*Por Ana Clara Xavier
Já pensou o que resultaria de uma parceria musical entre França e Brasil? O álbum SIMONE MAZZER & COTONETE pode ilustrar essa comunhão. A cantora e atriz Simone Mazzer ganhou o Prêmio da Música Brasileira 2016 na categoria revelação e é um dos nomes mais interessantes da nova geração de cantoras poderosas brasileiras. Cotonete é uma banda francesa que se autodenomina, ironicamente, a melhor banda de jazz-funk dos anos 70 no século XXI. Apesar de não falar fluentemente o português, o grupo se conecta com os ritmos do país utilizando, às vezes, músicas brasileiras em suas apresentações. Gravado em julho de 2016 em Paris, o CD, que será lançado nos dias 25 e 26 de abril em shows no Sesc Copacabana, Rio de Janeiro, e no dia 4 de maio em São Paulo, chega às plataformas digitais primeiro, mas o disco físico ainda não tem data para sair nas lojas. “Esse projeto é muito diferente do que nós fazemos nas nossas carreiras. Cotonete tem um foco mais instrumental e a minha banda tem outro estilo. Esse trabalho é hibrido e acho isso o maior diferencial em relação as outras composições do mercado. São elementos distintos que conseguem se comunicar bem pela música”, conta Simone Mazzer.
Alvo de censura no Facebook, a ilustração do CD da cantora em parceira com a banda Cotonete já foi bloqueada três vezes desde que foi divulgada pelo simples fato de ter uma mulher nua – em desenho – na capa. “O Thiago Sacramento, que tem um talento para programação visual, ficou responsável pela capa. Ele usou uma amiga minha como inspiração e colocou umas crianças olhando pela janela. A imagem é leve e divertida”, sugere. Nessa segunda-feira, na rede social, Simone pediu que todos compartilhassem a foto por julgar a censura uma estupidez. “A capa é uma representação artística digna de um quadro. Como qualquer arte, está sujeita a interpretações. Sou gorda e já recebi mensagens de mulheres como eu afirmando que se sentiram bem representados. Além disso, pais já me disseram que amaram como o Thiago mostra a inocência e brincadeira de quando se é pequeno”, defende.
Simone acredita que a censura está ocorrendo por hipocrisia das pessoas ao ver uma mulher plus size sendo observada como referência de um álbum. “O Facebook tenta proteger as pessoas de verem conteúdos violentos ou sexuais, mas o filtro é muito precário. Como um trabalho artístico é proibido, mas cenas de esquartejamento não? “, indaga. Ela afirma que chegou a publicar a foto com tarja e, mesmo assim, foi censurada. A ilustração segue um estilo vintage que relembra as pin-up, quebrando os paradigmas dos corpos esculturais das modelos. A cantora afirma que se compara muito com a capa e consegue ser representada nela. Apesar disso, musa é a Isabel Chavarri. Mas tudo tem um lado bom, e, por isso, a cantora se mostra empolgada pela união. “Estou muito feliz que as pessoas já vão poder escutar o nosso som. Foi um trabalho lindo que demorou para decidirmos fazer. Estou tentando reverter essa polêmica ao nosso favor, para que não estrague esse momento”, afirma.
A história de Simone Mazzer com a França é antiga. Visitou o país há cerca de seis anos enquanto trabalhava em uma peça de teatro. “Passei em um teste de canto para uma peça que era produzida por uma companhia francesa, em 2011. Esta empresa montou o espetáculo aqui e depois levou para lá, por quatro meses”, conta. Na ocasião, a cantora conheceu o grupo com quem vai lançar o álbum atualmente. “Logo de cara, resolvemos fazer algo junto. Mas só decidimos fazer o disco quando, no início do ano passado, um amigo em comum veio de férias ao Brasil. Ficamos estudando o repertório até julho, quando eu viajei para lá e gravamos. Tínhamos apenas 13 dias para fazer tudo, porque o CD seria finalizado aqui”, relembra.
Apesar do estilo jazz-funk dos colegas serem um pouco diferente do que está acostumada, ambos se conectaram dentro da arte que produzem gerando o produto que teremos hoje no mercado. “Nossas culturas são muito diversas. Mas, ao mesmo tempo, conseguimos encontrar um ponto em comum na música. Amo a batida deles. É muito dançante! “, reconhece a cantora. Depois de 27 anos de carreira, Simone ganhou seu primeiro título. Venceu o 27º Prêmio da Música Brasileira, na categoria revelação, pelo trabalho ‘Férias erm Videotape’, além de ser indicada na divisão Cantora Pop-Rock. Em seus trabalhos como atriz, já havia sido indicada em celebrações importantes como Prêmio da Associação de Produtores de Teatro (APTR) e Prêmio Shell, em 2009. “Sou grata pelo reconhecimento nacional e internacional. Por causa disto, as pessoas passaram a conhecer o meu nome e saber a qualidade do que faço. É uma forma de me apresentar à sociedade que não me conhece profissionalmente. Muita gente ficou chocada por me chamarem de revelação. Depois de tantos anos, meu trabalho está sendo aplaudido, então mereço esse título também”, rebate.
Dona de uma cultura musical eclética, Simone toca todas as sextas na casa de shows ‘Buraco da Lacraia’. O espaço na Lapa é muito conhecido no meio LGBT. Ela afirma ser apaixonada pelo espaço onde trabalha, mesmo depois de cinco anos. “Alguns amigos meus tocavam lá e me convidaram para fazer um teste. Fui e deu certo. Até que um dia resolvi me juntar à eles com o que eu tinha de material artístico. Fiquei responsável por criar uma espécie de cabaré que iniciaria a noite”, relembra feliz. A cantora diz se sentir conectada ao local e não pensa em mudar de boate porque seus shows ganharam um formato particular. “Não faz sentido me apresentar sem eles e vice-e-versa. Além disso, a infraestrutura de lá é única para as nossas apresentações. A minha função é abrir para a próxima banda entrar. Nas minhas apresentações por aí é muito raro colocar uma música do Buraco, porque o objetivo é diferente”, conta.
Simone afirma que a boate liberta o artista, trazendo o lado mais puro da arte. “Posso fazer o que eu quiser, da forma que quiser. É uma plataforma de experimentação. Ter essa possibilidade hoje é precioso. Só saio de lá quando me mandarem embora”, brinca.
Para quem quiser ver o trabalho em conjunto de Simone e Cotonete, o ingresso custa R$25,00 para ver o palco do Sesc Copacabana ser ocupado por Frank Chatona, no saxofone; Farid Baha, guitarra; Jean Claude Kebaili, baixo; Benoît Giffard, trombone; Paul Bouclier, trompete; Christophe Elliot Touzalin, Trompete; David Georgelet, bateria; Florian Pellissier, teclado; e, claro, a cantora Simone Mazzer.
Leia na íntegra a declaração de Simone na rede social:
Um ser meio amargo denunciou essa ILUSTRAÇÃO como imprópria, e o FB bloqueou todas essas imagens do meu perfil sob pena de excluir minha conta se eu não as retirasse. Pois bem… convoquei alguns amigxs para, junto comigo, repostarmos. Porque? Porque é a capa do meu novo album. Porque a gente rala muuuuuuuito pra fazer algo que a gente acredita ser bom. Porque é uma ilustração linda e leve. Porque é arte. E porque não tem nada a ver ficar censurando isso e deixar exposto pra quem quiser ver cenas brutais de gente maltratando gente, gente maltratando animais, políticos proferindo cada vez mais impropérios na nossa conta… enfim… insisto na imagem. Foi feita com muito trabalho, dedicação e talento por Thiago Sacramento e teve como modelo, a maravilhosa Isabel Chavarri. O álbum é SIMONE MAZZER & COTONETE. Essa semana estará disponível nas plataformas digitais. BORA COMPARTILHAR ESSA CAPA LINDA?! #CensuraéCafona
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