Orkestra Rumpilezz tempera o Circo Voador de dendê e recebe bênção de Caetano Veloso: “Afiada big band”


Orquestra de Salvador composta por 19 músicos e em atividade desde 2006 prepara disco novo

*Com Rafael Moura

Os tambores da cultura ancestral dos negros somados aos instrumentos de sopro usados no jazz –  misturados para construir uma linguagem musical única. Como se fosse uma ruptura com as barreiras da música instrumental brasileira, sabe? Foi o que deu para perceber da essência da Orkestra Rumpilezz, que fez seu primeiro show no Circo Voador, na Lapa, nesta sexta-feira (23) com participação estrelada de Caetano Veloso, Baco Exu do Blues e canja do saxofonista americano Kamasi Washington.

Maestro à frente da orquestra, o compositor e arranjador Letieres Leite concordou, no camarim, com a nossa impressão: “Uma música tem poder de provocar sentimentos únicos e conexões ancestrais profundas nos ouvintes, independentemente de serem músicos ou não”. Pudera. A orquestra, oriunda de Salvador (BA), composta por 19 músicos e em atividade desde 2006, mostra um som ultra sofisticado da música baiana na mesma proporção que evoca o sacro e o popular.

Orkestra Rumpilezz, fez seu primeiro show no Circo Voador, na Lapa, nesta sexta-feira (23) com participação estrelada de Caetano Veloso (Foto: Rafael Moura)

É uma mistura arretada de ritmos brasileiros para compor um jazz contemporâneo com claves e desenhos rítmicos do universo baiano, criando algo totalmente original. “O nome Rumpilezz é uma fusão de três tambores do candomblé – rum, rum pi e lé – com as últimas letras da palavra jazz, por isso Rumpilezz”, explicou Latieres. Ali perto, Caetano acompanhava tudo e dizia que era uma “manifestação maravilhosa”. “Eu amo porque eu sou baiano. Eu valorizo minha terra e minha cultura. O mais bonito é ver o povo brasileiro se organizando culturalmente. É lindo. Precisamos assumir nossas responsabilidades”, disse Caê.

Sua entrada contou com sucessos como “Milagres do Povo”, “Coração Vagabundo”, “Oração do Tempo”, “Depois que o Ilê Passar”, “Desde que o samba é samba”, “Luz do Sol”, “Luz de Tieta” e ainda rolou um bis com “Odara”. Tudo emoldurado por luxuosíssimos arranjos de Letieres. Aliás, o maestro e a Rumpilezz têm passado uma temporada em Araras, na Região Serrana do Rio de Janeiro, para gravar seu próximo disco, com lançamento previsto para o 2020. O álbum é uma homenagem ao disco “Coisas de Moacir Santos”, lançado em 1965. “Gravaremos Moacir – que foi um arranjador, compositor, maestro e multi-instrumentista brasileiro. É um grande ícone para mim. Ele faleceu no ano em que a Rumpilezz nasceu”, contou. Caetano, inclusive, fará uma participação de uma das faixas do álbum. “É uma original e afiada big band erguida sobre atabaques da tradição religiosa africana. Uma das concentrações mais intensas da inspiração artística baiana”, incensou.

Em tempo, plateia estrelada ontem no Circo Voador: Sophie Charlotte, Jeniffer Dias, Daniel de Oliveira, Humberto Carrão, João Vicente de Castro, Tom Veloso,  Ana Carolina, Felipe Veloso e Isabela Capeto.