*Por Simone Gondim
Liberdade é a palavra de ordem na vida de Alice Caymmi, que lança no primeiro semestre o disco “Elétrika”. Mulher multifacetada, a artista conta que é incapaz de manter uma silhueta por muito tempo e prefere evitar definições de gênero. “Eu me entedio rápido com a minha própria cara. Tenho momentos masculinos que gosto de respeitar e viver”, afirma ela. Basta uma olhada no Instagram de Alice para encontrar os mais variados looks, cortes de cabelo e tipos de make. “Não gosto de rótulos e não consigo me rotular”, acrescenta.
Dona de si e de um estilo próprio, Alice lembra que sofria bullying na escola por ter gostos diferentes dos colegas e já era empoderada antes mesmo de o termo cair na boca do povo. “Era completamente deslocada e descobri que isso era empoderamento. Hoje, sou menos deslocada, mas na infância não entendia nada”, conta.
A artista conhece bem as dores e as delícias de ter personalidade. “Sou respeitada porque me imponho, mas sei que adoram desqualificar as atitudes das mulheres. Chamam de maluca, difícil, fazem gaslighting e tentam desvalorizar o que foi construído. Não me preocupo mais. Sou assim, não vou mudar”, diz ela.
A cantora não atribui ao divã o fato de ser uma pessoa livre e bem resolvida. Segundo ela, a psicanálise é muito útil, mas não serve para tudo. “Faço terapia desde sempre. Os modelos freudianos não são tão libertadores. A psicanálise, embora sirva para tratar de traumas, passado e questões familiares, ainda luta para entender questões de gênero”, explica Alice.
Por falar em questões familiares, ela garante que o episódio envolvendo as críticas ao seu trabalho, feitas por sua tia Nana Caymmi em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, é coisa do passado. “Deixa isso para lá”, pede. Já a relação com o pai, Danilo, sempre esteve muito bem, obrigada. “Quando comecei na carreira, meu pai me preparou para lidar com o peso do sobrenome. Hoje, ele me diz que virou o pai da Alice”, diverte-se ela. “Sempre houve muita troca entre nós. São épocas diferentes para cabeças parecidas. Nosso raciocínio musical é parecido”, orgulha-se Alice.
Quando o assunto é a carreira, Alice é do tipo que mergulha de cabeça nos projetos e se envolve desde o primeiro dia. “Todas as composições têm um dedo meu. Também dou palpite em fotos, make e figurino. Só não faço masterização”, revela. Com o álbum “Elétrika”, seu mais novo trabalho, a artista decidiu ir aos poucos. O single “A noite inteira“, com participação do grupo baiano Àttooxxá, já está liberado para quem quiser ouvir. “O show vai sair antes do disco. Estou achando legal lançar devagar. É o maior barato trabalhar uma música só, ir testando”, garante Alice.
Ela canta, dança, abusa, sensualiza e se joga no clipe do seu mais novo single, “A noite inteira“. Com coreografia, estética pop e figurino inspirado na icônica atriz pornô italiana, Cicciolina, o filme dirigido por Icaro Luan & Planzo e rodado em Salvador. A música foi produzida pela turma da Brabo Music – Gorky, Maffalda e Zebu, e composta por Rafa Dias e Chibatinha com colaboração da própria Alice.
A cantora bebe direto da fonte do pop ao falar de suas influências. “Gosto de música pop. Consumo mais cantoras que marcam esse universo, como Ariana Grande e Rihanna, e grupos como Backstreet Boys“, confessa. Outra influência inevitável é Lady Gaga. “Também tenho cara de italiana e faço essa linha mais teatral”, brinca. “No caso da Lady Gaga, é muito mais uma coincidência de gostos. Entre as minhas referências artísticas estão Marina Abramovic e Alexander McQueen“, esclarece Alice.
Em relação ao carnaval, Alice acredita na vocação popular da festa, apesar da explosão dos megablocos. “O carnaval de rua está sendo cada vez mais valorizado, ao mesmo tempo em que é mais explorado. Mas mesmo as grandes corporações não abafam o movimento das ruas, os ambulantes e os blocos independentes, que nunca deixarão de existir”, observa ela.
A cantora Alice Caymmi apresenta seu novo projeto Elétrika, primeiro desta nova fase pop, na Fundição Progresso, na sexta-feira (dia 6), na noite que terá ainda MC Tha, integrando a Semana das Mulheres na Fundição. No repertório predominantemente dançante, Alice já experimenta algumas faixas do seu novo álbum, produzido por Gorky, Zebu e Maffalda (Brabos Music) que será lançado ao longo de 2020. Já Tha, após a temporada de espera marcada por cinco singles e o EP acústico “Versões”, ela apresenta seu primeiro álbum, Rito de Passá, no palco da Fundição.
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