você, com sua alma e principalmente com o seu instrumento”.
Ouça “Eterno Retorno”: http://bit.ly/PepeuEternoRetorno
Artigos relacionados