O Rappa em papo sobre clima de intolerância e impeachment de Dilma: “A gente percebe o real propósito: politicagem, jogo de interesses”

Os caras d’O Rappa estão cientes: “Existe realmente um clima de intolerância” pairando pelo país. Principalmente em tempos de machismo, homofobia e racismo latentes. O que, ao menos, reflete um comportamento louvável: “As pessoas estão debatendo mais essas questões e se colocando. Estão indo para as ruas e defendendo as opiniões nas redes. O importante é exatamente isso: liberdade de expressão”, opinou Marcelo Lobato, o tecladista, em entrevista exclusiva ao HT. Esse é o ideal de um grupo que movimentou as rádios com “Boa noite, Xangô”, hit canta orixás, no mesmo período em que o Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela registra pelo menos duas pessoas sofrendo agressões por preconceito religioso por mês. Desanimador, certo? “O Brasil é um país de várias culturas, raças e ritos diferentes. Isso faz parte da nossa formação e identidade. Temos que aprender de uma vez por todas a conviver com essa variedade. Temos leis que defendem isso e temos que fazê-las valer, denunciar se for preciso”.

Marcelo Lobato, Marcelo Falcão, Lauro Farias e Xandão (Foto: Divulgação)

O discurso corrobora as faixas de “Não tem fim”, último disco d’O Rappa, que caminha numa levada de acreditação, dias melhores, esperança. É dele, aliás, que sairá boa parte do repertório que o grupo cantará no dia 16 de janeiro no Festival de Verão da Pedreira, em Guarapari, Região Sul do Espírito Santo. A moral de Marcelo Falcão, Lobato, Lauro Farias e Xandão pela cidade turística é tão grande, que certa vez, ao vender tantos ingressos, fecharam todo um complexo de entretenimento por meses devido a superlotação. O sucesso “Anjos”, aquele de “Oh lord, oh lord”, está garantido na apresentação. Ah, e vamos ao fim do mistério: quem é o lord d’O Rappa? “Não fazemos referência a um Deus específico. É mais um lamento. Tem a ver com a superação e na fé, seja lá em quê. A crença no trabalho, no esforço para se conseguir algo dignamente. Uma referência à verdadeira essência humana. Vale para qualquer credo”, esclareceu Lobato. Talvez por carregar esse entendimento que, para o grupo, “o palco é lugar sagrado”. “As pessoas se identificam com as músicas, trazem para o contexto de suas vidas. Talvez porque tratamos de temas que têm a ver com a vida do cidadão comum. São circunstâncias reais”, acredita.

E já que vocês falam de “circunstâncias reais”, que tal virar o olhar para o Planalto Central e tentar entender o que anda acontecendo pelos corredores do Congresso Nacional, com o impedimento de mandato da presidenta Dilma Rousseff (PT) em processo de rito e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), às vias de uma cassação? “O processo de impedimento perde muito de sua legitimidade quando a gente percebe o real propósito: politicagem, jogo de interesses. Na verdade, o que nós queremos é o fim desse jogo sujo, da corrupção, e a punição dos culpados seja de qual partido for. Infelizmente o que se vê é um envolvimento generalizado da classe política com raras exceções”, atacou Lobato. Dias melhores para a política brasileira estão longe do nosso retrovisor, mas o mesmo não podemos dizer do novo projeto d’O Rappa, que encerra essa conversa: “Estamos finalizando um DVD que gravamos no Recife, na Oficina do Brennand. Deve ser lançado no meio do ano. Até lá continuaremos a turnê”. (Colaborou Karina Kuperman)

Serviço

O Rappa e Ponto de Equilíbrio no Festival de Verão da Pedreira

Quando: 16 de janeiro

Ingressos: Pista 1º Lote R$ 50,00 (meia) e Camarote 1º Lote R$ 80,00

Pontos de venda: Blueticket (www.blueticket.com.br)

Horário: A abertura dos portões será às 21h. O início do show às 23h

Local: Pedreira Adventure Park. Av. Padre José de Anchieta, S/N – Guarapari – ES

Informações: 3361-3177

Classificação: 16 anos.