*Por Rafael Moura
Na quarta-feira, o Site HT foi ao CCBB Rio de Janeiro, conferir a estreia do espetáculo A Arte é Mulher, um projeto inédito de Lan Lanh que mixa debate e criações artísticas femininas em formato multiartístico através de encontros mensais com participação de Heloísa Buarque de Hollanda. “Como dizia minha avó quando muitas mulheres juntam três cheiro de coisa”, comenta a percussionista no início do nosso papo. “Este evento nasceu do meu desejo de promover um encontro de artes criadas por mulheres de várias gerações, assim como as mulheres inventadas pela arte em suas diferentes manifestações do feminino. Para isso, propus uma convocação ritmada de música e palavras para gerar uma onda feminista e, assim, espalhar as alegrias, dividir as tristezas e compartilhar com a plateia a arte de ser mulher”, explica Lan Lanh que, para o evento, formou um trio musical fixo e inédito com as cantoras Numa Ciro e Jussara Silveira. Lan ainda é a responsável pela direção musical, percussão e arranjos da original Banda Arte, composta ainda por Maíra Freitas (teclados, programações e arranjos) e Irene Egler (violão e arranjos).
O espetáculo começa com projeções, da VJ Leticia Pantoja, com imagens da coluna ‘Arte de ser mulher’, de Carmem da Silva, na Revista Claudia, 1963. Depois cita Sueli Carneiro que no fim dos anos 80 fundou o Geledés – Instituto da Mulher Negra. E mais: a mulher escolhida para uma viagem no tempo foi a escritora Djamila Ribeiro com seu livro ‘Quem tem medo do feminismo negro’. “Toda mulher que está aqui, citada ou presente, tem uma história, tem uma relação, uma causa, uma ação, uma relação afetiva. É uma reunião de mulheres talentosas de várias gerações”, conta alegre Lan Lanh no fim do espetáculo.
Com direção cênica de Cristina Moura e projeção do acervo fotográfico de Cláudia Ferreira, um dos principais do país sobre feminismo, cada encontro receberá convidadas diferentes, mulheres que, em seu histórico de atuações, sempre representaram no meio artístico as suas vivências enquanto mulheres da área – começando com a cantora paulista Ana Cañas que trouxe uma versão rock and roll dos hinos Tigresa e Vaca Profana (ambas de Caetano Veloso) e a música Respeita do seu último álbum Todxs; e a artista plástica baiana Célia Peixoto (mãe da Lan Lanh). “As músicas que compõem os shows exemplificarão os relatos, revezando com as falas das artistas. Criamos um espetáculo em torno das questões que envolvem a mulher: suas múltiplas versões do feminino e as diferentes manifestações políticas do feminismo”, analisa Numa Cora, que assina com Lan Lanh o roteiro e a curadoria do evento.
“Aqui nada está à toa, tudo sempre conectado com esse movimento de dar voz e amplificar as falas das mulheres. Nunca se falou tanto em empoderamento feminino, mas é um momento delicado, porque, as taxas de feminicídio aumentaram, além de uma onda conservadora que se espalha”, conta angustiada a Lan Lanh, que lançou seu terceiro disco solo, em 2018, Batuque, pela gravadora Dubas Música.
As apresentações contam ainda com interferências visuais e trocas com a plateia, tendo no comando Heloísa Buarque de Hollanda focando no que seria esse novo campo cultural pautado pelo feminismo na música e nas artes. “Este é um encontro que dá voz à diversidade de mulheres que existem na mulher”, reflete a ensaísta, editora, crítica literária, pesquisadora brasileira e escritora, que lançou em 2018 o festejado livro “Explosão Feminista”.
Enaltecendo o momento cultural do país no qual as mulheres têm protagonizado uma série de ações artísticas culturais, destaca-se uma luta constante contra as desigualdades da sociedade patriarcal, continuada na pós-modernidade. “Nunca é demais falar da mulher ou em defesa da mulher, ainda mais em tempos tão tenebrosos. Em 1913, meu bisavô, o médico Crescêncio Silveira, disse em sua tese sobre a mulher: ‘A mulher não é fraca, fracos são os direitos que a garantem’. Mais de um século depois a frase certeira serve ao propósito”, conta a cantora Jussara Silveira, integrante desse time de Lan Lanh.
“O artista tem esse lugar e o compromisso de ser uma voz de protesto. E de mexer com as emoções e com corações e provocar essas manifestações. A música sempre foi minha bandeira de protesto, há 32 anos. Desde que eu decidi entrar num universo altamente masculino, bateria e percussão. Esse encontro é para isso: compartilhar as alegrias e dividir as tristezas e fortalecer a arte de ser mulher”, finaliza.
Serviço:
A ARTE É MULHER – Até 26 de junho
CCBB RJ – Teatro II – Rua Primeiro de Março, 66 – Centro
Horário: 19h
Classificação indicativa: 14 anos
Entrada gratuita (senhas distribuídas na bilheteria 1h antes)
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