*Por Iron Ferreira
O cantor e compositor gaúcho Antonio Villeroy está de volta aos palcos com a turnê “Luz Acesa”. Além de comemorar os 38 anos de estrada, o espetáculo tem como objetivo revisitar os maiores sucessos de sua carreira, que incluem canções gravadas por nomes como Gal Costa, Ana Carolina e o americano John Legend. O show, que chega ao Rio de Janeiro hoje, dia 26, onde desembarcará no Manouche, marca também a estreia de todo o catálogo do artista nas plataformas digitais. Para a ocasião, ele também disponibilizou um EP que reúne todas as suas canções que se tornaram temas de novelas, além de três novos singles.
“Eu pensei sobre esse show a partir do momento em que comecei a reunir materiais para disponibilizar nas plataformas digitais. Eu tenho várias canções e discos lançados. Ao ver tudo isso, fiquei com vontade de voltar aos palcos. Era o que muitas pessoas me pediam, um show apenas de voz e violão que priorizasse as minhas composições. Em um repertório de mais de 300 músicas, eu selecionei 18 para o roteiro. Todas as músicas que serão apresentadas são sucessos que marcaram gerações”, declarou.
Com nove discos lançados e um DVD, o compositor fez história ao ter mais de 250 canções gravadas por artistas das mais diferentes culturas e nacionalidades. Desde os brasileiros Ivan Lins, João Donato, Maria Bethânia, Maria Gadú, Mart’nália, Moska, Preta Gil, Seu Jorge e Zizi Possi, passando pelos italianos Chiara Civello e Mario Biondi e pela argentina Dolores Solá, todos compartilharam a arte e o talento de Villeroy. “É uma benção. Eu sempre ouvi todo o tipo de música, e tenho uma certa versatilidade musical. Componho em várias línguas, como o inglês, o espanhol, o italiano e o francês. Escutar uma canção minha na voz de outras pessoas é gratificante, é o que mantém essa profissão viva”.
Com tantos anos de experiência e um currículo invejável, Villeroy acredita que o cenário musical sofre com a falta de profundidade nas composições e na qualidade dos trabalhos. Testemunha da época de ouro da MPB, o músico acredita que isso é um reflexo da falta de interesse das pessoas, ocasionada pela velocidade dos tempos atuais. “Eu tive o privilégio de ouvir músicas de altíssima qualidade durante a minha infância. Era uma qualidade de texto, de letra, o que me ajudou na formação enquanto pessoa e artista. Hoje em dia, o mundo todo está diferente. As músicas que tocam na rádio refletem o que está acontecendo na sociedade. Eu não sou juiz para dizer o que é bom ou ruim. De uma certa forma, está tudo um pouco mais raso. É uma era em que as pessoas não têm paciência para ler um texto, são todas pautadas pela velocidade. A música não tem culpa disso, ela é uma resposta ao que está acontecendo”.
Apesar da realidade apresentada pelo cantor, ele afirma que não faltam bons exemplos mostrando que é possível manter a qualidade, mesmo em tempos difíceis. A fidelidade ao projeto e o respeito à mensagem que será transmitida é uma importante maneira de manter as suas referências, sem abdicar de nada em troca do sucesso. Ele curte o som de IZA e alguns trabalhos da Anitta: “Eu gosto muito da Duda Brack, do Chico Chico, da Iza. O Ian Ramil, que ganhou um Grammy no ano passado, também tem canções interessantes. Tem muitos artistas bons crescendo. O Rio Grande do Sul, por exemplo, possui vários artistas ótimos que estão ganhando público aos poucos. É um cenário musical promissor”.
Porém, Antonio frisou que não é um crítico da era dos streamings. Segundo ele, embora tenhamos deixado de lado o gosto por manusear os discos enquanto obras artísticas, a tecnologia veio para transformar e facilitar a vida de quem vive de música. “Perdemos a parte romântica e artística do manuseio com o disco e com a capa do trabalho. Já tivemos uma perda ao passar do vinil para o CD, e agora do físico para o virtual. Os shows que eu fiz na Europa, foram todos fechados em cima do meu material que está disponível nas plataformas digitais. Antes, era necessário mandar percorrer e criar uma agenda de divulgação diferente. O alcance é muito mais rápido, nesse ponto é positivo”.
Para o Site Heloisa Tolipan, o músico admitiu que muita coisa mudou em sua vida por causa da profissão, especialmente no que diz respeito à maturidade. E foi essa a palavra que ele usou para definir os mais de 30 anos de carreira. Ao dedicar-se ao trabalho de compositor, a reflexão com o seu eu interno resultou em um olhar mais aguçado e compreensivo em relação ao mundo exterior. “A música é uma forma de autoconhecimento. Quando eu comecei a compor, eu estava colocando os meus sentimentos para fora. Era a minha forma de enxergar o mundo. Nesses anos de estrada, eu passei a me enxergar de uma maneira diferente, melhor. O meu entendimento sobre o mundo ficou mais claro. Esse é o essencial, e as pessoas que forem assistir ao show vão perceber isso. Acho que ganhei mais maturidade”.
E foi com base nessa transformação, buscando entender o comportamento do próximo, que o artista se posicionou diante da atual realidade. De acordo com ele, vivemos em uma era de propagação de notícias falsas e constante descrença e contestação de verdades. Apesar das incertezas perante o futuro, esse momento também serviu de inspiração para a montagem do seu show. O nome “Luz Acesa” foi pensado com o intuito de levar a claridade e a razão às pessoas.
“O atual momento vem apresentando um ataque direto ao pensamento crítico. Eu vejo uma aproximação do obscurantismo. O nome do meu espetáculo tem como objetivo chamar a atenção das pessoas para a razão, lutando contra a escuridão. Esse momento não é só ameaçador para a música, mas também para as artes plásticas, filosofia e sociologia. Porém, iremos produzir cada vez mais e melhor em resposta”, afirmou.
A partir de agosto, o cantor levará a sua arte através das fronteiras para países como Áustria, Alemanha, Portugal, Itália e França.
Serviço:
QUARTA 26 DE JUNHO, 21h
MANOUCHE
RUA JARDIM BOTÂNICO 983/989
INGRESSOS: R$ 60 (inteira) R$ 30 (meia) R$ 40 (solidário)
INFORMAÇÕES: (21) 35.14.8200 / 981.06.78.04
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