“Não estou fazendo vestibular para santa, mas muita coisa me chateia”, diz Alcione sobre o que vê no Instagram

*Por Brunna Condini

Uma apresentação poderosa vai marcar a reabertura do Vivo Rio, no Aterro do Flamengo. Neste sábado (15), Alcione sobe ao palco da casa de shows que estava fechada desde março por conta da pandemia do coronavírus, mas ainda sem público. Ela inaugura o projeto Vivo Rio Em Casa, com o lançamento de Tijolo por Tijolo (referência ao seu 42º álbum), a primeira turnê lançada e transmitida de forma virtual, com o objetivo de gerar empregos e fortalecer a cultura neste momento. “Vai ser uma grande festa, e mesmo sendo em formato visual, vai ter todos os ingredientes de um espetáculo musical completo, com banda, em um palco tradicional do Rio e recheado dos hits que o povo adora como “Meu ébano”, “Estranha loucura”, “Sufoco”, “O surdo”, “Além da cama”, “Não deixe o samba morrer”, “Você me vira a cabeça”, entre tantos outros sempre pedidos”, anuncia a Marrom.

“Vai ser uma grande festa, e mesmo sendo em formato visual, vai ter todos os ingredientes de um espetáculo musical completo” (Foto: Marcos Hermes)

Entre ensaios e preparativos para a apresentação que tem ingressos a preços populares, e percentual da bilheteria destinado à doações para profissionais do entretenimento, a cantora conversou com o site. Alcione fala dos 48 anos de carreira e do sucesso, aqui e internacional – ela já realizou turnê por países como Suíça, Alemanha, França, Itália, Espanha e Portugal – e comenta também o momento para a cultura neste cenário de pandemia.

O que passa na sua cabeça quando pensa na sua trajetória? “São muitas as recordações desde os tempos em que comecei. Locais, pessoas e países, alguns que nunca sequer sonhava em visitar. Foram muitas as histórias de amor e cumplicidade com esse público que me segue até hoje. A música é feita de emoções, tem o poder de aproximar artistas e fãs. A gente participa de suas vidas, canta canções que viram tema para seus romances”, diz a cantora de 72 anos. “O público vai fazer muita falta lá ao vivo no show de sábado, mas não há como ser diferente hoje. E vou subir ao palco sabendo que vai ter muita gente me vendo através das telas de seus computadores e celulares”.

Na apresentação, Alcione canta as inéditas que gravou após sete anos. Entre elas, a artista destaca “Fascínio” (Toninho Geraes/Paulinho Rezende), “Alto Conceito” (Fred Camacho/Leandro Fab), e “Tijolo por Tijolo” (Serginho Meriti/Claudemir), que estão no roteiro e foram as primeiras canções a ir para as plataformas digitais. Além de “Realeza” (Joluiz Cavalcante/Alvinho Santos) e “Em barco que navega malandro, não navega mané” (Serginho Meriti/Claudemir). “Mas existem sempre outras novidades para surpreender o público. Inéditas ou conhecidas. No álbum, tem homenagem a Pelé  feita por Altay Veloso e Paulo César Feital, em “O  homem dos Três Corações”; um samba de roda que fala da terra de Dona Canô “Santo Amaro é uma flor” (Edil Pacheco/Walmir Lima), uma ode  aos Lençóis Maranhenses composta por  Zé Américo e Salgado Maranhão chamada “Lençóis”; e um samba de bambas intitulado “Lado a Lado” de Arlindo Cruz,  Marcelinho Moreira e Rogê”, revela sobre o repertório.

“O público vai fazer muita falta lá ao vivo no show de sábado, mas não há como ser diferente hoje” (Foto: Marcos Hermes)

A rainha do samba já fez algumas lives, e nelas, inclusive, fez questão de criticar o governo de Jair Bolsonaro, sobre o “mau exemplo” que o presidente vem dando desmerecendo a ciência. Além disso, Alcione faz questão de exaltar a importância da cultura para o país: “Infelizmente, ela não tem sido prestigiada por alguns governantes e é preciso amparar o pessoal que trabalha, principalmente nos bastidores, porque fomos o primeiro setor a parar e seremos os últimos a retomar às atividades. E o mais interessante disso tudo é que são os artistas que estão levando cultura, distração e entretenimento às famílias. Evitando que muita gente caia em depressão. E há quem diga que a arte não serve para nada…ela salva!”.

Vivendo e aprendendo

Nascida em São Luís do Maranhão, ela é a quarta de nove filhos do casal João Carlos e Felipa, formou-se professora primária em sua cidade, mas em 1967 veio para o Rio de Janeiro e se encontrou na carreira artística. Famosa por seu talento, sucessos e frases marcantes, como “Alcione não é e nunca será uma qualquer”, a cantora procura se descrever neste caminho até aqui: “Sou uma pessoa que tem a certeza de conservar a mesma índole, os mesmos princípios. Que ralou muito pelo caminho. Deu murro em ponta de faca, mas aprendeu um pouco com a vida e que, certamente, ainda tem muito a aprender”.

“Sou uma pessoa que tem a certeza de conservar a mesma índole, os mesmos princípios. Que ralou muito pelo caminho” (Foto: Marcos Hermes)

Com uma carreira tão extensa e intensa de trabalho, com apresentações pelo Brasil todo e fora do país (mais de 30 países), ainda existe algo que você não fez e sonhe em fazer? “Imagina! Claro que sonho com muitas coisas…muitas mesmo. Mas agora, com a pandemia, temos que nos enquadrar aos novos tempos e apresentar nossos projetos de outras maneiras”.

Com mais de 30 álbuns, sendo três compactos, nove DVDs, dezenove CDs e vinte e um LPs, ela garante que já se habituou a esse “normal” atual das lives. “No começo nem queria fazer nenhuma, mas o público pediu. Acabei até gostando”, confessa.

Você é bem atuante no Instagram, gosta dessa relação direta com os fãs, seguidores? Tem alguma parte que não gosta? “Claro que não estou fazendo vestibular para santa… muita coisa me chateia bastante. Mas os aspectos positivos e o contato com os fãs superam qualquer aborrecimento. E gosto de manter contato com eles dessa forma. Afinal, enquanto não pudermos nos encontrar presencialmente é a maneira mais de estar perto do meu público, falar das novidades”.

“Claro que não estou fazendo vestibular pra santa…muita coisa me chateia bastante. Mas os aspectos positivos e o contato com os fãs superam qualquer aborrecimento” (Foto: Marcos Hermes)

Otimismo e fé

Preocupada com os crescentes números de vítimas do vírus, Alcione conta que vem fazendo quarentena como manda o figurino. “Estou quietinha no meu canto. Só apareço para fazer as lives, só saio para o que for absolutamente imprescindível. Não vou ficar dando mole para a Covid, né?”. E lamenta: “O que vemos nos noticiários hoje é de cortar o coração…os números dessa guerra. Mas tenho muita fé que isso vai passar. Mantenho-me otimista a esse respeito. As vacinas estão em fase final, os médicos têm feito muitas descobertas importantes. Ninguém sabia nada desse vírus antes”.

Fortalecendo sua fé – “Sou espírita, Kardecista, confio nos orixás e nos santos, como boa brasileira. E tenho fé nas pessoas, o ser humano é bem maior do que as mazelas do mundo” – a artista também revela como tem lidado com os dias mais difíceis: “Acho que a ansiedade é um sentimento bem natural nesses tempos, mas estou me virando bem. Procuro espantar a tristeza, os maus pensamentos, e sempre pensar em coisas boas e positivas. Quero viver os próximos anos com saúde e paz para continuar alegrando meu público. E, claro, curtir minha família. E quem canta seus males espanta, não é?”.

É, Marrom. Sigamos firmes.