“Me incomoda muito que a gente não conheça nossos bichos”, conta Roched Seba, criador do Instituto Vida Livre que trabalha há 3 anos em reabilitação e soltura de animais silvestres vítimas do tráfico no Rio de Janeiro. Com show beneficente em prol da ONG, Ney Matogrosso, apoiador da causa, sobe ao palco do Circo Voador, dia 4 de outubro, ao lado de artistas como Alice Caymmi, Beraderos, João Cavalcanti, Marcelo Caldi, Mariana Aydar e Trio Madeira Brasil. Nos intervalos, a festa é com o DJ Raphael Vianna, do bloco Caetano Virado. O Instituto, que nasceu de uma pequena ideia e se agigantou, defende e luta por uma causa mundial.
O comércio ilegal como tráfico é uma das maiores causas de diminuição das populações de animais. E, para quem não sabe, trata-se da terceira maior atividade ilícita do mundo e movimenta globalmente de 10 a 20 bilhões de dólares. O que o tráfico não leva em consideração é que os animais em cativeiro perdem a capacidade de caçar seu alimento, de se defenderem ou de se protegerem de situações adversas. Muitos quando libertados, não sobrevivem. Além da perda da fauna nos trajetos e transporte desses animais, capturados agressivamente e transportados muitas vezes em locais apertados, sem passagem de ar e de locomoção. Segundo Roched, o Rio de Janeiro é um ponto crítico de venda e coleta de bichos. “É comum os animais serem capturados aqui. É um ponto também de dispersão de animais para outros países, então eles vêm do Brasil inteiro para o Rio e são enviados pelos portos e aeroportos para outros países. Além do consumo local, principalmente de passarinhos que vêm do país todo para abastecer essa cultura do torneio de canto, engaiolar passarinhos para cantar”, afirmou o fundador da ONG.
O começo de tudo
O trabalho no Instituto, desde 2015, é primordialmente de reabilitar os animais que passaram pelo tráfico para que eles possam novamente voltar à natureza. Atualmente a ONG possui 3 áreas de soltura, que são ambientes da etapa final de reabilitação, onde o animal efetivamente volta ao convívio com o ambiente. O trabalho geralmente envolve pegar os animais dos centros de terras do Ibama e levar para as áreas de soltura.
Segundo Roched Seba, a ideia nasceu de ver essas necessidades dos animais. “O Instituto começou em mim, como eu costumo dizer. Eu sempre tive uma conexão muito grande com bicho e desde pequeno é uma história muito forte na minha vida. O Instituto nasceu desse desejo. Na época da faculdade de Comunicação, eu fiz um trabalho voluntário em um zoológico em Niterói e eu entendi como existia uma demanda da parte dos animais, de um cuidado, de serviços e de coisas que pensassem eles dessa forma”, disse Roched. Ao terminar de cursar o mestrado em Engenharia de Produção e estudando os serviços de fauna silvestre no Brasil, o publicitário montou a ONG e as parcerias foram se formando. “Começamos a atuar na primeira área de soltura com Ney Matogrosso. Ele é uma voz de vida e liberdade muito forte e é uma honra tê-lo como o primeiro parceiro e tornar concreto esse trabalho. A segunda área de soltura que nós temos é com o Bruno Gagliasso e com a Giovanna Ewbank, que são nossos patronos. É uma família que abraça tantas causas e são empolgados com o que a gente faz. E a nossa terceira área de soltura é com a Brenda Valansi, empresária e criadora do ArtRio. Sou muito grato a ela por ter outra abordagem e permitir a gente levar esse trabalho para o mundo da arte”, conta o fundador. Durante os dias da feira, aliás, que abre as portas esta semana, o Instituto vai estar presente por lá com um espaço para venda de obras com renda revertida para o Vida Livre.
Os projetos já foram apoiados e contribuídos com diversos formadores de opinião, como Vera Holtz, a Maria Bethânia, Reinaldo Gianecchini, Carolina Dieckmann, a Giovanna Lancellotti, a Paula Brown, Jonathan Azevedo, Yanna Lavigne, Bruno Montaleone, a Alice Caymmi e Tainá Müller, entre outros parceiros dedicados à causa.
Legislação e caminhos
Além de encontrar parceiros para conseguir trazer visibilidade para a causa, uma grande preocupação do Instituto é também legislativa, já que não existe tipificação na lei sobre tráfico de animais silvestres. “O tráfico é um grande buraco na história do país, porque não existe o crime de tráfico de animais silvestres. Existe o tráfico, mas ele não é reconhecido como crime, apenas a posse, o porte do animal, a manutenção ilegal dele. O que gera um problema porque iguala uma pessoa que tem um animal ilegal há muito tempo com um traficante. Essas questões legislativas impedem até agentes públicos de punir o traficante ou o caçador, porque o tráfico acontece nos locais com hora marcada, o policial prende a pessoa, apreende o animal, mas a pessoa é solta, já que eles só conseguem prender alguém com porte de animal quando está envolvido em algum outro crime, como porte de arma, lavagem de dinheiro. É um crime inadequadamente legislado sobre ele, temos discussões que não avançam dentro do Conselho de Meio Ambiente, dentro do próprio parlamento sobre o tema”, defende Roched. O apoio da sociedade e a pressão são necessários para movimentar essas questões a níveis legislativos.
Existem formas em que a sociedade pode apoiar causas como a defesa dos animais silvestres, inclusive ao conhecer os projetos. “As pessoas podem conhecer o Instituto, divulgar os trabalhos, colaborar com o que puderem na conta do Instituto que está no perfil do nosso Instagram. Além de conhecer esse tipo de ação das ONGs, trazendo novas ideias e, principalmente, conhecendo a nossa fauna”, defende Roched.
O perigo da extinção
O Instituto também trabalha com algumas espécies em extinção. “A gente está fazendo um trabalho com algumas espécies, como a ave azulão e o papagaio chauá, em extinção em algumas partes do Estado do Rio. Foi uma decisão nossa também entender as realidades e o projeto como um serviço que dá suporte a inúmeras realidades da fauna e dos animais que temos aqui, então não fechamos para uma espécie só. E também estamos fazendo um projeto com o macaco bugio, em extinção em algumas regiões do Brasil”, conta Roched. O tráfico de animais é uma das maiores causas da extinção de espécies, principalmente por animais raros serem vendidos por milhares de reais e exportados para o mundo. No Brasil 218 espécies animais encontram-se ameaçadas de extinção, em que 7 delas foram consideradas extintas por não existir registros de sua passagem, observação e presença nas matas há mais de 50 anos.
Para evitar o sofrimento desses animais e da extinção da fauna brasileira, é preciso atenção a essas questões. “A extinção é a perda do esforço da vida e do esforço da evolução para gerar uma forma de vida. Qualquer coisa levou muito tempo para ser feita e é muita sobrecarga de genética para que você tenha hoje uma baleia jubarte diferente de uma baleia azul. É um esforço da própria aventura da vida na terra. E quando a gente extingue isso com a nossa incapacidade de lidar com o mundo e a gente perde uma espécie, todo mundo perdeu junto, não é uma perda só dos brasileiros. Nunca mais vai existir”, completa o pesquisador.
O show, além de ser no Dia Mundial dos Animais, terá toda sua venda de ingressos revertida para o Instituto Vida Livre. Já é possível comprar o ingresso online aqui. E, ainda, é possível acompanhar o trabalho do Instituto nas redes sociais, como Facebook, no Instagram @institutovidalivre e no site.
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