Moreno Veloso comenta a parceria com Bem Gil e dispara: “Expor a nossa cultura se tornou indispensável à sobrevivência”


Depois de dirigir o DVD ‘Meu Recôncavo’, projeto que divulga a produção literária de Mabel Velloso através da música de Paulo Costta, o filho de Caetano Veloso comentou ainda a herança histórica e artística, um legado de família: “Eu carrego o meu sobrenome com muita felicidade e orgulho”

Músico e produtor musical, Moreno Veloso parece não sentir sobre os ombros o peso de ser filho de um aclamado gigante da MPB, Caetano Veloso. Desde que gravou o seu primeiro disco, há quase 20 anos, o artista foi, aos poucos, crescendo e se descobrindo nesse terreno tão conhecido por sua família. Hoje, com 46 anos, ele coleciona reverenciadas composições que, na voz de intérpretes como Adriana Calcanhotto e Roberta Sá, espalham a sua mensagem pelos cantos do Brasil. Um desses recados, porém, Moreno fez questão de dar, com toda mansidão e pulso típicos da Bahia, através do seu próprio corpo e talento, durante o show de lançamento do DVD Meu Recôncavo,projeto divulga a produção literária de Mabel Velloso através da música de Paulo Costta. O site HT, tendo presenciado o espetáculo, repassa agora a mensagem do talentoso compositor.

Em Meu Recôncavo, Moreno esteve ao lado de Paulo Costta, homenageando os poemas de sua tia, Mabel Velloso (Foto: Erbs Jr/ Divulgação)

Depois da apresentação que, comandada por Paulo Costta, resgatou e reverenciou os poemas de Mabel Velloso, Moreno comentou sobre a infância em Santo Amaro da Purificação: “Recitar poesias é um ritual da minha família. Todo mundo na casa de minha avó Canô sabe e gosta. Então, isso foi parte da minha criação e pôde ser revivido com esse projeto de uma maneira musical e diferente”. E prosseguiu elogiando o trabalho do parceiro para o álbum Meu Recôncavo: “O Paulo fez algo lindo, colocando ritmo nos versos que a gente já conhecia. É uma nova etapa, um outro desfecho e uma luz diferenciada ao que já era habitual e apreciado por mim”.

Por meio de projetos como esse, Moreno se dedica, sempre que pode, a homenagear o lugar e as pessoas que o criaram. Ainda assim, ele não enxerga a herança musical e histórica que recebeu como uma pesada responsabilidade. “É um privilégio fazer parte da minha família, ser filho dos meus pais, neto dos meus avós, sobrinho dos meus tios e por aí vai. Eu carrego o meu sobrenome com muita felicidade e orgulho”, reforçou.

Para Moreno, fazer arte é a saída para os problemas que ainda assolam o Brasil (Foto: Erbs Jr/ Divulgação)

O compositor, que cresceu convivendo com a rotina musical, em meio a inúmeros instrumentos, tem uma forte opinião sobre a atual cena artística da Bahia: “A música baiana fervilha e os escritores, pintores, fotógrafos e todos mais fazem projetos cada vez melhores. Esse é um fato antigo, pois a Bahia sempre foi um lugar muito bom e pulsante, nesse sentido. Só que agora, no atual contexto político em que estamos inseridos, o Brasil precisa ainda mais de nós, baianos e artistas. Expor a nossa cultura se tornou indispensável à sobrevivência”.

Segundo Moreno, a solução para os problemas e desigualdades ainda marcantes e, possivelmente fatais, em toda a sociedade brasileira, encontra-se justamente na arte. “A Bahia está explodindo com força total e estamos prontos para encarar, com as nossas obras, músicas, poesias e danças, qualquer inimigo comum. Muitas pessoas não suportam a nossa arte e, por isso, não podemos parar de falar, cantar, recitar e demonstrar a cultura que corre em nossas veias. Poesia é exatamente o que temos que fazer agora”, disparou.

Filho de Caetano Veloso e sobrinho de Maria Bethânia, ele sente orgulho do sobrenome (Foto: Erbs Jr/ Divulgação)

Assim, mantendo a coerência com os seus pensamentos e ideais, Moreno segue ativo, trabalhando em atuais e futuros projetos. Além de ter dirigido o Meu Recôncavo, o músico conseguiu mais uma incrível parceria. Fazendo questão de marcar os seus passos ao lado das pegadas do pai, ele esbarrou em um talentoso artista, filho de um outro gigante da música popular brasileira. “Eu e o Bem Gil [filho de Gilberto Gil] estamos trabalhando com um show de músicas nossas e, basicamente, inéditas. É um teste para alguns dos futuros trabalhos que temos em mente”, explicou. As apresentações, que começaram no início de 2019, demonstram bem como os dois encontraram os seus próprios lugares na cena carioca, sem perder a conexão com suas origens.

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Com sessões do show ocorrendo hoje, em São Paulo, e no sábado (23/2), Moreno contou mais sobre um dos objetivos do projeto: “Estou planejando um disco novo e o Bem está me ajudando nessa tarefa de lapidar e sentir as músicas no palco, que é um lugar especial. Eu e ele estamos preparando e pensando em álbuns individuais para as nossas carreiras”. Para a alegria dos tantas fãs e admiradores, Moreno concluiu dando ainda mais detalhes: “Começaremos a gravar a partir de julho. Estou me organizando com os meus amigos e parceiros, pois quero que todos participem. Eu só funciono em grupo, sabe? Estar sozinho é muito ruim. Por isso, vocês podem aguardar muita gente boa nesse disco comigo”.

No show de Moreno e Bem Gil, os músicos cantam algumas parcerias gravadas com os pais (Foto: Rogério Von Krüger/ Divulgação Teatro Ipanema)