Na CAIXA Cultural, “VRUM” mistura dança, artes visuais e a constante preocupação do homem com o caos urbano


Espetáculo criado pelo Coletivo DMV22 já passou pela Europa e por grande parte de São Paulo antes de chegar ao Rio, trazendo também a sua versão infantil, “Vrumvrumzinho”

*Por João Ker

Acaba de chegar ao Rio de Janeiro um dos espetáculos contemporâneos de maior sucesso em São Paulo. “VRUM”que fica na CAIXA Cultural Rio até o próximo domingo (7/9), mistura arte digital, dança, interatividade, tecnologia, música e grafite em um show que convida o público tanto a pensar quanto a participar da ação. Montado pelo Coletivo DMV22 em 2010, “VRUM” já participou do Circuito SESC de Artes em 2011 e ganhou um prêmio de incentivo da Secretaria de Cultura de Munique (Alemanha), o que proporcionou a seus integrantes um giro pela Europa e por São Paulo, antes de aterrizarem na capital fluminense.

(Foto: Divulgação)

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Na performance, os dançarinos interagem com uma trilha sonora crescente e marcante, criada em parceria por Denilson Oliveira e Gabriel Spinosa, ao mesmo tempo em que dialogam corporalmente com o grafite virtual criado por Achiles Luciano. No início, o palco começa bem calmo, submerso no escuro, mas, aos poucos, vão surgindo luzes, cores, formas e barulhos até que a profusão sensorial atinja seu ápice caótico, fornecendo uma ótima analogia da criação do mundo até os modernos tempos do Século XXI. E é exatamente esse o principal aspecto reflexivo do espetáculo: como a correria da vida urbana consegue anular os sentidos.

Mário Lopes, diretor do DMV22 e um dos criadores do espetáculo, comenta que a ideia surgiu quando ele teve seu primeiro contato com o trabalho de Achiles. “Eu tive vontade de entrar na pintura”, conta no camarim, em exclusividade a HT, após a primeira apresentação em solo carioca. “Nós então começamos a investigar o grafite digital e fomos agregando pessoas ao coletivo e ao espetáculo, como a Mônica Burity, a Marina Massoli (ambas dançarinas), o Spinosa e por aí vai…” De acordo com Mário, o espetáculo, como grande parte das performances contemporâneas, está em constante transformação. Tanto que, quatro anos após ter iniciado, eles já conseguiram adaptar a proposta para o público infantil, criando o “Vrumvrumzinho”, que também está em cartaz na CAIXA Cultural.

(Foto: Divulgação)

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“Na verdade, nós criamos  um novo espetáculo”, explica Marina Massoli. “Ao invés da dramaturgia orientadora do ‘VRUM’, “Vrumvrumzinho” é mais concreto, com figuras objetivas. Há desenhos de peixes que saem do mar e voam, árvores, um sol gigante e todo esse universo que dialoga com o infantil. A diferença para outros tipos de performance é que, ao invés de darmos uma ‘moral da história’ no final, nós deixamos as crianças pensarem por elas mesmas, cheguando às suas próprias conclusões, além de permitirmos que elas mesmas interajam com as reproduções no fim.” Mário completa: “Nós mostramos um grande contraste entre figuras presentes no campo e outras da cidade grande, e elas [ as crianças] vão embarcando nessa viagem. Não há aquela preocupação em passar mensagem alguma”.

A grande preocupação do espetáculo é levantar ideias e reflexões sobre o caos urbano e como isso tem influenciado tanto as relações interpessoais como a própria saúde do indivíduo. “Você chega ao estado físico de exaustão, isso influencia no corpo”, comenta Mário. “Eu falo até por mim mesmo. A única hora em que consigo falar com meus filhos é quando eu os levo à escola e, ainda assim, é bem corrido”.  E, apesar de a reflexão ter nascido a partir da muvuca paulista, os artistas concordam que existem alguns pontos similares entre Rio e SP: “O trânsito. As pessoas se tratando mal, se ultrapassando, brigando pelo espaço”, completa. Marina já vê um lado mais positivo da situação: “O Rio também é bagunçado, mas essa brisa e esse horizonte dão uma quietude que São Paulo não tem. Lá, nós precisamos achar a beleza no trajeto, a natureza que nasce do concreto”.

O Coletivo agora se prepara para o lançamento de novos projetos, incluindo outro espetáculo infantil com a temática “Cores do Vento” (não, não tem nada a ver com Pocahontas). E, apesar de acharem que abandonar o caos urbano é uma ideia utópica, eles ainda pretendem continuar com o alerta que começaram em “VRUM”, uma cidade de cada vez.

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Fotos: Divulgação