Monobloco 2.0: ‘Espero que todos se inspirem no acolhimento à diversidade não só no carnaval’, diz Pedro Luís


O vigésimo encontro de carnaval com o Monobloco está marcado para domingo, no Centro do Rio. O fundador e vocalista também comentou sobre os hits musicais que saem de cena rapidamente: “É uma questão de construção de carreira. Se não houver um trabalho de elaboração da imagem e do discurso do grupo ou do cantor, da cantora, não vai para frente. Normalmente, o que se vê é a ânsia pelo lançamento de um grande sucesso, sem ao menos pensar qual a linha que o artista quer seguir. É uma inversão perigosa na carreira de qualquer pessoa”, afirma

*Por Felipe Rebouças

No vigésimo ano do tradicionalíssimo desfile do Monobloco que marca o encerramento do carnaval carioca, o vocalista Pedro Luís conta ao site Heloisa Tolipan a expectativa para o domingo, dia 1º de março. Após rodar cinco cidades entre o pré-Carnaval e o Carnaval de fato (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Natal), o grupo retorna à cidade de origem para promover os últimos momentos de folia ao mar de gente que costuma preencher toda extensão das avenidas 1º de Março e Presidente Antonio Carlos. “Venham todos na paz, porque faremos o desfecho do carnaval do Rio com muito amor e alegria, para abastecer as pessoas com energia e força para enfrentar mais um ano duro que vem pela frente”, afirma Pedro Luís. O organizador ainda informou que o desfile deste ano homenageará a memória do músico do grupo, Chico Oliveira, de 33 anos, vítima de um vazamento de gás no mês passado.

“Gente falando com gente, ao vivo, formando uma rede analógica”. É nessa fórmula simples, porém intensa, que o Monobloco aposta para seguir animando multidões por onde passa após duas décadas. Criado em 2000 como oficina de batuque desfilada do Leblon a Ipanema, o grupo atraiu, em menos de dez anos depois, quase meio milhão de pessoas ao Centro do Rio. Rapidamente se notabilizou como um dos principais grupos carnavalescos da cena brasileira e trouxe à tona um jeito diferente de fazer folia. “Inovamos ao aproximar as diversas linguagens do Carnaval, como o ritmo das escolas de samba e a música popular brasileira”, conta o fundador e vocalista do grupo, Pedro Luís.

Monobloco arrastando a milhares de foliões no Centro do Rio, em 2015. (Instagram)

A bateria, formada, hoje, majoritariamente por mulheres, é o maior orgulho e motivo da existência do grupo. “Começamos por eles [ritmistas] e para eles. É muito prazeroso ver como o Monobloco se transformou, com base em um desejo pedagógico agregador, num movimento capaz de formar novos batuqueiros, proporcionar novos horizontes”, comenta. “Muitos mudam de cidade, conhecem novas pessoas, amigos, até refazem suas vidas do zero graças a nova oportunidade que oferecemos através da música”, ressalta.

“Começamos por eles [ritmistas] e para eles. É muito prazeroso ver como o Monobloco se transformou, com base em um desejo pedagógico agregador, num movimento capaz de formar novos batuqueiros, proporcionar novos horizontes”. (Instagram)

Neste carnaval, além do vigésimo desfile no Rio de Janeiro, marcado para este domingo, o grupo fez o quinto ano em São Paulo e o quarto em Belo Horizonte. “São carnavais distintos entre si, mas ambos prazerosos de fazer e muito ricos em suas características. São Paulo apresentou um crescimento enorme nos últimos anos, pautado, como de costume, no profissionalismo e na organização, trazendo também potencial criativo muito forte. Já Belo Horizonte se orgulha muito do seu caráter espontâneo e tradicional. É um carnaval que não depende tanto das estruturas e aportes convencionais de Rio e São Paulo, mas carrega uma cultura popular bem marcante”, explica.

Apresentação do Monobloco no Parque Ibirapuera, em São Paulo, no fim de semana de pré-Carnaval. (Instagram)

 

Desfile em Belo Horizente, na terça-feira de Carnaval, levantando a massa. (uaicarnaval)

Segundo o vocalista, o que não muda é o traço crítico e resiliente das manifestações durante o Carnaval. “Essa época serve justamente para isso [fazer protestos]. É quando a população ocupa as vias públicas e mostra de quem é aquele espaço. Vivemos um momento de muita intolerância e dificuldade financeira, é normal que vejamos cartazes, fantasias e performances nesse sentido”, declara. “O Carnaval é a época do ano onde todas as diferenças cabem num só bloco. Espero que as pessoas se inspirem nisso”, conclui.

“O Carnaval é a época do ano onde todas as diferenças cabem num só bloco. Espero que as pessoas se inspirem nisso”, afirma Pedro Luís, na foto acima. (Taty Larrubia)

Single ‘Esse Meu Bloco’

Na sexta-feira de Carnaval, o Monobloco lançou o single ‘Esse Meu Bloco’, canção de autoria do engenheiro de áudio Zé Kid, que acompanha o grupo há muitos anos. “A cada ano que passa, vamos mudando e atualizando a letra. Na gravação do single, mudamos para ‘são 20 anos de felicidade’”, completa C. A. Ferrari, músico, professor das oficinas e também fundador do Monobloco. Com belas imagens de drone, o clipe mescla cenas de apresentações do Monobloco no Centro do Rio e no Aterro do Flamengo com as belezas naturais da cidade. É imperdível!

Burocracia da Prefeitura

Questionado sobre os eventuais empecilhos e burocracias criados pela Prefeitura do Rio para pôr o bloco na rua este ano, o vocalista disse que isso não foi problema para o grupo, que já está na estrada há muitos anos. “É normal que a galera que está começando agora tenha mais problemas nesse sentido, mas é uma questão de bagagem e aprender qual é o caminho das pedras. No início também tivemos problemas para lançar o bloco, mas depois de uns anos nos acostumados com toda papelada necessária, nossa organização cuida bem disso”, afirma.

Efemeridade musical na atualidade

Ao mencionar, durante a entrevista, os novos talentos da música brasileira, e a forma como a maioria costuma sair dos holofotes após o lançamento de um hit, Pedro Luís comenta que se trata de uma tendência atual no mundo da música, “infelizmente”. “É uma questão de construção de carreira. Se não houver um trabalho de elaboração da imagem e do discurso do grupo ou do cantor, da cantora, não vai para frente”, opina.

“Normalmente o que se vê atualmente é a ânsia pelo lançamento de um grande sucesso, sem ao menos pensar qual a linha que o artista quer seguir. É uma inversão perigosa na carreira de qualquer pessoa”, afirma.