Neon Future Festival: Steve Aoki joga bolo no público que, inebriado com batidas e brilho, sacode sem parar sob o bate-estaca carioca


Juventude enérgica, confluência de gerações na pista, salto alto, pintura facial, batidas hipnotizantes e torta na cara marcam a primeira edição do festival de eletrônica na Marina da Glória

*Por João Ker

No meio do Aterro do Flamengo, dominando todo o espaço da Marina da Glória, a primeira edição do Neon Future Festival conseguiu arrastar milhares de pessoas afim de ouvir boa música eletrônica neste sábado (6/9). No line-up, nomes como o duo carioca Felguk e um dos mais requisitados no mundo do eletro, Steve Aoki que, por coincidência ou não, está prestes a lançar seu próximo EP, batizado de ‘Neon Future I’.

O barulho ensurdecedor dos sintetizadores e picapes já era audível a muitos metros de distância do local. Ao chegar, uma profusão de pessoas já se enfileirava na porta, todas perfeitamente arrumadas até a ponta do último fio de cabelo e incapazes de conter a empolgação com a promissora noite, já chegando aos pulos e rodopios. Lá dentro, a grande maioria dos homens flexionava os músculos bombados de academia (que poderiam tanto estar expostos quanto cobertos por camisas Hollister justíssimas) no ritmo das batidas, enquanto a ala feminina tentava se equilibrar em cima dos saltos altos ao mesmo tempo em que mantinha o pique (sério, garotas, JAMAIS vão para um festival de música, de QUALQUER ritmo, usando salto). Felizes foram aquelas espertas que chegaram de shorts e sneaker.

Na festa, o neon agregava valor ao camarote (que tinha até Luciano Szafir de babysitter da filhota Sasha) e  na pistas, com direito até a pintura facial, grande parte do público erguia os brindes piscantes do energético Fusion como se fossem bandeiras (traz o brinquedo que pisca!). As batidas, intercaladas em remixes que davam uma nova cara a todas as músicas que passaram pelo Top 20 das rádios nos últimos 12 meses, faziam o corpo inteiro tremer, mesmo que você não estivesse a fim de dançar. E isso pode até soar incoerente a princípio, mas é preciso dizer que nem só de adolescentes e jovens era formado o público do Neon Future Festival. Casais “maduros” e coroas também estavam por lá, mantendo a pose com seus respectivos baldes de uísque na área VIP, tentando acompanhar o ritmo desenfreado da garotada. E essa pode ser considerada a grande magia da música eletrônica de verdade.

Ao contrário da crença popular, o “bate-estaca” está longe de ser algo monótono e entediante que entra em um loop eterno de “tuntz tuntz”. E quem defende tal opinião provavelmente não ouviu um DJ/produtor de verdade que não segue a profissão apenas como hobby. Assim como em qualquer outro gênero, o eletro tem o poder de despertar as mais diferentes sensações e emoções em quem o ouve de cabeça aberta, bastando ser executado com aptidão. E era só olhar para a profusão de “passos de dança singulares” na pista que isso se tornava evidente. Dos descamisados de óculos escuros às mocinhas e coroas pagando de mocinha, ver a profusão de “expressões corporais” era uma espetáculo à parte, o que tornava toda a experiência mais libertadora, como espera-se desse tipo de festivais.

Exatamente a 1h,  Steve Aoki chegou para abrir o seu tão aguardado set. Óbvio, o DJ norte-americano eleito como um dos dez melhores do mundo pela revista DJmag foi recebido com aplausos e gritos estridentes. E se essa empolgação já não tivesse dominado o público por si sós, seu chamado de “Hello, Rio! Make some fucking noooooooise!!!” (“Olá, Rio! Façam barulho nessa m***!!!”) conseguiu conquistar a pequena parcela que não estava se movendo. Com um set que durou cerca de duas horas e teve dobradinha Kanye West (dois remixes praticamente seguidos de “Bound 2” e “Power”), Aoki chegou a dar pinta de Maria Antonieta,  jogando bolo na cara do povo, que recebeu aquilo tudo com muito mais empolgação do que a corte francesa. E se engana quem acha que a noite acabou ali. Enquanto a Marina da Glória ainda se preparava para receber Felguk e Mario Fischetti, Steve se preparava para o terceiro round do dia (ou melhor, da noite) . Sim, porque ser um dos maiores DJ’s do mundo tem dessas coisas: em menos de 24 horas você pode tocar em São Paulo, Rio e Curitiba e faturar alguns milhares a mais na conta bancária.

No geral, o Neon Future Festival pode ser considerado como um verdadeiro sucesso e uma prova de que o Brasil não está somente preparado, mas também ávido pela chegada de outros eventos do gênero, vide o buzz incontrolável e incansável que está girando em torno da Tomorrowland. E, se os maiores problemas da noite foram a quantidade de lixo acumulada pelo local e a fila quilométrica para visitar o surreal ‘bar suspenso’ (uma espera inevitável em qualquer festival, bastando lembrar o tempo desperdiçado para a tirolesa e a roda gigante do Rock In Rio), então que venham mais eventos como esse. Afinal, nem só de samba vive o Rio de Janeiro.

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Fotos: Zeca Santos