Mais de duas décadas de carreira, alguns percalços e muito jogo de cintura são os responsáveis pelo sucesso interminável que o cantor Buchecha faz com tantas gerações. Pioneiro do gênero “funk pop” que transformou o funk marginalizado em música “do asfalto”, Buchecha sabe bem da responsabilidade que tem nas mãos e reconheceu a dificuldade que os artistas enfrentam para se manter na mídia e não cair no ostracismo. Apaixonado pelo que faz, do tipo que contagia, ele relembrou o período da morte do amigo e dupla Claudinho, época que teve que se reinventar para continuar fazendo sucesso com suas canções melódicas e tão marcantes. “Essa mudança para cantor solo foi algo que tive que pegar no tranco. Não estava programado e muito menos preparado para perder um amigo de trabalho e mais do que isso, de infância, que considerava como irmão. Foi difícil fazer essa transição mas consegui aos poucos retomar esse espaço e continuar rodando pelo Brasil afora tanto com o repertório da dupla, como com músicas novas. Emplaquei canções em novelas, grandes palcos, então acho que consegui me reinventar”, analisou, em papo exclusivo antes de subir ao palco do projeto Trampolim, de Fabiane Pereira e Marcus Preto, no Oi Futuro Ipanema.
Se reinventou tão bem, aliás, que abriu espaço para novas vozes e muitos talentos. Seu “funk pop”, diferente do batidão antes conhecido como funk, alcançou patamares tão altos que, por vezes, o cantor – que ainda carrega sorriso do garoto ingênuo de Niterói, não acredita. “O nível do funk mudou, acho que justamente pela novidade de que Claudinho e eu conseguimos implantar com bandas nos shows. Fomos os primeiros MCs a inserir instrumentos musicais no funk. Até então era só o volt mix, que iam rimando ali em cima. Viemos trazendo instrumentos, fazendo melodias mais rebuscadas. Nunca escondemos que bebemos da fonte de Djavan, Lulu Santos, Belchior, caras que a gente escutava. Na época até falavam ‘são os funkeiros mascarados, porque funkeiro de raiz tem que ser no tamborzão’, mas penso fora da caixinha. Funk tem que ser música boa, com batida original e melodia diversificada”, defendeu. Precursor dessa ideia, Buchecha se diz orgulhoso ao ver tantos nomes de sucesso no mesmo mercado. “O funk chegou a lugares inimagináveis antes. Hoje vejo Anitta, Naldo, Ludmilla e tantos outros, uma galera que está na teledramaturgia do país, no horário nobre. É bacana ver o ritmo indo tão longe”, disse.
Seu CD – não coincidentemente chamado de “Funk pop”, veio também para ressaltar isso. “Temos uma galera talentosa como Lenine, Adriana Calcanhoto, Paula Toller, Rogério Flausino, Emicida, Paralamas do Sucesso, Ludmilla e outros cantando funks das antigas nesse disco. Lá atrás, quando eu e Claudinho fizemos essa revolução no gênero, chamou muita atenção para o bem. Até então o ritmo era marginalizado e hoje foi para o asfalto”, analisou ele, que hoje faz shows para todas as classes e é um dos recordistas de festas privadas. “Isso acontece porque o funk teve aceitação maior não só da mídia, mas da galera de maior poder aquisitivo. Acabou que o pessoal da comunidade ficou mais com o proibidão e a galera do asfalto assimilou e aderiu ao funk melody, de Claudinho e Buchecha, Marcio Goró, Andinho, dos próprios Cidinho e Doca. Hoje fazemos shows de todos os tipos em todas as classes sociais, principalmente nas formaturas dos bacanas, aniversários, casamentos, eventos corporativos”, listou.
Com tanto sucesso, Buchecha não esquece de onde veio. A origem na periferia lhe dá propriedade para comentar casos como o recente assassinato de cinco jovens por policiais militares no subúrbio do Rio de Janeiro. “Não envolve só o preconceito racial, mas o preconceito social, devido ao local onde foram assassinados, da onde saíam e da maneira como tudo ocorreu. Nessa história, há o preconceito e, principalmente, falta de preparo dos policiais. É complicado, não tem como não ficar entristecido, porque isso vem acontecendo sempre. Não é a primeira vez e queria muito que fosse a última, mas, infelizmente, provavelmente se continuar assim não vamos conseguir melhorar nossa imagem e ter notícias mais animadoras no país”, disse ele, que acredita que a culpa vem de cima. “Precisamos ressaltar que o Rio de Janeiro, como um todo, está um caos. Nossa cidade está entregue às baratas. Esses dias eu fui fazer um evento beneficente e ali na Linha Amarela, uma via com pedágio caríssimo não tinha patrulhamento e estava tendo um assalto. Vi as pessoas desesperadas dando ré no carro e os caras com fuzil empunhado, todo mundo no terror. Infelizmente não tem como fugir dessas situações, só orar para Deus não levar nossas vidas, já que nossos bens não tem muito como evitar devido à negligência e falta de competência das autoridades”, afirmou.
Para outros assuntos, porém, Buchecha continua um otimista e nem a crise econômica tira esse humor. “Dá para viver de arte no Brasil. É necessário se adaptar, modernizar para não ficar para trás. Apesar da crise no país, que envolve várias áreas, a música sobrevive muito bem. Acabam prevalecendo os que tem talento, quem tem empatia e soube lidar com os momentos de baixa. Eu tenho colhido os louros do repertório como dupla, que não deixa de ser um mérito. Viver disso é bacana”, disse. Palavras de quem faz sucesso há mais de duas décadas. E qual o segredo? “Não sei”, brincou, para logo emendar: “É de tudo um pouco, mas só o carisma e empatia não sustentam. Tem que continuar fazendo música boa, estar antenado com as mídias sociais, que proporcionam um diálogo que é do artista direto para o público. É uma junção entre a oportunidade de interagir com quem gosta do nosso trabalho, se adequar à modernidade e continuar fazendo música boa”, entregou.
E ele sabe muito bem realizar essa união. Fechando 2015 com CD novo, Buchecha é só gratidão. “O que eu mais tenho ouvido é que o ‘Funk pop’ é aquele disco que não queremos parar de ouvir. Esse retorno é o melhor do mundo. Estou muito feliz de realizar esse trabalho com grandes ídolos, que era um sonho que eu tinha e, mais do que isso, uma lacuna na minha carreira. Agora pude sanar essa dívida com meu público e comigo também. Fecho 2015 com chave de ouro total”, comemorou. Para 2016? Ainda mais planos! “Pretendo transformar o disco em um DVD com mais convidados, se possível até o meio do ano. Além disso, vou fazer shows da turnê desse CD rodando o Brasil inteiro”, adiantou. E nós, do site HT, vamos acompanhar cada passo!
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