*Por Karina Kuperman
Cor, performance, arte, universo glam, plumas, paetês, teatro, expressões mil e muita música. Se tivéssemos que definir Natascha Falcão, arriscaríamos mil e um adjetivos. A pernambucana cheia de personalidade lança, nessa sexta-feira, dia 17, seu primeiro EP, o Kitsch Completo, em todas as plataformas digitais. E ela investe forte em um estilo que mistura carimbó, brega, bolero e reggaeton. “O meu EP é bem diferente e essa mistura rítmica é quase proposital. A primeira música, ‘Menino bonito do metrô’, é um carimbó com batida reggaeton, um pouco de eletrônico e um mix de cultura amazônica”, define ela, que, antes de investir em carreira solo, era integrante da banda Pirarucu Psicodélico, com uma forte veia amazônica. “Isso me influenciou demais. Foi muito forte a potência que eu vi nesse trabalho da cultura amazônica. Tem a minha raiz como pernambucana, o que eu ouvi e vivenciei. Pego minhas vivências para dar minha identidade ao trabalho. O popular é forte, claro. Mas eu não consigo não fazer as misturas, sou múltipla, isso é o que me inspira”, afirma.
As outras três músicas do EP são tão únicas quanto a primeira. “’Meu tesão é meu ser’ começou em uma vibe meio salsa e acabou em um arranjo eletrônico com uma pegada de anos 80. ‘Reginaldo’ é uma música de um amigo que dizia que era a minha cara. E é. Trouxe a minha interpretação pessoal, incluí uma poesia minha e fiz um diálogo entre meu eu forte e meu eu frágil”, conta. A última, única não inédita, é “Milkshake”. “É uma regravação de um brega que é hino em Recife. Lembro de ouvir nos anos 2000, matando aula na escola. Sempre usei essa música nos meus trabalhos e todo mundo pedia para eu gravar. Falei com a Nega do Babado, que é dona dos direitos, e pedi a autorização”, diz, referindo-se à letra de Valdeci José que fez sucesso na voz de Nega do Babado. “Eu amo a minha versão de ‘Milkshake’. Esse EP fala muito de liberdade. Tem libertinagem, poder feminino, amor. O brega é realidade, sua melodia permite não ter rodeio para falar o que se quer”, analisa.
“Entre sonhá-lo e realizá-lo foram uns dois anos. Quando eu saí da Pirarucu Psicodélico, comecei a fazer meus shows solo e desejar ter realmente um EP. Escolhi as músicas a dedo para que tivessem a ver com essa faceta do brega bem forte. Fiquei com medo, porque as ideias envelhecem, de repente poderia não querer mais falar sobre isso. Mas essa toma fôlego a cada momento desse processo”, garante. “Eu aprendi muito sobre paciência, perseverança, conceito, cantar, criar, me relacionar profissionalmente”, diz ela, que gravou Kitsch Completo no estúdio Chez George, em Santa Teresa, no Rio.
Natascha não tem medo de dizer: se identifica com o lugar dos exageros. E não só na arte. “Eu sou muito exagerada, amostrada, dramática… como artista da música encontrei um lugar para ser quem sou, mesmo. Colocar minha identidade, facetas, medos, contradições e performance juntos em uma mistura de ritmos, referências e identidade visual”, explica ela, que, não por acaso, tem Lady Gaga como referência máxima. “Amo as cantoras teatrais, a Gaga com seus figurinos. Tem a Rosalia, uma espanhola que traz o flamenco e transforma em pop e é bem performática dentro desse universo. Carmen Miranda também é uma grande referência. Maria Bethânia, que é muito teatral, ela veio do teatro. E tem a Elke Maravilha, com seus figurinos que me identifico demais”, lista.
Além disso, Natascha admira demais Rita Lee, por ter sido uma das primeiras a falar sobre o prazer feminino. “Nosso corpo é político. Não consigo diferenciar fazer arte de militar, apesar de não fazer arte panfletária. Acho que meu discurso está na minha performance, na minha atuação, na liberdade do que eu canto. Não preciso falar ‘sou feminista’, isso está claro. Sou uma mulher, resistindo, fazendo arte, sendo mãe, não dá para separar. E isso em si é um ato político. Eu coloco minha cara à tapa, meu corpo na rua”.
De fato, ela não tem medo de se posicionar. “Nós, artistas, temos feito uma militância permanente, que é continuar produzindo e realizando. Temos visto muitos novos artistas surgindo. Quando cheguei ao Rio de Janeiro, o Otto (cantor e compositor), meu primo, ainda morava aqui. Nos encontrávamos muito, ele queria produzir meu disco porque quase não tinha cantora nova surgindo. Agora tem muitas, é um movimento importante, e a ideia é uma fortalecendo a outra”, diz. “Na verdade, acho que a cena ainda é muito desunida, um não fomenta tanto a arte do outro como deveria ser. Sinto falta disso. A classe já foi mais fortalecida em movimentos interiores, como o Tropicalismo, a Bossa Nova…”, cita. “Esses movimentos se deram pela união dos artistas das cenas. Mas é questão de tempo, estamos tomando essa consciência. A crise é real, mas só os movimentos individuais já são militância e força para ter como exemplo”, elogia.
A arte no Brasil, de fato, ainda vem sendo difícil. “Principalmente a arte pública, embora eu tenha feito muitos shows na rua. Afinal, o ‘Pirarucu Psicodélico’ nasceu na rua e foi muito forte. Aprendi que o artista tem que ir onde o povo está e isso foi fundamental. Talvez eu não tivesse acesso a minha potência se não tivesse estado na rua. Gosto da liberdade”, assegura ela, que, para 2019, tem muitos planos. “Vou gravar um clipe em Berlim, a princípio de ‘Reginaldo’, mas tudo pode mudar. Além disso, pretendo fazer um vídeo, como fiz do ‘Adeus’ e ‘A vida é um carnaval’, cantando ao vivo, quero mais uma live pra fechar a série”. Sonhadora, ela admite: “não consigo separar meus sonhos de realidade”. A gente acha lindo.
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