O mangueirense Ivo Meirelles vai produzir o samba-enredo das escolas Grande Rio e Mocidade Alegre depois de trinta anos longe das competições


O tema das escolas de samba serão o icônico Chacrinha e Alcione. Além da volta as suas raízes, o compositor, cantor, multi-instrumentista e ex-dirigente irá lançar músicas que produziu há cerca de dez anos

O coração é verde e rosa, mas o samba-enredo do carnaval de 2018 será da Grande Rio e da Mocidade Alegre de São Paulo. Cerca de 30 depois de emplacar um samba-enredo na Mangueira com ‘Caymmi Mostra ao Mundo o que a Bahia e a Mangueira Têm’, Ivo Meirelles quer narrar a passagem de outras duas escolas. As escolas estão trazendo duas grandes personalidades brasileiras para os desfiles: Alcione e Chacrinha. “Faz 30 anos que eu não disputo um samba-enredo, desde que ganhei o da Mangueira não sentia mais vontade de participar. Mas os temas das duas escolas me motivaram muito a voltar. Mesmo se não sair vencedor, vai ser muito importante este próximo Carnaval, por fazer tempo que não vou para a quadra torcer por um samba meu. Isto faz parte do meu passado, era adolescente quando me dediquei a este ramo. Vão ser noites muito emocionantes”, afirma o músico.

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A Grande Rio está trazendo o icônico comunicador Chacrinha que levava os telespectadores à loucura em seus programas. O apresentador passou por grandes emissoras da época como a TV Tupi, Rede Globo e Bandeirantes. Por onde ia, levava consigo toda a audiência do horário. “O Chacrinha me lembra a minha adolescência e o via como um símbolo de liberdade, porque falava o que queria como, por exemplo, fazer o concurso do cara mais feio do Brasil. Ele sabia brincar com o bizarro e cresci sendo moldado assim”, conta. Já a Mocidade paulista irá reverenciar a voz potente de Alcione. “Eu sempre fui fã da Alcione, mas de repente me tornei amigo dela. Me ajudava nos projetos e parcerias”, complementa.

A maior dificuldade na hora de criar o samba-enredo foi o excesso de informações (foto: Cauê Garcia / CG1 Comunicação)

Mesmo trazendo personalidades cativantes da história nacional, Ivo afirma ter dificuldade na escolha das palavras que entrarão na sua composição.  “A dificuldade está no excesso de informação de ambas personalidades. Não dá para colocar tudo o que sabemos sobre o Chacrinha em um samba porque vai ficar com 80 páginas. Estamos na dúvida sobre quais palavras usar como, por exemplo se colocamos a Terezinha ou as Chacretes”, explica o compositor que afirma estar se empenhando para fazer o melhor possível.

Ivo Meirelles é verde e rosa de coração mesmo contribuindo com o samba-enredo de outras escolas (Foto: Divulgação)

No entanto, Ivo possui um grande problema geográfico tendo que gerir o samba de duas cidades diferentes. O músico se mudou para a capital paulista em busca de novas oportunidades profissionais e, agora, precisa vir sempre que pode ao Rio para focar no evento. “Preciso ficar nesta ponte aérea Rio-São Paulo para fazer o samba já que ele não pode ser feito pelo Whatsapp. Só conseguimos ensaiar de madrugada, porque não temos tempo durante o dia. Uma senhora me contou que era vizinha de um dos rapazes que ensaia comigo em São Paulo e me disse que sempre escutava minha voz lá, mas não reclamava porque era eu”, brinca o autor.

Mesmo criando samba para outras escolas,
Ivo continua sendo parte da Mangueira (foto: Cauê Garcia / CG1 Comunicação)

Apesar de criar o samba da Grande Rio, concorrente direta da escola onde cresceu, Ivo explica que continua sendo mangueirense. O rapaz se mudou de sua casa na Mangueira há cerca de oito anos. “Nasci, cresci e morei na Mangueira. Quando vejo o desfile passa um filme na minha cabeça, fiz amigos naquela quadra. Ver a escola ganhar em 2016 foi demais, queria muito poder estar lá para comemorar com os meus amigos da infância. Foi uma agonia ver a minha escola campeã sem poder participar da festa. Não importa que eu vá trabalhar com outros grupos, meu coração sempre será verde e rosa. Todos da Grande Rio sabem que sou de lá”, afirma o ator que, apesar de torcer para seu samba-enredo, ficará muito feliz caso a verde e rosa ganhe.

Ivo Meirelles é conhecido por misturar estilos musicais (Foto: Divulgação)

Além desta novidade, Ivo resolveu retirar da gaveta um disco que havia produzido há dez anos e nunca divulgou. Ao todo são 14 faixas que podem trazer alguns nomes importantes da música popular brasileira. “Ainda não posso falar muito sobre o disco porque não tem nome e não escolhi a faixa que entrará. Vou mixar as músicas e, depois disso, selecionarei alguma dessas para expor ao público. Pode ser que apareçam algum artista ou seja somente eu. Mas a versatilidade rítmica que sempre exaltei está presente em todas as faixas do CD. O ritmo foi inventado por mim, no começo dos anos 90, e, hoje em dia, aparecem em blocos de carnaval como Sargento Pimenta e Bloco da Preta”, conta o cantor sobre o estilo eclético que exalta em sua música da antiga banda ‘Funk’n Lata’. A banda era composta por alguns jovens que pertenciam a escola de samba.

Ivo Meirelles mantém três shows fixos na cidade no Bar Brahma, Bar Aurora e Le Monde Mesmo criando samba para outras escolas,
Ivo continua sendo parte da Mangueira (foto: Cauê Garcia / CG1 Comunicação)

A diversidade de suas composições trazia uma mescla de estilos musicais. A mistura de pop nacional com batidas de samba foi uma criação de Ivo e que hoje é muito disseminada em fevereiro. Esse intercâmbio de estilos aconteceu devido ao seu gosto eclético. “Desde jovem sempre gostei de vários estilos musicais diferentes. Não era fã apenas das músicas que faziam parte da moda como o funk, na época, eu me programava para ir em vários shows. Isto me ajudou a compor temas mais diversificados. Por causa do gosto eclético, fui convidado para apresentar um programa na ‘Rádio Cidade’, inclusive”, afirma Ivo que se mostra muito satisfeito com a diversidade musical que vê em São Paulo desde que chegou há quatro anos. Ele mantém três shows fixos na cidade no Bar Brahma, Bar Aurora e Le Monde.

Depois de tanto esperar, o músico resolveu relembrar aos fãs seu gosto diferenciado por causa da atual conjuntura musical brasileira. “Estamos em um momento da música que parece não ter solução e, com essa música, espero trazer algo de novo. A Elba Ramalho reclamou a pouca quantidade de shows no São João porque o sertanejo dominou o forró. O Brasil nunca teve apenas um gênero musical e não vai ser agora que terá”, comenta o autor. Segundo ele, as bandas atuais não estão falando do momento de crise que o país está passando o que é visto como negativo para o mesmo.

 

O compositor critica os temas das músicas atuais (Foto: Divulgação)

Não criticar a crise política, econômica e cultural do Brasil é um reflexo da ignorância da população que prefere se dedicar a festas do que pensar sobre o momento atual. “Estamos vivendo momentos onde a corrupção é extrema e não vejo músicas que falem sobre isto. Tanto no funk como no sertanejo não há nenhuma crítica condizente sobre a situação do país. É um som muito pobre. São letras vazias que poderiam ser uma forma inteligente de manifesto. Estão deixando esses momentos importantes passarem sem que haja uma reflexão musical sobre isso. Não há essa preocupação porque, aparentemente, as músicas de protesto não emplacam”, critica o autor que pede aos compositores de ambos os ramos a diversificarem suas criações. Recado dado.