* Por Junior de Paula
Até a audiência registrada pelo segundo programa da terceira temporada do “The Voice”, que foi ao ar nessa quinta-feira (25/9), foi melhor do que se viu na semana passada. Com picos de 31 pontos de audiência no Rio, ele foi o segundo programa mais visto da grade da TV Globo, só perdendo para “Império”, que marcou 37 pontos. Bom? Não, ótimo, principalmente quando se sabe que a emissora dos Marinho vem patinando na audiência há algum tempo. Mas o tema aqui não são os números do Ibope, portanto, voltemos ao que interessa.
Está tudo no seu devido lugar neste The Voice Brasil que reestreou na semana passada: a competência técnica da emissora, reproduzindo com excelência o cenário do programa gringo, a edição bem cuidada, com depoimentos importantes dos candidatos e histórias bem contadas, um apresentador carismático que sabe o que está fazendo, os quatro jurados que representam a diversidade musical do país, o Twitter em polvorosa na cobertura em tempo real. Tudo ok. Mas alguma coisa fica faltando…
Depois do primeiro programa, uma dúvida paira sobre a minha cabeça: qual a dificuldade de encontrar talentos expressivos em um universo de 200 milhões de brasileiros? Por que os reality shows musicais norte-americanos são tão superiores em conteúdo musical, em constância vocal e identidade artística dos candidatos, enquanto aqui o que se percebe é um grande número de covers, cantores com carisma de animadores de churrascaria e poucos talentos com potencial de se tornarem relevantes no mercado?
A resposta eu não encontrei, principalmente porque muitos dos melhores candidatos do primeiro programa são sobras de outro reality musical, o “Ídolos”, da Rede Record. Não contente em não achar nada de muito novo, o The Voice Brasil ainda requenta talentos que já tiveram seus momentos de exposição e não chegaram a lugar nenhum. Chegar a algum lugar, é claro, é relativo. Aqui não estou dizendo que ser relevante é vender muitos discos, encher o bolso e lotar estádios. Muito pelo contrário, a relevância que se espera de um candidato que não tem nada a perder num programa de calouros é, pelo menos, que ele se arrisque.
Mas não é isso o que vemos. Vemos um que acha que é Alexandre Pires, outra que jura que está fazendo igual a Cássia Eller e ainda as duplas sertanejas que só se preocupam em fazer algo parecido com o que já vimos ad eternum nesta seara. O sopro de originalidade vem de onde menos se espera. Como a transformista Deena Davis que, além ser tipo pouco comum na televisão, tem ótima voz, por exemplo. No segundo programa, exibido nessa quinta-feira, o nível foi bem superior ao primeiro, com bons candidatos, diversos entre si e com vontade de trazer algo além do karaokê.
Foi uma boa segunda estreia, com os jurados cheios de vontade de lutar pelos talentos e uma performance arrebatadora de Claudia Leitte ao final do programa, se jogando sem medo no blues – e no chão – provando definitivamente que é mais do que um rostinho bonito que canta axé e faz todo mundo pular. Tem ali uma artista com vontade de mostrar que tem algo novo, mesmo com tantos anos de carreira. E não é pra isso que servem os artistas?
*Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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