Nanda Loren, ex-The Voice, vence a depressão, escreve um livro e volta com tudo para a música


Inspirada em experiências próprias, a cantora Nanda Loren compôs a canção Miragem, já disponível nas plataformas digitais. “Para que a gente viva relacionamentos saudáveis é preciso que, em primeiro lugar, a gente se ame e não coloque uma venda nos olhos. Ninguém deve aceitar viver uma relação amando pelos dois, precisa se valorizar”, reflete ela, que em 2021, vai lançar seu primeiro EP com a participação de Xande de Pilares. A cantora, que integrou o The Voice Brasil, em 2016, é também autora de um livro sobre depressão. “Esta doença torna tudo mais difícil. Mesmo assim, me considero muito forte, porque apesar dela eu consegui realizar vários sonhos”, avalia

Nanda Loren

* Por Carlos Lima Costa

Estar em uma relação e ao mesmo tempo se sentir sozinha, ser uma pessoa que ama pelas duas. Baseada em experiências que viveu ou até mesmo observou, a cantora Nanda Loren, que participou do The Voice Brasil, em 2016, compôs de forma totalmente orgânica a canção Miragem. Lançada recentemente nas plataformas digitais, serve de alerta para que todos tenham amor próprio. “Me inspirei em relações nas quais me senti sozinha. Era mais imatura, dava tudo de mim e a pessoa não estava nem aí. Acho importante falar disso. A gente precisa se valorizar, se amar, ser legal com a gente mesma. Acho que muita gente vai se identificar com essa história”, pontua. E acrescenta: “Acho que a gente se sente sozinha, porque criamos expectativas grandes. Como falo na música, quem está de fora enxerga que você está amando por dois naquela relação.”

Mas lembra que já passou por uma relação tóxica. “Era abusiva no sentido de que eu não podia beber, mas ele podia. Ele me controlava, chegou a colocar uma vigilância no meu laptop para saber das minhas conversas, o que eu estava fazendo. E via aquilo de forma supertranquila. Com a minha imaturidade eu aceitava. Mas para que a gente viva relacionamentos saudáveis é preciso que, em primeiro lugar, a gente se ame e não coloque uma venda nos olhos, aceitando este tipo de tratamento”, aponta.

Nanda fala de sua canção Miragem, inspirada em experiências pessoais (Foto: Eduardo Orelha)

Nanda fala de sua canção Miragem, inspirada em experiências pessoais (Foto: Eduardo Orelha)

Nos próximos dias, a cantora de 32 anos vai lançar o clipe de Miragem, gravado na Califórnia, onde ela morava há três anos. Recentemente, Nanda se mudou para a Flórida. “Usei metáforas. Transmite bem a imagem que eu queria no sentido de passar uma solidão no contexto e a sensação do deserto, porque você está naquela relação como se fosse um deserto e vê uma miragem, uma pessoa que na verdade não existe. Eu basicamente o criei todo. Fiz a produção do clipe, a minha maquiagem, cabelo, escolhi o cenário e dirigi praticamente, mas o meu marido, Felipe Zero, fez a edição, e me ajudou na direção também. Além de compositor, ele tem dotes incríveis na direção, edição, luz, enfim, é um pacote completo”, explica.

Nas experiências nas quais se inspirou para compor Miragem, Nanda tinha por volta de seus 18, 20 anos de idade. Faz tempo que vive história bem diferente. Ela e Felipe completam dez anos de união, em fevereiro de 2021. “Temos uma relação muito linda. A gente se respeita e se apoia muito. É bem legal ter uma pessoa que luta e sonha junto com você. Sou muito grata de ter encontrado um marido desse. Isso é raro hoje em dia”, frisa ela, que está no Brasil para divulgar seu trabalho.

Para 2021, Nanda projeta o lançamento de seu primeiro EP. “Uma das músicas tem a participação do Xande de Pilares. As pessoas ficam meio que  chocadas, porque o Xande é do samba, um estilo bem diferente do que eu faço, mas conseguimos mesclar com o pop”, conta. E já tem planos para depois desse projeto. “Vou pensar em ter um nenenzinho”, revela.

O ano de 2020, tem sido um recomeço para Nanda, que passou por um conturbado período de três anos. “Fiquei muito deprimida, não conseguia nem escutar música, porque não me trazia um sentimento bom. Hoje, estou focada no meu amor pela música e totalmente imersa em uma conexão mesma comigo. Então, tem sido incrível”, explica.

Nanda é autora de um livro sobre depressão (Foto: Eduardo Orelha)

Nanda é autora de um livro sobre depressão (Foto: Eduardo Orelha)

Além de cantora e compositora, ela é autora. Em 2018, lançou o livro Depois de Sobreviver – Depressão na Adolescência, onde relata sua experiência. “Demorei um tempo para entender que tinha depressão. Percebia que ficava triste, não queria fazer nada, me questionava, tinha auto estima baixa, me importava muito com o que pensavam sobre mim. Foi um processo, até ser diagnosticada. Acredito que essa fase da adolescência é complicada, não só pelos hormônios, mas porque a gente está se descobrindo, querendo fazer parte dos grupos, ser aceita. Existem cobranças de todos os lados e principalmente de nós mesmos”, reflete.

Naquela época, achava que quase ninguém se sentia assim. Mas quando começou a falar sobre o assunto no Twitter, várias pessoas comentaram situações semelhantes. “Então, resolvi escrever a minha história, para que essas pessoas conseguissem se enxergar nela e encontrar caminhos para se curar. Até hoje as pessoas mandam mensagens falando que meu livro as ajudou. O e-book podia ser baixado gratuitamente. Ele já teve mais de 15 mil downloads e chegou a número 1 no site da Amazon, na categoria Família e Relacionamentos”, conta.

Nanda ressalta que a depressão se manifestou pela primeira vez quando ela tinha 14 anos, mas somente aos 17 foi diagnosticada como tal. Na época do The Voice, voltou mais uma vez. “Foi uma experiência enriquecedora, conheci gente incrível, vi pessoas que eu admirava me darem conselhos, mas foi também um período de muita cobrança. A gente se coloca muita pressão por estar em rede nacional. Você quer ser perfeita (risos), se é que isso é possível. Então, o fato de não ter conseguido ir mais longe, não ter cantado tão bem quanto gostaria, colocou uma pressão muito grande em mim. Tive crise de ansiedade, inclusive, no palco, só que ninguém percebeu (risos)”, lembra.

E continua: “A depressão torna tudo mais difícil. Mesmo assim, me considero muito forte, porque apesar dela, consegui realizar vários sonhos, Hoje em dia, consigo lidar com isso de uma forma mais tranquila. Para tanto, tive um apoio grande dos meus fãs, porque quando tentei parar de cantar, eles continuaram me dando força querendo muito que eu continuasse”, recorda.

A cantora planeja lançar seu primeiro EP, em 2021 (Foto: Divulgação)

A cantora planeja lançar seu primeiro EP, em 2021 (Foto: Divulgação)

E prossegue: “É uma batalha diária. Já tem uns três anos, que tomo remédio para controlar a minha ansiedade, a depressão, porque é uma doença que tem que ser tratada como qualquer outra. Pretendo um dia não precisar de remédio, porque psicologicamente estou mais preparada para lidar com as minhas emoções”, assegura.

Viver na Flórida não é uma novidade. Quando era mais nova, Nanda morou dez anos lá com os pais. “Uma época, comecei a trabalhar para ajudar em casa, aí fui babá, com uns 16 anos, vendedora de celular, garçonete, o que foi muito difícil, não levava jeito. Mas fazer outras atividades, é sempre bom, porque a gente vê a perspectiva de outras pessoas também. Hoje em dia quando vou em um restaurante, valorizo muito mais o trabalho do garçom. Eu acho que a gente tem que olhar para o outro sempre com empatia”, diz.

Nanda também trabalha como publicitária (Foto: Eduardo Orelha)

Nanda também trabalha como publicitária (Foto: Eduardo Orelha)

E avalia a polarização que impera no Brasil e a onda que toma conta da internet. “A gente está sempre tentando ser o melhor que pode. Ninguém é perfeito. A gente erra tentando acertar. Já fui cancelada, algumas vezes (risos). Sou muito transparente com relação as minhas opiniões. Uma coisa que talvez esteja aprendendo hoje em dia, é ter mais cuidado, porque me abro muito. E existe muita gente com más intenções na internet. Eu nunca cancelei ninguém, não gosto desse negócio, acho que não faz sentido nenhum, porque todos nós erramos. A gente, às vezes, fala uma besteira ou fala algo sem pensar. E tem gente que se esconde através da internet para jogar ódio, julgar, falar um monte de coisa horrível. Cancelamento é algo que não deveria existir”, opina ela, que além do The Voice, na Globo, participou do quadro Jovens Talentos, no programa de Raul Gil, no SBT. “Foram experiências enriquecedores”, diz. Formada em Publicidade, em 2015, ela desenvolve alguns trabalhos para ter uma renda extra. “Apesar de gostar também desta área, pretendo um dia viver totalmente da música”, afirma.