As escolas de samba do Grupo de Acesso A apresentaram nos dois últimos dias desfiles marcantes pautados pela afrocentricidade e que traduziram a preocupação dos carnavalescos em refletir, por meio do maior espetáculo da terra, importantes questões sobre o preconceito étnico-racial e a intolerância religiosa. Agremiações como a Unidos da Ponte, Alegria da Zona Sul, Acadêmicos de Santa Cruz, Porto da Pedra e Cubango, desenvolveram os mais belos enredos dos últimos tempos, chamando a atenção para a importância da preservação identitária do negro e de suas manifestações culturais e religiosas.
No camarote Folia Tropical em que a miscigenação étnica vem sendo celebrada há anos, bem como a brasilidade em toda a sua diversidade, o público se identificou de imediato com o que na passarela do samba se retratava. A integração do que se testemunha na Marquês de Sapucaí com o espaço tem se dado de forma absolutamente natural e, por isso, festiva. A escolha dos nomes que integram o cast de atrações do camarote segue a pauta sempre atual de inclusão e afirmação da pluralidade. Teresa Cristina, Moacyr Luz e o Samba do Trabalhador, bem como Toni Garrido são evidências do quanto a direção do Folia Tropical está engajada no processo de preservação de memória do samba justamente na festa em que o gênero musical é o protagonista absoluto.
O camarote, aliás, dá um belo exemplo prático do que apregoa conceitualmente, ao compor uma azeitada equipe multiétnica. Povos de todos os cinco continentes estão bem representados no corpo funcional que presta serviço no ambiente distribuído em três andares e em 2.500 m² – 500 a mais do que no ano passado -, cujas paredes exibem a arte primorosa e singular do artista goiano Hal Wildson a convite do arquiteto do espaço, Rodrigo Dinelli. “Este ano, a ideia foi trazer algo ainda mais forte e humanizado, que pudesse servir de espelho para reconhecermos e valorizarmos as nossas verdadeiras origens. O Folia Tropical vai representar as faces do Brasil na Sapucaí, com a sua pluralidade de cores, culturas e etnias”, explica Rodrigo Dinelli.
O Folia Tropical é um espaço de exaltação à cultura brasileira, sempre reverenciada à altura de sua grandiosidade. Expressa a alegria de ser e de viver do carioca e do brasileiro, estabelecendo laços agregadores de afeto em meio à maior manifestação popular do Brasil. O Carnaval é um evento essencialmente celebrizante da ancestralidade africana. E o Folia tem cumprido o seu justo papel em impedir o apagamento da importância da África e do legado histórico dos afro-ameríndios no Rio de Janeiro e no Brasil, buscando participar da desconstrução de um processo longo que fortaleceu o que chamamos de supremacia branca na civilização ocidental.
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