“Não entendo como existem artistas que não se comunicam com o público de forma verdadeira”, diz Romero Ferro


Antes de lançar o clipe da música Fake, o cantor pernambucano conversou com o site Heloisa Tolipan e contou detalhes sobre sua mais nova aposta, a websérie Eita Ferro, que traz nomes como Bielo Pereira, falando sobre padrões de beleza, Johnny Hooker com a cultura do cancelamento, música e imagem com a Tiê, entre outros temas e nomes da atualidade. Vem conosco!

“Não consigo entender como existem artistas que não se comunicam com o seu público de forma verdadeira”, diz Ferro

*Por Rafael Moura

“Com a quarentena todo o meu planejamento profissional para esse ano foi cancelado. A gente vinha em uma crescente incrível, o disco ganhando força. Foram cerca de 30 shows, mais uma turnê internacional, que aconteceriam até julho. Eu fiquei bem mal, e comecei a olhar todo o meu contexto em volta”. Foi com essa frase que o cantor Romero Ferro começou o papo com o site Heloisa Tolipan, explicando como esse isolamento social por conta da Covid-19 afetou sua jovem carreira, com apenas seis anos, mas que já vislumbrava desde criança em ser artista, uma de suas brincadeiras preferidas.

“Comecei a pensar sobre o que fazer durante esse momento, além das coisas que já são rotineiras para mim como compor, cantar, produzir música… Tive uma ideia do que poderiam ser esses programas, mas acabei mudando no meio do processo. Acho que estou mergulhado em um amadurecimento de vida bem profundo nesse isolamento, entendendo os meus erros, meus privilégios, questionando. E decidi explorar assuntos que não eram a minha especialidade, para aprender mesmo. Aí veio a voz na cabeça: ‘Por que não dividir esses processos com mais pessoas?’. Daí surgiu esse formato em websérie do que hoje é o Eita Ferro!”

O cantor, nascido em Garanhus, no Agreste Pernambucano, é bastante ativo nas plataformas digitais. Elas que tem sido o nosso grande meio de entretenimento e comunicação. O que tem nos dado um sentimento de ‘juntos, mas distantes’. “A gente acabou precisando ressignificar a nossa vida nessa pandemia, incluindo as redes sociais. Sempre fui muito ativo, acho que agora estou mais. Para mim é um canal de diálogo muito importante. Não consigo entender como existem artistas que não se comunicam com o seu público de forma verdadeira, sem ser blasé, sem achar que é superior… a internet nos dá essa possibilidade, e eu tenho amado estar mais perto. Mas como tudo na vida, tem seus lados negativos também. O excesso não faz bem a ninguém”, conta Ferro que irá explorar essa narrativa em seu próximo no clipe, Fake, que será lançado em breve. E completa: “Na verdade esse projeto do Eita Ferro se conecta ao clipe, que vem no final dessa primeira temporada. Todos os assuntos abordados estão no clipe. Está tudo conectado, e eu saí colocando uns easter também. No final de tudo espero que as pessoas percebam”.

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Como um nordestino, orgulhoso que valoriza suas raízes, perguntamos a Romero como essa interjeição, que dá nome a esse espaço de troca de ideias e experiências se cruza com o Brasil atual. “Esse nome foi escolhido durante uma enquete que abri nas redes sociais. A primeira vez que li, já achei ele potente por vários motivos: assim que a pandemia foi oficializada aqui no país, ‘eita’ foi a primeira expressão que me veio na cabeça. Essa interjeição traz a força do Nordeste, da persistência, da luta, da garra; traz a ideia de surpresa, e como o projeto em questão me apresenta de um forma diferente achei que super cabia. Além de ser sonoro e esteticamente bem divertido. Fazendo um paralelo com o Brasil pandêmico faz também muito sentido. Estamos exercendo a nossa paciência, amadurecimento, e garra diariamente, e sendo surpreendidos com todo esse contexto político-social”, frisa.

Romero Ferro acaba de lançar o terceiro episódio da websérie ‘Eita Ferro’ com temas importantes da atualidade

Três episódios da série já foram para o ar. O primeiro com o ativista e comunicados Bielo Pereira, que falou sobre essa construção cruel dos ‘Padrões de Beleza’, que cria sentimento de insatisfação e não aceitação, levando à falta de amor próprio e a uma vida infeliz. Durante a conversa, eles traçaram prontos chaves para desconstruir essa ditadura do que é ‘bonito’ e ‘perfeito’, criar em cada um de nós a possibilidade de encontrar outros caminhos e referências, combatendo conceitos dolorosamente preestabelecidos.

Todo corpo tem sua identidade, independente de tamanho, cor ou forma. E a beleza deveria morar em nossas diferenças e no respeito por elas. Com Johnny Hooker, a ‘Cultura do Cancelamento’ foi o mote, que chegou em 2020 como uma força da natureza de maneira desgovernado. Virou uma prática constante cancelar alguém nas redes sociais. Há os que cancelam só pra chamar atenção e há os que distribuem ódio diariamente apenas pelo prazer de destilar seus traumas. Há os que se aglutinam em busca de justiça social, e há também os que precisam manifestar suas insatisfações e assim deixar sua marca virtual no mundo.

Já com Tiê, o assunto citou em torno do tema ‘Música e imagem’, a partir de uma reflexão do psicólogo Nathaniel Branden que fala que: “autoimagem é quem ou o que nós pensamos ser. Nossos traços físicos e psicológicos, nossas qualidades e imperfeições, nossas possibilidades e limitações, nossas forças e fraquezas…”. Saber quem somos e o que queremos, seja na vida ou no mercado, da música, nesse caso, é de fundamental importância para cada passo que vamos dar. Amar verdadeiramente cada traço que nos torna únicos, tomar posse e abraçar nossas escolhas e cicatrizes, é essencial para nos sentirmos cada vez mais completos. “Os convidados são escolhidos a partir do tema, e da minha relação com eles. São todos pessoas que admiro, e acompanho. Então os temas estão muito conectados a verdade do que eu tenho vivido na quarentena e na vida”, explica.

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Muitos sentimentos positivos e negativos têm sido manifestados durante essa quarentena, principalmente ideias de mudanças e atitudes solidárias. Romero nos conta que entrou de um jeito e vai sair de outro. “Não sou mais o mesmo, nem quero ser. Essa mudança tem me feito bem”, conta. Para encerrar essa conversa perguntamos para ele: para quem ou o que você diria Eita Ferro? “Hahaha! Pensando positivamente, todes vacinades contra o Covid-19″.

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