História de amor é sempre inspiradora. Não importa se é daquelas que ouvimos em uma letra de música, suspiramos na tela do cinema ou descobrimos nos bastidores do Carnaval. E essa tem a folia como um dos desfechos – literalmente. A relação que começou nas piscinas do Clube de Regatas do Flamengo, no Rio, e atravessou vários desafios e ensinamentos nas últimas décadas, tem há seis anos a Sapucaí como comemoração anual. O Folia Tropical, badalado camarote da passarela do samba carioca, é um dos quatro filhos de Agnes e Newton Mendonça. Os outros três são Mickael, Tiwana e Ton, que juntos, fortalecem a estrutura do casal que se conheceu aos 13 anos de idade e seguem contando essa história até hoje.
Atletas de natação do rubro-negro carioca, Agnes e Newton começaram a construir esta história ainda na adolescência. Depois de mais de 30 anos juntos, hoje, o casal é responsável pelo Grupo Pacífica e, entre os negócios de entretenimento, possui um dos principais camarotes do Carnaval carioca. O Folia Tropical, que será a casa do site HT durante os dias de desfile na Sapucaí, é um dos filhos desta relação – que começou nos anos 1970. Ela com 13 e ele com 14 anos, Agnes e Newton Mendonça se aproximaram ainda entre os treinos na piscina. “E para mim foi amor à primeira vista. Eu não sabia nem o que estava sentindo, mas eu gostava de ficar perto dele”, lembrou Agnes.
Seis anos depois, aos 19, veio o casamento e o primeiro filho: Mickael. “Nós éramos estudantes e naquela época vivíamos do patrocínio da natação. Só que, a partir daquele momento, com um filho no colo. Então, eu ia para a piscina treinar e as mães dos outros atletas tomavam conta do Mickael para mim”, contou Agnes Mendonça que recebia patrocínio da Company, importante marca de roupa da época. “O Mauro, que era o dono da marca, olhou para a gente e disse que queria nos patrocinar, mas, para isso, precisávamos ir aos eventos da marca. E aí íamos nós duros feito rapadura, porém, vestindo a melhor grife da época. Quem via de longe achava que a gente era rico, mas depois da festa eu ia na casa da minha mãe pegar um pouco de arroz e macarrão”, lembrou Agnes aos risos.
Porém, mesmo com o patrocínio, a situação do jovem casal não era fácil. E só foi se intensificando. Anos depois, veio a segunda filha, Tiwana, e, com 27, Agnes já era mãe pela terceira vez. “Nessa altura do campeonato, eu já trocava fraldas de costas e tinha toda uma praticidade que fui aprendendo com o tempo. Porém, nos deparamos com uma situação que nos acendeu um alerta que é uma completa inversão de valores. Começamos a reparar que o Ton era diferente dos outros irmãos e aí começou uma nova história”, disse a mãe sobre o filho especial que trouxe um novo norte à família. “Nossa vida deu uma volta de 180°. A gente não sabia o que fazer e nem para onde ir. Foi uma busca muito louca, mas aprendemos e hoje digo que temos um anjinho na nossa casa. Sobrevivemos e estamos aí”, comemorou.
Mas, para isso, eles ralaram. Da dificuldade, o instinto de comerciante de Newton Mendonça se aflorou e toda possibilidade era uma oportunidade para o casal. E, no começo, ela era em forma de caixa de papelão. “A história começou quando o nosso primeiro filho nasceu e eu estava na faculdade. No começo, eu fazia uns cinco sanduíches para mim e só conseguia comer um porque meus amigos pediam os outros. E, com faro comerciante, comecei a levar em caixa de sapato e cobrar”, contou Newton que, com o sucesso dos sanduíches, teve o apoio de Agnes para completar a renda mensal da jovem família. “Tinha uma época que eu fazia 200 sanduíches, torta de banana, bolo de cenoura com chocolate, empadão de legumes com ricota, empadão de frango e bolo de chocolate todos os dias para ele levar”, contou Agnes.
Mestre cuca? Que nada! Segundo ela, sua versão gastronômica acabara de ter aparecido. “Nasceu ali. A necessidade faz a pessoa, né? Eu fazia mágica, ainda mais com a cozinha que a gente tinha”, disse Agnes que, entre tantas receitas, ainda cuidava das três crianças. “Menina, eu passei um dobrado”, lembrou. Imaginamos!
Foi então que o Carnaval começou a ganhar espaço na vida da família Mendonça. Formado em Hotelaria, Newton passou a trabalhar em uma empresa de turismo e foi apresentado ao “bom negócio que é este período”, como a folia lhe foi oferecida. “Eu entrei em uma agencia e lá um cara me disse que Carnaval era um bom negócio. Continuei trabalhando na minha área e só estava percebendo que nenhum ingresso para a Sapucaí estava sendo vendido. Quando estava faltando uns cinco dias para os desfiles, peguei a minha moto e fui ao primeiro hotel da Praia de Copacabana, o Rio Othon Palace”, contou Newton que, desta experiência, deixou os ingressos com um vendedor e esgotou toda a cota que a agência tinha comprado há meses.
E não é que o Carnaval, de fato, se mostrou um bom negócio para Newton Mendonça? “Depois desse primeiro ano, eu comecei a evoluir. Comprei camarote, fiz decoração, contratei transporta para a Sapucaí e agreguei outros serviços. De lá para cá já são 30 anos”, disse o empresário que, no começo, trabalhava apenas revendendo camarotes.
Até que nasceu o camarote da família Mendonça e do Grupo Pacífica: o Folia Tropical. Porém, engana-se quem pensa que este foi um projeto idealizado em todos os conceitos desde o começo. “O Mickael entrou nos negócios e nos mostrou que primeiro precisávamos de um nome que desvinculasse o Carnaval ao Grupo Pacífica. E aí passamos uma tarde inteira com um quadro de palavras pensando em como poderíamos chamar esse novo projeto. Até que, depois de horas, sobrou “folia” no alto do quadro e “tropical” embaixo. Foi assim que nasceu o Folia Tropical”, contou Agnes que, neste momento, não tinha nem o espaço para tirar o nome do papel.
O primeiro endereço do camarote, que hoje ocupa o setor 6 da Sapucaí, no centro da passarela do samba, foi o fim da avenida. No setor 10, Newton Mendonça aceitou o desafio e lançou o Folia Tropical no antigo espaço da cerveja Cintra. “As pessoas do escritório ficaram assustadas porque nunca ninguém tinha trabalhado com algo daquele tamanho”, lembrou Agnes da preparação para o Carnaval de 2013. De lá para cá, o projeto de Carnaval do Grupo Pacífica foi ganhando experiência, forma, status e reconhecimento. “Como somos formados em Hotelaria, a prestação de serviço sempre foi o nosso diferencial na avenida. A gente sabia e se preocupava em fazer um bom atendimento desde a época que atendíamos hotel”, justificou.
Outro ponto de destaque da história de Agnes e Newton Mendonça na Sapucaí é a inovação. Com o Folia Tropical, o casal estreou vários quesitos na avenida. “Sexta e sábado o Sambódromo não era usado e só iam os operários que faziam os camarotes para os outros dias. Foi então que começamos a fazer o espaço ficar pronto na quinta, nem que fosse para a nossa família aproveitar o desfile”, contou Agnes que, na sexta, inovou mais uma vez inaugurando o Carnaval do Grupo Pacífica com o primeiro camarote LGBT da Sapucaí, o Candybox.
Depois, a novidade foi no conceito do Folia Tropical. Para seu camarote, Newton Mendonça uniu duas potências que percebeu durante seus anos de vendas: artistas e anônimos. No Folia, celebs dividem espaço com pessoas que compram seus ingressos individualmente. “O Newton foi o primeiro empreendedor a entender que poderia fazer um mega camarote e conseguir vender também para pessoa física. Além de não ter patrocínio, não é um espaço fechado por grupos grandes. Ele assumiu a responsabilidade de colocar 1.500 pessoas por dia em um camarote apenas com as vendas individuais”, explicou Guilherme Barros, responsável pelo marketing do camarote, ao lado de Mickael, e “agregado” da família Mendonça.
E eles não param. Embora o lema do Grupo Pacífica e, especificamente do Folia Tropical, seja vender alegria e experiência, proporcionar inovação também é uma das missões do casal fundador. “No nosso primeiro Carnaval, na terça-feira, estávamos no camarote com aquele espaço todo decorado e, na avenida, as crianças desfilando super animadas. Foi então que o Mickael deu a ideia de fazermos o Folia dos Amigos do Ton. E assim foi feito. Mesmo muito cansados, fizemos esse dia para crianças de comunidades, abrigos e ABBR e seus familiares”, contou Agnes do dia que, para todos da família, é a recarga de energia depois de tanto trabalho. “O inclusivo não é invisível”, defendeu a mãe sobre o público animado que é convidado para a terça-feira de Carnaval no Folia Tropical.
Como eles aguentam? Lembra que Agnes e Newton são, antes de tudo isso que contamos, atletas? Pois bem. Mesmo que a natação tenha ficado lá nos anos 1980, o fôlego que o esporte ensinou é o combustível desta maratona festiva. “O esporte dá disciplina, consistência e perseverança. A gente se acostuma a estar sempre atrás de um rendimento melhor. Ontem pode ter sido um dia difícil, mas hoje estamos fortes para lutar novamente e quebrar as barreiras”, disse Newton. E Agnes também não minimizou as palavras para falar do esporte. “A natação é a base da minha vida. Ela me ensinou tudo e me mostrou o caminho da superação. Se nós estamos todos cansados, eu sou a primeira a motivar a galera”, apontou.
Ou seja, de sua relação com Newton, Agnes, realmente, teve quatro filhos. Além de Mickael, Tiwana e Ton, o Folia Tropical é, sem dúvidas, mais um fruto da parceria e dedicação do casal. E, a poucos dias da maratona voltar à vida da família Mendonça, uma comparação é inevitável. Mãe, pai, atletas e empresários, o camarote é a simbiose das melhores sensações de Agnes e Newton Mendonça. “Nós recebemos 1.200 pessoas por dia e, multiplicando pelos cinco dias, são 6.000 no Folia. No final do Carnaval, a sensação da Agnes é a de receber 6.000 medalhas de ouro. Ela vê a alegria esboçada no rosto de todo mundo e isso reflete em todos”, disse Guilherme Barros. Falta pouco para recomeçar nossa rotina de bateria, samba e alegria! E a gente não vê a hora.
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