Depois de muita polêmica, o grande dia chegou. Na noite desta terça-feira (28), Gilberto Gil e Caetano Veloso finalmente se apresentaram em Tel Aviv, Israel, dentro da turnê “Dois amigos – Um Século de Música”. A dupla foi bombardeada por alguns pares da cena musical clamando por um cancelamento da data em repúdio aos infindáveis conflitos pela ocupação de territórios palestinos. O ex-baixista e cantor do grupo Pink Floyd, Roger Waters, foi um deles. Ele pediu, em forma de carta aberta: “os aprisionados e os mortos estendem as mãos. Por favor, unam-se a nós cancelando seu show em Israel. De tantas maneiras, vocês são um foco de luz para o resto do mundo”. Após réplicas e tréplicas, Caê e Gil resolveram manter o show e chegaram em Israel cercados de expectativas. HT, que vêm acompanhando o supra sumo dessa turnê, continua de olho.
Na véspera do show, Gil e Caetano voltaram a falar da polêmica ao se encontrarem com Shimon Peres, ex-presidente de Israel, vencedor do Nobel da Paz em 1994. Caê cantou “Gente” e discursou rapidamente. “Parem com a ocupação, parem com a segregação, parem com a opressão”, disse em inglês, emendando na sequência em português para a imprensa presente: “acho inaceitável a ocupação. Mas isso é coisa pequena porque eu sou brasileiro, visitante, músico”. Gil, sempre mais distante da polêmica, preferiu não entrar no mérito. Falou sobre o mar de Tel Aviv comparando-o ao de Salvador (BA) e lembrou que já escreveu até canção para Israel.
Antes do show da Menora Mivtachim, os dois ainda receberam um cartaz do Wome Wage Paeace, um grupo de mulheres árabes e judias que estão jejuando há 50 dias como forma de protesto pelos 50 dias de ataques à Palestina em 2014; e visitaram ocupações palestinas no West Ban, em Susya, território ameaçado de destruição, guiados por Yehuda Shaul, da ONG Breaking The Silence. Lá, encontraram ex-soldados combatentes de Israel para mostrar a realidade do local atualmente. Para a ONG, o militarismo israelense deve ser usado como defesa, e nunca como forma de ataque e opressão ao povo palestino.
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Mais tarde no show, sem protestos e com plateia consideravelmente cheia, as polêmicas políticas deram lugar à música. De “Tropicália” a “Coração Vagabundo”, passando por “Back in Bahia”, Caetano e Gil falaram pouco e nada relacionado aos conflitos, como já era de se esperar.
A “Dois amigos, um século de música” também já passou por Perugia e Codroipo, na Itália, Madri na Espanha, Monte Carlo em Mônaco e Marselha na França. Durante a passagem por território espanhol, aliás, outros pontos altos desse périplo pelo Velho Continente. Caetano Veloso se encontrou com o cineasta espanhol Fernando Trueba durante um jantar armado após a apresentação em Madrid. Fernando, para quem não lembra, é um habitué de Salvador, terra de Caê. Ele conheceu a capital baiana e se apaixonou pelo trabalho musical que é feito na favela do Candeal.
Quase que simultaneamente, Gil reencontrou o amigo Pedro Almodóvar, cineasta espanhol, que já havia prometido assistir ao espetáculo dos dois. Há umas semanas, Almodóvar brincou que não cantaria com a dupla pois sua voz estava prejudicada pelos trabalhos de direção de um novo longa. O encontro, com umas bebidinhas de leve, aconteceu junto ao de Fernando Truba: dobradinha de monstros da sétima arte e dos acordes.
Em tempo, ainda faltam duas apresentações da turnê: no dia 31 em Lisboa, Portugal; e no dia 1º de agosto em Marciac, na França. Olho vivo!
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