*Por Brunna Condini
Há dois anos, ela vem conquistando um público cada vez maior com sua música, suingue, potência e ousadia. E fez shows no finde depois de uma longa quarentena. MC Rebecca esteve, no Santo Cristo, Zona Norte do Rio de Janeiro, no Festival Quadradinho, o primeiro com distanciamento social na cidade, por conta da pandemia da Covid-19. A funkeira se juntou à Karol Conka. “Estava com saudade, a gente se alimenta muito desse contato com o público. Fiquei seis meses sem fazer shows, dependo disso para movimentar a carreira. Estou voltando”, garante a MC.
Rebecca e Karol repetem a parceria iniciada no clipe recém lançado, ‘A Preta é Braba’, com roteiro realizado pela MC, música composta por Umberto Tavares, Jefferson Júnior, Guiggow e Karol Conka. No hit, Rebecca representa a voz do feminismo, da periferia e dos movimentos raciais. Ela celebra a beleza e liberdade de ser quem é, independente de padrões, machismo e preconceitos. “Estou feliz com essa parceria. A música desenha bem a minha personalidade, a da Karol e de várias mulheres que seguem a vida com tanta autonomia!”, diz. “Não sabia que tudo isso tomaria um rumo tão grande para a minha carreira. A música com a Karol ficou perfeita. O que mais admiro nela são suas letras, ela manda a real, não está nem aí para o que vão falar”.
Indignação e posicionamento
Desde a semana passada, quando o caso Mariana Ferrer voltou à pauta e ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter com a hashtag ‘estupro culposo’ – por conta de detalhes do julgamento em que a produtora de eventos acusa André de Camargo Aranha por estupro, durante uma festa em 2018 – as redes sociais ficaram inundadas de posts que expressavam revolta e indignação com o veredicto. E MC Rebecca também deu seu recado ao postar no Twitter: “Um país onde ser MC é crime e um estuprador é inocentado”.
No seu trabalho, você sempre fala da importância do feminismo e da mulher ser dona das suas escolhas e ser respeitada. O que este caso te faz pensar? “Que nada que eu vista, fale, dance, é um convite para o estupro. A mulher tem o direito de viver como ela quiser e fazer o que desejar”, diz Rebecca. “Esse caso da Mari é revoltante. Apesar de todas as provas, o cara foi inocentado. Nós mulheres cansamos de sermos caladas”.
Pensa em se envolver com a política levantando esta pauta? “Meu posicionamento já é um ato político, o que canto já é político. Minha música aborda muito esse tema. Fala sobre liberdade de expressão, liberdade da mulher. O que queremos, o que desejamos que façam com a gente. Não é não. Tem que respeitar apesar do que cantamos, falamos, fazemos ou vestimos”.
Rebecca também revela já ter sido assediada publicamente: “Já sofri assédio nos shows. Uma vez um cara veio dar tapa na minha bunda. Acham que têm permissão, porque estou com uma roupa mais sexy, pelo que canto. Mas não têm”.
Maré boa
Namorando o empresário Lucas Godinho, a cantora afirma que uma das coisas que mais preza é respeito e liberdade de ser, em qualquer tipo de relação. “Estou amando. É uma fase maravilhosa da minha vida. Ele apoia meu trabalho, dá super conselhos. Está do meu lado na alegria e na tristeza”, comenta.
E casamento, pode pintar? “Tenho vontade de casar, sim”, revela a mãe de Morena, de 3 anos. “Faria algo diferente do que já existe, do tradicional. Queria uma coisa diferente, na praia”. Rebecca fala também sobre o desejo de ter mais filhos: “A maternidade me transformou em todos os sentidos. Na questão das responsabilidades, de ter forças. Criar um filho não é fácil. Amadureci muito como mulher. Fui mãe aos 18 anos, foi um susto. Mas é maravilhoso. E sempre coloquei na minha cabeça que quero ter dois filhos, um menino e uma menina. Mas é uma coisa mais para frente. Agora quero trabalhar muito”.
Aos 22 anos e com uma carreira em ascensão, a artista nascida no Morro de São João, comunidade do Engenho Novo, bairro do Rio de Janeiro, cresceu sob os cuidados de tios e avós maternos, e desde a infância demostra os dotes artísticos. No samba, mais precisamente na quadra da Escola de Samba Salgueiro, começou aos 10 anos. E logo alcançou o posto de Rainha das Passistas. Mas ela queria mais. Rebecca sempre quis um palco para chamar de seu e viver da carreira no entretenimento, cantando, dançando e dando seu recado entre os batidões.
Foi assim, que desde 2018, ela ficou conhecida do grande público já com o primeiro hit ‘Cai de Boca’, que contou com composição da cantora Ludmilla. E foi emendando mais hits de funk, como ‘Deslizo e Jogo’, ‘Ao Som do 150’, ‘Sento com Talento’ e ‘Coça de Rebecca’. A funkeira vem conquistando muito na música, mas quer experimentar ainda mais. Tanto, que se aventurou este ano com o especial ‘Faixa Preta’, programa exibido no canal Música Multishow, onde recebia semanalmente (remotamente) artistas e influenciadores negros para conversar sobre diversos temas.
E nós, do site HT, queremos saber: aonde você quer chegar? “Quero ganhar prêmios, fazer um álbum e quero ir para a televisão”, determina. “Gostaria de apresentar um programa só meu na televisão, como a ‘Faixa Preta’, por exemplo. Gostaria de receber gente nova, em início de carreira, dar oportunidade. Meu começo foi muito difícil, não me davam credibilidade, porque eu cantava funk ‘proibidão’. As pessoas foram me reconhecendo e fui conquistando as oportunidades”.
E um sonho para agora? “Comprar minha casa. Estou perto disso”.
Assista ao clipe de ‘A Preta é Braba’
https://www.youtube.com/watch?v=3edUH4yz-qM&feature=youtu.be
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