Constatação: “A fama nada me traz”, dispara Cícero Rosa Lins, em postura anti-poser! Confira a entrevista!


Em bate-papo exclusivo com a gente, o cantor confessa ter se assustado com o sucesso e deixa claro que não faz música para agradar os críticos. Confira!

Dois anos após seu álbum de estreia “Canções de Apartamento”, Cícero Rosa Lins continua em pleno vapor. Em seu mais recente trabalho, o CD “Sábado”, ele permanece com seu estilo intimista, vasculhando fundo as suas percepções sobre a vida. Mas, neste disco, lançado ano passado e liberado para download na internet, há espaço para novos questionamentos. Se o primeiro disco foi campeão de críticas positivas, neste outro, interpretações dúbias e até um pouco maldosas abrem novas possibilidades para o debate. No seu show de lançamento, há cerca de duas semanas no Circo Voador, ficou claro que, depois de o público tanto cantar “É sexta-feira, amor” (verso da música “Ponto Cego”, do Canções), “Sábado” tem tudo para cativar os fãs por mais tempo do que apenas o dia de semana que dá nome ao trabalho. Afinal, o carioca de 26 anos vem se adaptando às delícias da fama, mesmo desdenhando dela, e isto pode ser sentido pelo seu público. Diante desse novo projeto, aproveitamos para bater um papo cabeça  com o artista sobre seu rumo e a nova fase de sua vida. Confira abaixo!

969222_498252903592367_1595438566_nFoto: Divulgação

HT: Você dedicou alguns anos de sua vida trabalhando no “Canções de Apartamento” com afinco, mas levou apenas pouco mais de um ano para criar “Sábado”. Como é lidar com prazos curtos e inspiração? O resultado ficou como você queria?

CR: Dediquei dois anos ao “Canções”. Antes dele, lancei o segundo álbum da minha antiga banda (Alice), que seguia um pouco a linha do “Sábado” para, depois, criar um contraponto com o “Canções de Apartamento”. Faço esse movimento de expansão e retração há muito tempo. Na verdade, não me comprometi com nenhum deadline e também não vejo a inspiração como a minha forma de compor, sabe? já pensei muito nisso. Me sinto curioso, gosto de ir onde ainda não fui e essa sempre foi minha essência. É uma forma de me manter animado, bem estimulado. Sou meio “garoto-enxaqueca” (lembrando o icônico personagem  da MTV): as coisas perdem a graça muito rápido para mim, daí novas coisas me despertarem o interesse. Novas coisas, novas pessoas, novos lugares, diga-se de passagem. Esse disco ficou exatamente o que eu queria. Eu vinha de um exercício de carpintaria de canções, queria sair um pouco daquela órbita e preferi expressar meu desconforto e desânimo com a cidade, com a época, com esses valores de agora. Meu desconforto e desânimo transparecem nesse CD. Missão cumprida.

HT: No auge do sucesso do “Canções”, você parou de fazer shows e deixou os fãs do Brasil inteiro praticamente “órfãos”. A velocidade da fama e as obrigações vindas com ela o assustam?

CR: Muito. Não quero ser famoso. E isso já começa por eu não agir como tal. Não gosto nada daquilo que a fama traz e não deixei os fãs órfãos. O estado das coisas é que está deixando a gente órfão. Sou apenas um compositor, quero ocupar apenas esse espaço e questiono até a ideia de fã, porque esta palavra vem de fanático, como se não houvesse senso crítico ou humanidade na relação. E há.

HT: Depois do sucesso do disco de estreia, você tremeu na base, pensando que as pessoas não pudessem “entender” “Sábado“, já que esse trabalho veio mais áspero, menos poético e com frases de efeito?

CR: Não temi, porque a única diferença do “Canções” para o “Sábado” é a linguagem. Um é mais funcional, o outro é minimalista, o que não quer dizer que um seja mais claro que o outro. Fiquei chateado com a maldade da mídia alternativa, que atrapalha o entendimento. Eles estão ocupando o lugar que os jornais e revistas ocuparam por décadas. Entendo isso, a porta está aberta, eles querem entrar, mas acabam repetindo os mesmos erros. “As pessoas” não existem, o que existe são indivíduos, cada um com seu senso crítico, sua capacidade de analisar os dados de acordo com sua própria consciência. Os formadores de opinião vão acabar, todas as opiniões serão possíveis e todas as verdades vão bater cabeça. E eu sei que cada disco acaba encontrando seu público naturalmente, furando qualquer bloqueio de compreensão. Eu acredito naquilo que estou construindo e no que estou desconstruindo. É a minha vida, pô! Não vou deixar ela ser influenciada por valores que não são meus.

HT: Esse disco representa uma nova fase em sua vida? Qual foi a chancela que você buscou imprimir nesse CD?

CR: Com certeza. Cada disco vai representar sempre uma nova fase enquanto eu estiver em transição. Hoje sou esse cara, ontem era aquele, amanhã serei outro. Não busco chancela, já tive muito mais do que jamais desejei. Gostaria que fosse até um pouco menos de atenção, na verdade. Só não vou me deixar levar por nenhuma maré, por mais sedutora que ela se mostre.

HT: No show de lançamento do álbum, no Circo Voador, você se mostrou bem mais solto e seguro no palco. Já que você é anti-celebrity, como é esse processo de aceitar que as pessoas estão ali mesmo para ver o Cícero-artista, conhecido no país inteiro?

CR: Foi e ainda é difícil. Mas eu entrei no palco e senti uma carga forte no meu coração. Quando  lancei “Sábado” quase fui entregue para um pelotão de fuzilamento. Eu nunca vi na história da internet brasileira um artista ser tão abertamente atacado por ter feito um disco seguindo seus próprios instintos. Mas, felizmente, as pessoas pensam e isso me deixou muito feliz, aliviado, emocionado. Seja no Recife, em Belo Horizonte, São Paulo ou Portugal, tem sido sempre a mesma coisa. Daqui a 10 discos, esses dois serão apenas meus dois primeiros e eu sei que vou me orgulhar de todos. Sigo a vida buscando o meu lugar.