* Por Junior de Paula, de Nova York
Denzel Washington não é só mais um astro do cinema em cartaz na Broadway, em Nova York, nesta temporada teatral apinhada de rostos conhecidos. Ele é a prova de que se pode – e deve! – conciliar sucesso de bilheteria com qualidade artística também nos palcos em torno da Times Square. Denzel é a principal atração, mas longe de ser a única, da remontagem de “A Raisin in the Sun”, peça escrita por Lorraine Hansberry em 1959 e que volta com força total em 2014, no Barrymore Theatre em curta temporada, até 15 de junho. Apesar de ambientada na década de 1950, característica reafirmada nos cenários, figurinos e nos conflitos vividos por uma família negra – de classe baixa, que se vê às voltas com a possibilidade de uma ligeira ascensão social ao receber as economias deixadas pelo patriarca –, ela toca profundamente em questões que são recorrentes ainda hoje e vai além, ao abordar relações familiares e nos fazer reconhecer naqueles sonhos que povoam os personagens desta história tão delicada.
Com um cheque de dez mil dólares na mão, uma pequena fortuna para época, a mãe, Lena, interpretada com uma força descomunal e, ao mesmo tempo, delicadeza por LaTanya Richardson Jackson decide comprar uma casa em um bairro predominantemente branco – já que era o único lugar que conseguiria realizar o sonho da casa própria –, guardar parte para financiar a escola de medicina de sua filha mais nova Beneatha, defendida com vigor por Anika Noni Rose, e ainda aplicar uma terceira parte, da qual seu filho mais velho, Walther, personagem do sempre correto Denzel Washington, fica responsável.
Responsável, na verdade, não seria a melhor palavra para definir o personagem de Denzel, já que ele aplica a grana em uma furada e acaba perdendo tudo. No meio disso tudo, uma espécie de representante dos moradores do bairro para onde vão se mudar bate à porta da família oferecendo dinheiro para que eles permaneçam onde estão e não “se misturem à vizinhança branca”. Em meio a tantas voltas e reviravoltas, a peça, que tem dois atos, traz à tona questões que envolvem preconceito, luta de classes e conflitos familiares que permanecem quase os mesmos da época em que a peça foi encenada pela primeira vez, há cerca de 50 anos.
Evoluímos? Involuímos? Talvez um pouco dos dois. Mas a única certeza que a gente tem quando sai do teatro é sobre a importância de revisitar os clássicos com certa reverência e embalá-lo com o melhor que temos para oferecer. Denzel Washington e sua turma desta remontagem de 2014 merece, com todas as honras e méritos, os muitos aplausos que recebem ao final do espetáculo. Para reservar o ingresso já!
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
Artigos relacionados