Imagine conhecer a história por trás das músicas mais marcantes de artistas como Maria Gadú, Mart’nália, Gaby Amarantos, Buchecha, João Bosco, Guilherme Arantes, Paulinho Moska, Marina Lima, Leoni, Marcos Valle, Leo Jaime, Elba Ramalho e muitos outros? Agora imagine que isso tudo acontece em um bate-papo sincero, com momentos engraçados, emoção e – mais do que isso, muita música? Parece sonho, mas esse é o projeto “Trampolim”, de Fabiane Pereira e Marcus Preto, que, em sua terceira temporada, já conquistou um público fiel e apaixonado. O que poucos sabem, porém, é que “Trampolim”, braço do projeto “Grandes artistas” de Marcus Preto, surgiu por acaso. “Eu fazia o ‘Grandes artistas’ em São Paulo, que não era com música, só entrevistas. Aí a Fabi trabalhava com o Moska e ele foi lá, pegou um violão e tocou duas músicas. As pessoas se emocionaram, choraram, ele falou coisas lindas. Pouco tempo depois, ela me ligou e me perguntou se eu não queria fazer isso no Rio, na época que o Miranda, do Lagoon, estava inaugurando. Aí eu topei. Na cabeça dela, era com música e colocou o projeto para andar assim. Foi ótimo, porque virou uma outra história que não era igual ao ‘Grandes artistas’. Ou seja: ela inventou inconscientemente”, contou Marcus.
O nome “Trampolim” também surgiu por acaso. “Estávamos, eu e Preto, conversando sobre que nome iríamos dar, queríamos algo musical. Como o Moska é bem de nome, mandei um e-mail pra ele pedindo uma ajuda, expliquei que queríamos falar como o artista chegou ao sucesso, quais os trampolins que o fizeram se aproximar do grande público. Aí ele respondeu assim: ‘Você já tem um nome, já está no e-mail’. Ele que batizou”, lembrou Fabi, responsável pela curadoria do projeto. “Quando vamos começar a temporada, fazemos uma lista juntos, então é uma cocuradoria. No primeiro ano convidamos só artistas amigos, agora, na terceira temporada, já acabaram, então vamos chamando todo mundo. Essa temporada foi mais fácil, porque as pessoas já conhecem o projeto, sabem que é um papo legal, que o Preto deixa à vontade no palco. Os ‘nãos’ que tivemos foi por data, porque fora isso sempre quiseram participar”, contou. Aliás, Fabi adiantou, exclusivamente para o site HT, que essa temporada será fechada com chave de ouro. “Vamos receber a Elza Soares em janeiro”, disse.
Com o final da temporada, a próxima já vira expectativa, mas os criadores ponderaram: “É um projeto de edital, então precisamos nos inscrever – ainda nem abriu, passar pelo crivo da curadoria e depois começar a pensar nos próximos nomes”, explicou Fabi, que desde cedo tem uma relação próxima com a música. “Sou de Volta Redonda, meu pai adorava fazer seresta em casa. Conheci muitas músicas de rádio e cheguei no Rio, e fui trabalhar na MPB FM, trabalho lá há 11 anos. A vida me levou por esse caminho”, contou. Já para Marcus, que hoje, além de sua carreira jornalística, assina a produção do disco “Estratosférica”, de Gal Costa, a história foi inversa. “A música que me levou para o jornalismo, não ao contrário. Eu inventei que era jornalista para escrever sobre música. Eu gostava desde criança, comprava discos e, na época que surgiu a revista da MTV, em 2001, eu olhei quem era o editor-chefe e mandei um e-mail. Estava bêbado, não lembrava que tinha mandado. Eu trabalhava de garçom no Spot, um restaurante de São Paulo que gente de teatro trabalha, nós saíamos de la e íamos para a balada. Nesse dia fui para banca de jornal, comprei a segunda edição a revista, vi o e-mail dela e mandei. Era Mônica Figueiredo, ela quis me conhecer, eu fui e ela me contratou”, relembrou, aos risos.
Com a produção foi mais ou menos a mesma história. “Eu já tinha entrevistado a Gal algumas vezes e fui encontrá-la para falarmos do documentário que eu queria fazer. Em uma das perguntas eu falei do disco novo e comecei a sugerir ideias. Ela gostou muito e disse ‘mas aí você vai ter que trabalhar’. Mas não foi do nada. Eu já tinha feito produção do Tom Zé, fazia a biografia dele – acabou que foi adiada e ainda nem escrevi. Mas, um dia rolou a história da Coca-Cola, ele fez uma locução do comercial e as redes sociais viraram um inferno com frases do tipo: ‘Tom Zé se vendeu pro imperialismo’. Cheguei na casa e ele estava tristíssimo, não queria mais fazer música aos 70 e poucos anos. Aí eu sugeri de ele usar isso tudo que era ruim em letras e fizemos um disco. Ele ficou muito feliz. Eu adoro produzir disco, sabia desde sempre que ia gostar. No caso da Gal, sugeri um só de músicas inéditas, fui atrás de compositores e chegamos a ter 150 músicas”, contou.
Para o futuro do “Trampolim”, os dois tem muitos planos. Os artistas que ainda querem chamar são vários. “Sonhamos com Erasmo Carlos”, revelou Marcus. “E Baby do Brasil! Que em 2016 venham os dois”, desejou Fabi. “Milton Nascimento, que eu queria muito, já veio, mas foi na plateia, para assistir a Maria Gadú, quem sabe um dia seja no palco?”, continuou Marcus. “E o Frejat? Devem ter histórias de rock muito legais de uma outra geração que não a do Erasmo”, sugeriu Fabi. “E Caetano!”, lembrou Marcus. “Já que é assim, quero Chico Buarque e Marisa Monte”, completou Fabi. Sim, eles ainda tem muitos sonhos, mas o maior é transformar o projeto em outros formatos. “Temos um material que só enriquece. Podemos fazer muito com ele. A equipe é a mesma desde o primeiro projeto, então temos tudo na mão, está amarradinho. Queremos livro, documentário, tendo patrocínio, nós vamos à lua”, disse Fabi.
Encher teatros mensalmente como eles fazem no Oi Futuro é mérito de poucos. Marcus e Fabi acreditam que isso é fruto da diversidade do que apresentam no palco. “Quando o gênero musical não é MPB tradicional, temos outro tipo de público. Por exemplo, quando vieram Maria Gadú, Clarice Falcão e Mallu Magalhães, tinha uma galera mais jovem. Com Buchecha temos o maior representante do funk carioca. O ‘Trampolim’ tenta falar com todos os gêneros. Já trouxemos Mart’nália pelo samba, Gaby Amarantos com seu tecnobrega. Para mim, música popular brasileira são todos os gêneros cantados em português”, defendeu Fabi. Marcus concordou e disse acreditar que o público é fiel graças ao formato. “É tudo meio freestyle. Chegamos na hora e vamos conversando. O que acontece é que combinamos o repertório antes com o cantor e as perguntas vão se encaixando ali no meio disso”, revelou.
Fazer encontros com artistas famosos por um preço popular e de forma acessível é o maior diferencial de “Trampolim”. “O Museu da Imagem e do Som tem essas entrevistas com grandes nomes da música, mas é fechado, só para convidados. Nós temos entrevistas, falamos dos bastidores, da MPB e é aberto e a preço popular. Grandes nomes já passaram pelo ‘Trampolim’ e qualquer pessoa pode vir! Além disso, os melhores momentos estão disponíveis na internet para quem quiser”, destacou Fabi. Se a ideia é aproximar os ídolos de seu público, eles seguem por um caminho lindo. Com direto à muita canção. Veja mais fotos abaixo:
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