A maratona Rock in Rio voltou nesta quinta-feira em clima para lá de badalado. Em mais um dia de sol no Rio de Janeiro, o Palco Sunset teve seu momento de Palco Mundo com o super show de Alice Cooper. No espaço destinado aos encontros, diferentes gerações de fãs do astro norte-americano se juntaram para ver um dos shows mais esperados da noite – ao lado da atração principal, Aerosmith. Mas não foi só. Além de ter assumido o protagonismo da noite com Alice Cooper, o Palco Sunset também viveu momentos de glória com outro show que incendiou o público do Rock in Rio: The Kills. No dia em que o line-up teve uma sonoridade mais pesada, a quinta-feira ficou completa com Tyler Bryant e a banda The Shakedow e o encontro de Ana Cañas e Hyldon – com guitarra de Edgar Scandurra.
Alice Cooper
Assim como foi com Elza Soares na semana passada, Alice Cooper quebrou o rótulo de vovô de 69 anos. Em uma apresentação eletrizante, o norte-americano trouxe o terror e o rock teatrado para o Palco Sunset. No show, Cooper teve seu repertório figurado em bonecos bizarros, decapitações, sangue e mais algumas performances que, como o próprio artista desejou no fim da apresentação, estimulariam “pesadelos maravilhosos” no público do festival.
Sem muita conversa, Alice Cooper embalou a Cidade do Rock com seus clássicos da carreira e teve como pontos-altos o destaque individual da banda e de personagens complementares. Como convidado, o astro norte-americano trouxe o britânico Arthur Brown, de 75 anos, que foi o pioneiro do rock mais pesado. Mas, o show ficou completou com uma cereja do bolo surpreendente. Atração principal da noite, que se apresentou horas depois de Alice Cooper, Joe Perry, guitarrista do Aerosmith, subiu para uma participação para lá de ovacionada. Parceiros para além da amizade, Cooper e Perry integram a Hollywood Vampires, que também tem Johnny Depp, e resgataram a dobradinha que protagonizaram na última edição, em 2015, quando tocaram juntos pelo grupo de rock.
No entanto, mais do que dobradinha, o show do astro norte-americano no Palco Sunset terminou com uma trinca de luxo. Alice Cooper, Joe Perry e Arthur Brown tocaram duas músicas juntos: “Fire” e “School’s Out” – emendando com Another Brick in The Wall, do Pink Floyd. O desfecho? Gritos, aplausos e fãs em choque na grade do Palco Sunset até 30 minutos depois do show.
The Kills
“Febre. Dor de garganta”. Com um quadro médico não muito favorável a um super show em um festival como o Rock in Rio, Alison Mosshart fez sua parte e se doou no Palco Sunset ontem à noite. Animada e com movimento de cabelo para todos os lados, a cantora se apresentou ao lado de Jamie Hince, sua dupla na banda que ainda tem mais dois músicos na bateria e nos teclados.
Com um repertório animado, o The Kills trouxe um som indie para o line-up do festival e ajudou a esquentar o clima para Alice Cooper, que subiu em sequência no Palco Sunset. Se para uns o show de The Kills no Rock in Rio teve público morno, para outros, a dupla trouxe a essência do rock na combinação da guitarra afiada de Hince e da voz perfeitamente complementar de Alison. O fato é que, ao fim da performance, The Kills comemorou a oportunidade e definiu como uma explosão o seu show no Palco Sunset do Rock in Rio.
Tyler Bryant e The Shakedown
Pela cultura de Nashville, de onde os músicos vieram, era para o country dominar a identidade musical da banda. Mas eles seguiram caminhos diferente e, no Rock in Rio, trouxeram seu som que mistura blues e rock alternativo. Em sua primeira passagem pelo Brasil, Tyler Bryant destacou a importância de um evento como o festival de Roberto Medina estar em sua carreira como artista. “Para mim o Rock in Rio é um dos mais legendários festivais do mundo e de todos os tempos. É um sonho que está sempre dentro dos planos de qualquer artista. Nós estamos honrados de ter tido essa oportunidade e esperamos poder voltar um dia”, disse.
No Palco Sunset, Tyler se apresentou com a banda The Shakedown e honrou a substituição promovida por Zé Ricardo. Menos de 20 dias antes do início do festival, o grupo The Pretty Reckless anunciou que não viria mais ao Rock in Rio “porque precisava de um tempo se fortalecer” e, por isso, foi substituído por Tyler Bryant e seus companheiros norte-americanos. E eles fizeram bonito, apesar de reconhecerem a responsabilidade. “Eu vou ser bem honesto: eu não fico nervoso antes dos shows normalmente. Mas, como o The Pretty Reckless cancelou, todos os fãs deles ficaram chateados e na expectativa por nós sermos a banda que os substituiu. E eu compreendo isso totalmente. Se eu amo uma banda, eu vou fazer de tudo para vê-la e vou ficar bem triste se ocorrer uma situação como essa. Mas enfim. Eu abracei uma garota que estava com a blusa do The Pretty Reckless e acho que no final foi bom. Nós mostramos à multidão que a única razão de estarmos aqui é porque a gente acredita no rock’n roll”, disse Tyler.
E este, realmente, era o clima do norte-americano depois do show. Em uma mistura de honra com realização de um sonho, Tyler Bryant contou que o Rock in Rio coroa uma trajetória de dez anos com a banda The Shakedown. Ah, e se ontem eles foram os nomes escolhidos para animar o público do maior festival de música do mundo com muito prestígio, na última década, o cantor lembrou que a rotina não foi tão gloriosa assim. Como nos contou, eles precisavam dividir um mesmo quarto nos hotéis por onde passavam para se apresentar. “A gente faz isso porque amamos, assim como as pessoas que gastam dinheiro comprando ingressos para o evento. É amor. E isso faz do Rock in Rio um festival legendário. Mas não é pelo evento, é pelas pessoas. Não são as bandas que fazem o Rock in Rio, é esse público apaixonado e animado”, disse Tyler que, além de ídolo do público, também assumiu a posição de fã ontem no Rock in Rio. “Nós estamos aqui para ganhar com bandas tipo Alice Cooper e tantas outras novas. É por isso que estamos no Rock in Rio. E eu espero que o público que nos assistiu possa ter tido essa experiência também”, completou. Certamente!
Ana Cañas convida Hyldon
Os encontros já são a essência do Palco Sunset e, a cada apresentação, esperamos ainda mais misturas interessantes. Neste caso, não foi diferente. Responsável por abrir o dia musical no Rock in Rio, Ana Cañas animou o público com um show engajado ainda debaixo de sol forte na Cidade do Rock. No Palco, a cantora fez jus à identidade de encontros e passeou por gerações ao trazer Hyldon como convidado e agregar à sua banda o guitarrista do Ira Edgar Scandurra. “Foi astral. O pessoal chegou junto para cantar com a gente e superou nossas expectativas”, analisou Ana depois da apresentação.
No repertório, Ana Canãs e Hyldon misturaram sonoridades e estilos, embora a cantora tivesse se atentado ao mood mais pesado do dia. Assumindo a posição de cereja do bolo da tarde ao lado de Ana, o guitarrista e compositor explicou que para ele a música não tem divisão. “Eu não tenho esse negócio de rock, heavy metal, samba ou chorinho. Para mim, o negócio é música boa, bem tocada e com muita energia do artista no palco. Então, eu transito por vários ritmos e o show foi assim também”, disse Hyldon.
Porém, mais uma vez, este não foi um show marcado apenas por grandes músicas e históricos encontros no Palco Sunset. Seguindo a linha do engajamento contemporâneo, Ana Cañas foi mais uma artista que explorou sua visibilidade no Rock in Rio para se posicionar. Entre uma música e outra, a cantora abordou a causa gay e a luta pela democracia no Brasil. “Eu acho que cabe ao artista, ainda mais em um momento como esse, se posicionar. Nós temos a nossa voz amplificada em festivais como o Rock in Rio e precisamos usar disso para lutar e resistir. Tem muita história sinistra acontecendo e, por isso, temos que ir para frente. Não podemos retroceder”, apontou Ana que acredita que esta também seja uma obrigação daqueles que adoramos pela música. “A Nina Simone já dizia que o artista tem a obrigação de falar do seu tempo. Não tinha como eu fazer um show hoje sem abordar essas questões. Hoje, muita gente está sofrendo por causa desse panorama. Para melhorar, só se a gente resistir e continuar na luta”, completou.
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